Parte 2

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— Entre Agenor, esta porta sempre lhe será aberta meu jovem e sempre será bem-vindo! — respondeu o senhor puxando Sandra para o lado para que ele pudesse entrar. — Olhe para você! Está um homem feito!

Um rapaz alto e robusto adentrou a sala, sua pele cor de ébano reluzia a luz da lamparina, o cabelo negro lhe caia aos ombros e aqueles olhos misteriosos fitaram todo o lugar. Pensei que ele iria me reconhecer, mas não me deu muita atenção, em lugar disso, seus lábios grossos se abriram em um sorriso maroto e ele começou a falar de forma alegre me fazendo relembrar o garoto das antigas, aquele que brincava com Sandra de embalar bonecas.

Ele foi convidado a se sentar e começou a contar todas as aventuras que viveu nos anos em que esteve fora estudando, voltava advogado e completamente agradecido ao senhor, pois ele era um homem bom. Homens de sua cor, dizia Agenor, estavam condenados a uma vida de servidão, mas graças a ele o seu futuro era promissor.

Foi uma alegria, o senhor há muito tempo não conversava tanto e se alegrava daquela forma, Sandra observava os dois emudecida, apenas admirando o seu velho companheiro como se não acreditasse nas incríveis mudanças realizadas pelo tempo.

Quando o relógio bateu meia noite, o senhor se levantou e convidou Agenor a acompanhá-lo, iria lhe mostrar o quarto em que iria dormir e sem delongas os dois se retiraram da sala. Sandra ficou sozinha no cômodo e ao perceber que os dois já estavam longe se jogou no sofá como se estivesse se sentindo sufocada, botou as mãos na testa e fechou os olhos suspirando fundo.

— Meu Deus... Como Agenor está lindo... Meu Deus, ainda é o meu Agenor... Eu o amo, eu ainda o amo! — Eu fui o único a testemunhar sua confissão feita em sussurros e parecendo assustada com a própria descoberta, Sandra botou as mãos na boca e em seguida saiu correndo.

O clima na casa ficou muito diferente depois que ele retornou, todos pareciam revigorados com a presença do jovem Agenor que voltara educado, culto e um ótimo contador de piadas. De manhã ele saia com o senhor, andavam pela propriedade, faziam planos para que os negócios pudessem progredir e a tarde sempre vinha tomar o chá com Sandra. Ele tentava conversar com ela sobre os mais diferenciados assuntos, mas ela parecia resistir a ele com certo acanhamento que o deixava bastante intrigado. O que Agenor não percebia é que apesar das suas atitudes, Sandra o olhava de maneira apaixonada enquanto ele lhe contava suas histórias e saia completamente furiosa quando começava a falar de seus namoricos.

Sandra começou, então, a desenvolver hábitos noturnos bastante curiosos. No começo ela vinha até a sala, acendia a lamparina e ficava durante horas sentada, pensativa e depois, na maioria das vezes, ia embora com lágrimas nos olhos. Com o passar dos dias ela começou a andar de um lado para o outro, sempre inquieta, às vezes sorria, às vezes chorava, eu já estava crente que minha jovem estava enlouquecendo.

Uma noite em que Sandra aparentava certa calmaria, como de costume, estava sentada no sofá com a camisola aberta, pois estava fazendo bastante calor, virava de um lado, depois para o outro, colocava as mãos na cabeça e repetia tudo de novo, eu já estava acostumado com a nova rotina de minha querida, mas ele não. Agenor entrou na sala silenciosamente e ela estava com os olhos fechados passando as mãos na testa e descendo até o busto constantemente, ele de certo achou que ela estava passando mal e logo se aproximou perguntando se estava bem. Sandra levou um grande susto e levantou-se de um salto fechando a camisola, deu-lhe as costas e ralhou com ele pedindo que a deixasse em paz.

Agenor pareceu achar graça daquilo e esboçando uma expressão malandra aproximou-se dela e a abraçou, começando a sussurrar no seu ouvido:

— Eu não tive a oportunidade de lhe falar assim desde que voltei... — Ele pegou nas mãos dela as segurando forte. — Oh, Sandra, não teve um dia em que estive fora em que não pensei em você... Está linda, linda...

Por Entre as CoresWhere stories live. Discover now