Capítulo Único

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Orgulho era algo caraterístico de Enoch, embora não seja fácil de admitir para si mesmo. Ele desconfiava de que não poderia abandonar o tão famoso pecado capital para salvar uma vida, e não poderia dizer que ter tal informação era gratificante, de alguma forma.

Estava extremamente frio naquela noite, e o abrigo improvisado de Fiona era quase igual a nada, considerando que havia o trabalho de manter dez crianças mais a Srta. Peregrine, presa em sua forma de ave, longe da chuva. Enoch viu Bronwyn colocar Claire e Olive debaixo de seus braços fortes, aquecendo as duas menores do grupo com uma expressão protetora. Hugh e Fiona estavam enroscados um no outro do outro lado, muito focados em seu próprio mundo para perceber qualquer outra coisa, embora o garoto já esteja adormecido; e Jacob e Emma faziam o mesmo após um tempo. Millard estava deitado em algum lugar, o que fazia restar Horace, que se sentava de costas para Enoch, de braços cruzados e tremendo.

O esperado era de que os dois esquecessem suas personalidades orgulhosas por um breve segundo e se aconcheguem nos braços um do outro, vendo que Enoch tremia tanto quanto o garoto. Por um minuto, a peculiaridade de Emma era o que ele mais desejava, embora tenha decidido manter esse desejo um segredo.

A noite tinha um ambiente sereno, o único barulho sendo o ruído das folhas das árvores e dos suspiros sonolentos vindos das crianças que já haviam adormecido. Enoch tinha o olhar focado em um ponto aleatório a frente, e sua impossibilidade de dormir enquanto congelava lentamente o fez criar os mais diversos planos do que poderia fazer á seguir. Tinha a opção de virar-se para Horace e propor algo que beneficiaria os dois, ou poderia ficar acordado até amanhecer e o sol esquentar um pouco a terra, e então, talvez ele tenha alguns minutos de sono e conforto.

E era claro que Enoch iria com a última opção.

O problema estava tão longe quanto perto de Horace, mas ainda era confuso em sua mente e Enoch se recusava em pensar mais á fundo sobre isso, mesmo que as ideias estivessem dentro de sua cabeça e ninguém mais poderia ver além de si mesmo. Ainda assim, era um pensamento assustador, até mesmo para ele.

Enoch sentia a vibração do corpo de Horace contra o seu, e não era a melhor coisa para confortá-lo e afastar os pensamentos que insistiam em vir á tona, mas ele conseguia manter-se forte por aquele tempo indeterminado. Embora, ele havia visto Jacob e Emma, por fim, adormecerem, o que restava Horace e ele com os olhos arregalados e os lábios tremendo além de adquirirem uma coloração arroxeada.

Ao pensar sobre sua atual situação, Enoch imaginou se Horace não sentia medo de adormecer para mais uma premonição terrível sobre como qualquer um de seus amigos poderia morrer no dia seguinte. Não era algo que Enoch sentia com frequência, mas a simpatia por Horace acabou o vencendo a entreter á si mesmo e ao amigo pelo tempo que esperavam pelo melhor.

― Por que ainda está acordado? ― Enoch questionou, a voz soando fraca pelo frio que sentia e mais rude do que ele intencionava. Vapor saía entre seus lábios enquanto ele falava, e aquele era um bom sinal.

― Por que você está acordado? ― rebateu Horace, abraçando seu próprio corpo em uma falha tentativa de se aquecer.

― Da última vez que chequei, dormir seria como assinar uma declaração de óbito. ― respondeu, revirando os olhos em um ato petulante. ― E vir aqui foi a pior ideia do mundo. Acho que faria algo fora de minha personalidade se sobrevivermos até amanhã.

― Acredite, sobrevivemos. Quero ver você beijando uma das abelhas do Hugh, só para constar.

Enoch permitiu-se arquear o canto dos lábios, certo de que ninguém poderia ver. Eles mantiveram um silêncio por mais um tempo, os dentes batendo enquanto tremiam quietos e, de certa forma, teimosamente. Ambos ainda tinham um ao outro como último recurso embora se recusassem á conhece-lo.

a fire in a flask to keep us warm ✧ enoraceWhere stories live. Discover now