Parte 01: Berro (de novo)

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Gente, eu postei a parte um hoje (dia 3) cedinho, mas pelo jeito muita gente não tá conseguindo ver!!! Aqui vai um repost então! Perdão pelo inconveniente e pelo respost estar sem os gifs (estou fazendo do celular. Amanhã adiciono de novo!!!). Obrigada pelos berros nos comentários e  espero que agora dê tudo certo.
É nisso que dá escrever sobre bruxas!
Beijos e até mais!

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Eu sabia que não deveria ter saído de casa.

Nunca fui uma pessoa muito sortuda, sabe? Na verdade, muito pelo contrário: sempre pareci um imã de coisas ruins. Era como se eu tivesse minha própria nuvem preta em cima da minha cabeça, o tempo todo. Provavelmente era genético. Minha mãe parecia ter exatamente o mesmo azar que eu tinha. Tudo que ela mexia acabava quebrando, queimando ou estragando. Nossa casa já quase pegara fogo pelo menos umas três vezes.

Ela deveria ter se compadecido quando eu pedi para não ir para minha aula de inglês naquele sábado. Por ser tão azarada quanto eu, ela deveria ter entendido que provavelmente era uma ideia ruim deixar a filha sair no Dia Das Bruxas. Ela nunca tinha ouvido a sabedoria popular dizendo que as bruxas ficavam soltas nesse dia?

Pelo menos não tinha caído em um dia de semana. Essa já era uma pequena vitória. Pelo menos ninguém na minha escola corria o risco de rolar os quatro lances de escada novamente porque alguém acidentalmente tropeçou e empurrou uma pessoa. Não que isso já tenha acontecido antes. Não mais de uma vez, pelo menos.

O meu azar veio de fábrica, é claro, mas foi agravado no meu aniversário de 11 anos. Eu quebrei um espelho nesse dia. Não foi totalmente culpa minha, para ser bem sincera. Era minha festa. A comemoração foi numa casa de festas que, logo na entrada, tinha um espelho enorme. Um menino idiota resolveu brincar de jogar bola bem na frente dele. Ele nem era um dos meus amigos. Provavelmente era irmão de algum colega meu ou filho de algum amigo dos meus pais. Eu, já ciente do meu azar, resolvi interferir. Se ele quebrasse um espelho no dia do meu aniversário, será que o azar vinha para mim? Enfim, sei que tentei impedir. Gritei para que ele parasse. Assustado com meu berro, o garoto chutou a bola. Pimba. Acertou exatamente em mim. Com tanta força que me empurrou para trás. Pimba. Direto no espelho. Ele ruiu atrás de mim em segundos. O garoto saiu correndo e eu comecei a chorar.

Pelo menos os sete anos de azar já estavam acabando e eu poderia voltar a ter apenas meu azar de nascença. Já estava perto dos dezoito anos e contando os dias para liberdade. Desde o espelho, fiquei extra cautelosa. Não podia dar brecha para o azar piorar. Ele já era ruim o bastante.

Estava andando com toda minha cautela pela rua, voltando para casa depois da aula. Tinha dado tudo certo pela manhã. Eu fiquei o mais quieta que pude durante toda aula, escondida atrás do livro para que o professor não quisesse me perguntar nada. O assunto da aula era, como eu esperava, Halloween. Para piorar a turma ainda ficou discutindo um monte de histórias macabras que envolviam gatos pretos, rachaduras e sapatos virados para cima. Basicamente, coisas ruins que aconteciam quando você não era supersticioso.

Gatos pretos eram o pior. Como se não bastasse o simbolismo, eu ainda era alérgica.

Tem um outro ditado por aí que diz que é sempre seu pior medo que acaba se concretizando. Só isso poderia explicar o que aconteceu. Eu estava andando com todo cuidado, pulando todas as rachaduras da rua (sério). Já estava perto da hora do almoço, então o sol estava a pino. Se você não estivesse ciente de que data era, poderia até acreditar que era um lindo dia de primavera. Só que não. Eu me distraí só por um segundo olhando o céu, sinceramente. Quando voltei a olhar para frente, dei de cara com ele.

Com um gato preto.

Não, ele não estava passando na minha frente. Mas ele estava lá, sentado na beirada do muro da casa, olhando para mim como se eu fosse sua próxima presa.

Gato PretoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora