CAPÍTULO 1

430 1 0
                                    

Mais uma vez a espada o chamava; os gritos, sejam eles de vitória ou dor, ecoariam pelos ares. O sangue rubro mancharia o solo, mas seria rapidamente absorvido pelas areias do deserto de Soldurian. Não importava se o sangue era folqueniano ou cáprico, o mesmo seria sorvido de forma rápida pelas areias, como um terrível vampiro em sua fome eterna e insaciável por sangue.

A sua frente, podia ver milhares de homens enfileirados, com o medo e a tensão que antecedem a batalha estampados na face. Estavam nitidamente em maior número, da ordem de pelo menos quatro para um1. Os seus trajes eram bem diferentes das pesadas armaduras e cotas de malhas dos seus irmãos do oeste: em sua maioria eram armaduras leves compostas de couros e tecidos enrijecidos, de cores escuras; muitos trajavam mantos, que oscilavam ao sabor dos ventos quentes e secos. Alguns tinham a face coberta com tecidos, com somente os olhos atentos expostos. As espadas também eram diferentes, sendo curvadas; alguns usavam lanças pontiagudas com pontas de metal. Escudos eram comuns também. Ao menos as armas do seu exército eram superiores. Muitos ostentavam o símbolo do Reino de Cáprius, um sol escaldante contrastando com a cor branca das roupas pretas. Formando outra linha, após a primeira defensiva, viam-se arqueiros preparando-se para disparar as flechas contra a formação inimiga. Alguns cavaleiros também estavam presentes, e estes, em geral, portavam longas e ameaçadoras lanças. No meio desses seres, havia alguns de pele amarronzada, chamados de duendes de areia. Eram como seres humanos menores, com braços e narizes alongados, orelhas pontiagudas e olhos reptilianos. Alguns deles cavalgavam o que pareciam ser grandes répteis amarelos, lagartos do tamanho de cavalos, e pareciam comandar as tropas. Seres nômades do deserto que se declararam neutros na guerra entre Folquen e Cáprius, agora apareciam ao lado do inimigo. Parece que a decisão de permanecerem neutros fora revogada, para o seu azar e dos seus companheiros.

Ao seu lado estavam seus irmãos de pátria, os companheiros da Ordem dos Cavaleiros Justinianos, pertencentes ao reino de Folquen. Os cavaleiros eram comandantes de uma série de soldados, em sua maioria pessoas comuns, que eram armadas e comandadas à guerra santa, tendo como recompensa prometida em caso de morte o reino de Deus Justinius. Diferentemente de seus comandantes, que usavam cotas de malhas e estavam montados em grandes cavalos, com lanças de guerras e espadas longas, ostentando um tabardo branco com símbolo de um raio vermelho no centro, esses soldados estavam mal equipados no geral. O que todos possuíam por igual era um escudo de corpo e uma lança de aço, porém, estavam exaustos, famintos e com sede pela marcha extensa do seu verdejante reino até o deserto atual, representavam um desafio muito mais para o comando do que para o inimigo. Voltou seus olhos para seus comandados: notou o medo e a ansiedade refletidos. Muitos daqueles homens nunca tiveram que passar por uma batalha, e essa seria a primeira e a última para muitos deles. Precisava inspirar esses homens, a ponto deles estarem dispostos a morrer pela causa. Buscou nas memórias o motivo deles estarem ali, prontos para combater um exército inteiro de inimigos, tentando achar as palavras certas para o momento.

O reino de Folquen era governado por um teocrata chamado Maximiliano. Desde a fundação, a figura central governante era líder do culto a Justinius, o Deus dos raios. Ele também governava o reino, que era muito fértil com fartas pradarias e colinas regadas com riachos e grama verdejante, repleto de recursos naturais. As plantações sempre foram abundantes, sendo que a terra era a grande responsável pela riqueza do reino. Esse teocrata era eleito por uma cúpula de treze sumo sacerdotes, que liam o decreto no dia seguinte mais tempestuoso à morte do antecessor. A tradição rogava que uma visão fosse dada aos treze simultaneamente na forma de um imenso raio que caía na torre central da igreja, e nele se podia ver o nome da criança a ser escolhida como líder. Maximiliano era o nono na linha desde que esse sistema derrubou a antiga monarquia Loreniana, que governava desde tempos primordiais o reino antes da revolta que culminou na Noite da Tempestade Eterna, derrubando a antiga linhagem de reis e instituindo o novo governo.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 30, 2016 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

Crônicas dos Sóis Verdes: A Ascensão do Necromante. Capítulo 1 (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora