Capítulo 1

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Londres – outono de 1872

A cidade estava linda, toda iluminada. As folhas secas das árvores cobriam as calçadas. Com a chegada das fábricas, Londres se transformava a cada dia, renovando-se, dando às pessoas que caminhavam nas ruas um novo fôlego. A era que se iniciara trazia prosperidade e os habitantes sentiam-se felizes e seguros. Tolos, mal sabiam os perigos que os rondavam, escondidos nas sombras ou em plena luz do dia.

Graças à cultura que tornara as pessoas reservadas, Londres era um belo lugar para viver quando se tinha segredos a esconder.

Sentado na cadeira de um pequeno café na movimentada e recente estação de trem Vitória. Aron observava o vai e vem de pessoas chegando e partindo. O lugar estava repleto de barulho, do falatório das pessoas e dos trens movidos a vapor. Ele riu, como se toda aquela pressa que tinham de chegar a algum lugar fosse engraçada. No entanto, surpreendeu-se ao pegar o relógio de bolso em seu casaco e notar que também estava preocupado com o tempo.

Ela estava atrasada. Mas não deveria se importar, pois tinha pouco menos do que a eternidade pela frente. Ainda assim, sentiu-se angustiado. Cortejava a moça há alguns dias e haviam combinado um local público para o encontro. Porém, arrependeu-se por não ter sido mais enfático e tê-la convencido a irem a um lugar mais reservado.

Logo uma moça apareceu no horizonte. Ela era pequena e delicada. Aron riu quando a jovem esbarrou em uma velhinha que carregava malas pesadas. Como os humanos eram desastrados.

A saia bufante e cheia de camadas dela só atrapalhava ainda mais os seus movimentos. O vestido que usava era de um tom púrpura vibrante, com uma sobressaia creme, e o espartilho parecia extremamente apertado. As mangas do vestido eram longas. Os cabelos loiros dela estavam presos em um coque no alto da cabeça e seus olhos azuis gentis se sobressaíam na pele ligeiramente rosada pela vergonha. Logo ela viu Aron e tentou não correr desesperada em sua direção, só tentou.

– Olá. – Sorriu ao ficar ainda mais corada quando finalmente chegou diante dele. – Desculpe, estou atrasada.

– Não tem problema. Tudo bem. – Aron tirou seu chapéu e o colocou sobre a mesa, antes de levantar-se e puxar uma cadeira para a jovem.

– Obrigada. – Ela sorriu ao encará-lo.

Era quase um pecado ele ser tão bonito, pensou. Era uma mulher de muita sorte por ter aquele nobre cortejando-a. Observou-o por alguns segundos. Ele tinha cabelos negros, curtos e os olhos de um tom azul esbranquiçado. Ela já tinha por volta dos dezoito anos, sentia que já estava ficando velha e não queria se casar com o homem nojento a quem seu pai a prometera em casamento. Aquele belo e nobre cavaleiro sentado à sua frente lhe parecia um pretendente bem mais à sua altura.

Um garçom veio até a mesa onde o casal se sentava e serviu à jovem uma xícara de chá.

– Tomei a liberdade de pedir algo para que a senhorita bebesse. – Aron fitou os olhos dela. Pobre garota, era tão inocente.

– Ah, obrigada. – Emily tirou as luvas de renda que lhe cobriam as mãos delicadas, antes de pegar a xícara. – O senhor é tão atencioso.

– Por favor. – Ele tocou gentilmente a mão livre dela. – Chame-me apenas de Aron.

A jovem corou com o calor incomum que invadiu seu corpo quando sentiu a pele dele sobre a sua. Era um tipo de febre que a fazia arder por dentro...

Corada, puxou a mão de volta, tentando recuperar a compostura. Lembrou-se do que a sua mãe lhe repetira durante toda a vida, uma mulher deve manter intacta a sua reputação.

Do Sangue Ao Desejo (Desejos Sombrios 1) - DegustaçãoWhere stories live. Discover now