Olívia - Capítulo 6

2.8K 441 247
                                    

Quando o interfone toca, sei que o moço do Cão-de-Mel chegou para entregar o Floriano do banho. Até arrisco pedir para minha mãe descer e buscá-lo, mas o "o cachorro é seu, cuida você" que ela grita de dentro do seu quarto é suficiente para que eu nem tente argumentar que ele é da Quimm.

Na portaria, percebo que Welton está com Floriano do lado de lá da rua e aceno para que eles venham até mim.

Floriano caminha atrás do entregador de cães, protestando cada segundo. Ele reluta em relação a atravessar a rua, como se alguma coisa o atraísse para a outra calçada. Quando recebo sua coleira em minha mão, faço carinho em seu pelo macio.

Meu cachorro mal me olha.

"Oi, Flori, como você tá cheiroso!", comento com um sorriso no rosto.

Ele não parece se importar comigo, apenas late, desce o peito até quase encostar no chão e empina as patas de trás, agressivo.

"Flori, lindo, tudo isso é malcriação porque eu que desci e não a Quimm? ", brinco, mesmo sabendo que é exatamente este o motivo de sua revolta "Ela saiu para comprar comida, mas daqui a pouco volta para casa".

Welton me olha desconfiado, porque é meio estranho quando seu próprio cachorro não gosta de você. Em minha defesa, ele é da Cecilia, não meu. Nunca foi meu.

Entrego uma nota de cinco reais de caixinha, ele sorri agradecido (optando por ignorar qualquer julgamento pela minha falta de tato) e vai embora.

Solto a coleira do schnauzer porque pagamos uma fortuna e meia para adestrá-lo, e agora ele é totalmente capaz de andar ao meu lado (na rua, na entrada do prédio, onde quer que seja) sem fugir ou se atirar na frente algum carro.

"Vamos pra casa, Floriano, a Quimm te encontra depois", incentivo com meu melhor tom de empolgação e boa vontade.

Em vez de me seguir, corre em direção ao portão de entrada do prédio, fica de pé com as patas apoiadas nas grades e continua a latir.

"Floriano! " repreendo. "Você não é assim." Apoio a mão meu seu peito e o puxo em direção ao prédio. "Olha que se você continuar com essa birra boba, vou te pegar no colo e sei como você odeia este tipo de troca de afeto".

Faço carinho em sua cabeça, passeio com minhas mãos pelo seu corpo e resisto ao impulso de pegá-lo.

Dou risada sozinha, mas sei que dentro daquele cérebro maligno, ele está apavorado com a minha ameaça. Existem poucas coisas que ele odeia mais do que o meu amor.

Floriano possivelmente morderia meu nariz até arrancá-lo fora.

No final das contas, sou forçada a colocar a coleira de volta em seu pescoço e puxá-lo para dentro do prédio.

Quando fecho a porta de casa, Floriano começa a arranhá-la com as patinhas frenéticas.

"Ei, você não vai conseguir abrir um buraco e sair daqui, fica de boa!" peço, meu tom de voz soando menos amigável do que a princípio.

O cachorro me olha por poucos instantes e é impossível ignorar que tem algum de estranho com ele. Provavelmente está traumatizado por causa da tosa. Ele odeia o barulho das maquinhas.

Não faz sentido discutir a relação com meu schnauzer, então corro para o banheiro. Outro banho é tudo que preciso para tirar o peso da discussão com Murilo dos meus ombros. Não existe nada mais terapêutico do que água gelada escorrendo pela minha pele quente e suada de março.

Na hora de pendurar a toalha no varal, o chão da área de serviço está seco.

Floriano, pela primeira vez em dois anos, não tentou me matar.

Brioche? (SUSPENSO :(  )Onde as histórias ganham vida. Descobre agora