16. A Promessa

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          Era com efeito Morrel, que não vivia mais desde a véspera. Com o instinto típico dos amantes e das mães, adivinhara que, na esteira do retorno da sra. de Saint-Méran e da morte do marquês, aconteceria alguma coisa na casa dos Villefort que envolveria seu amor por Valentine.

          Como sabemos, seus pressentimentos concretizaram-se, e não era mais uma simples preocupação que o deixava tão ensimesmado e trêmulo junto à cerca das castanheiras.

          Porém, Valentine não fora avisada da presença de Morrel, não era a hora em que ele vinha habitualmente, e foi um puro acaso, ou, caso prefiram, um feliz sortilégio, que a impeliu para o jardim. Quando ela apareceu, Morrel a chamou; ela correu para a cerca.

          — Você, a esta hora! — exclamou Valentine.

          — Sim, minha pobre querida — respondeu Morrel —, venho buscar e trazer más notícias.

          — Então esta é a casa da dor — disse Valentine. — Fale, Maximilien. Mas, a bem da verdade, a soma dos sofrimentos já é mais que suficiente.

          — Querida Valentine — disse Morrel, tentando recobrar-se de sua própria emoção para falar apropriadamente —, ouça bem, por favor, pois tudo que vou lhe dizer é solene. Quando pretendem casá-la?

          — Escute — disse, por sua vez, Valentine —, não quero lhe esconder nada, Maximilien. Esta manhã falaram sobre o meu casamento, e minha avó, com quem eu contava como um apoio garantido, não apenas declarou-se a favor do casamento, como o deseja a tal ponto que apenas o atraso do sr. d'Épinay o retarda, e no dia seguinte à sua chegada o contrato será assinado.

          Um suspiro doloroso abriu o peito do rapaz. Ele fitou longa e tristemente a moça.

          — Ai de mim! — ele murmurou. — É terrível ouvir a mulher a quem se ama dizer, tranquilamente: "O momento do seu suplício está marcado: será daqui a algumas horas; mas, não importa, tem que ser assim, e da minha parte não farei nenhuma objeção." Pois bem! Se você me diz que esperam apenas o sr. d'Épinay para assinar o contrato, se você pertencerá a ele no dia seguinte à sua chegada, amanhã mesmo estará comprometida com o sr. d'Épinay, pois ele chegou a Paris no início do dia de hoje.

          Valentine deixou escapar um grito.

          — Eu estava na casa do conde de Monte Cristo, uma hora atrás — disse Morrel. — Comentávamos, sobre o sofrimento da família Villefort e eu o seu sofrimento, quando de repente um coche deslizou no pátio. Ouça. Até então eu não acreditava em pressentimentos, Valentine, mas agora preciso acreditar. Ao som desse coche, fiquei arrepiado; não demorei a ouvir passos na escada. Os passos reverberantes do comendador não aterrorizaram tanto Don Juan¹  quanto esses passos a mim. Finalmente a porta se abre; Albert de Morcerf entra na frente, e eu estava prestes a desconfiar de mim mesmo, a achar que estava enganado, quando atrás dele avança outro rapaz, e o conde exclama: "Ah! Sr. barão Franz d'Épinay!" Recorri a tudo que tenho de força e de coragem no meu coração para me conter. Talvez tenha empalidecido, quem sabe tremido, mas com certeza mantive o sorriso nos lábios. Porém, cinco minutos depois, saí sem ter ouvido uma palavra do que se disse durante aqueles cinco minutos; fiquei aniquilado.

          — Pobre Maximilien! — murmurou Valentine.

          — Isso, quanto a mim, Valentine. Vamos, agora me responda, como a um homem cuja vida ou morte depende de sua resposta. Que pretende fazer?

          Valentine abaixou a cabeça; estava arrasada.

          — Escute — disse Morrel —, esta não é a primeira vez que você reflete na situação a que chegamos. Ela é grave, é opressiva, suprema. Não penso que este seja o momento para se entregar a uma aflição estéril; isso é bom para os inclinados a se remoer por dentro e a beber lágrimas copiosas. Gente assim existe, e Deus provavelmente levará em conta essa resignação na Terra; mas qualquer um disposto a lutar não perde esse tempo precioso e devolve imediatamente ao destino o golpe que acaba de receber. Está disposta a lutar contra o destino, Valentine? Fale, pois é isso que venho perguntar.

O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas (Clássicos Zahar)Where stories live. Discover now