Capítulo 8 - Cindy e Leandro

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Marco o quinto anúncio de emprego que achei no jornal de hoje com meu marca-texto laranja. Olho de novo para todos eles e suspiro, não percebendo que Tati chega e senta ao meu lado.

- E aí? Alguma coisa que preste?

- Não sei. – largo a caneta e puxo a xícara de café que está ao lado do jornal. O refeitório está calmo agora pela tarde e geralmente venho para cá com os jornais olhar os anúncios. Não está nada fácil me manter aqui em São Miguel. Tenho tentado economizar de todas as formas que posso, minha mãe acabou me mandando uma grana escondida do meu pai, mas nem isso está sendo suficiente e eu já estou realmente desesperada.

- Talvez esse de babá seja legal. – Tati aponta para um dos anúncios que risquei.

- Pois é. Eu vou dar uma olhada. O problema é que eu nunca tive experiência como babá, não sei se vão se interessar por mim.

- Uma vez eu cuidei de duas pestes. Acho que foram os piores meses da minha vida! – ela diz e revira os olhos. – A menina era um demônio! Não estou brincando. – Tati enfatiza enquanto mexe em um dos seus livros.

- Ah, muito obrigada! Fiquei bastante encorajada agora. – debocho. Tati ri e me dá um tapinha no ombro.

- Talvez esses daí sejam comportados. Quem sabe?

Suspiro e coloco o rosto nas duas mãos. Depois olho de novo para os anúncios marcados.

- Que droga isso. Eu já tinha que ter previsto que alguma hora eu ficaria apertada.

- Amiga, a gente vem com essa ilusão de que tudo vai ser maravilhoso e fácil, mas não é bem assim. Eu ainda tenho sorte do meu pai me ajudar, porque se ele não pudesse, eu estaria com um exemplar igual ao seu em mãos agora.

- Estou ficando sem dinheiro até pra comprar os jornais. Estou pegando o do dia anterior que a biblioteca joga fora depois.

- Que merda isso. – Tati me olha e passa um braço por cima dos meus ombros. – Se eu puder te ajudar de alguma forma, por favor, me fala.

- Você já me ajuda me emprestando seus materiais. Não se preocupe com nada, vou dar um jeito.

- Sei que vai, gata! – ela me dá um beijo no rosto e se levanta. – Preciso ir ao correio mandar uma encomenda para casa. Precisa de algo por lá?

- Não, obrigada! – sorrio.

- A gente se vê mais tarde então.

- Nos vemos sim. Até mais.

Ela se vira e se vai. Ajeito meu cabelo em um coque frouxo e volto a minha atenção para o jornal. Preciso de algo em meio período e que me permita estudar sem atrapalhar meu rendimento. Tenho me empenhado muito para ser uma das primeiras da classe, mas se eu precisar me preocupar com um emprego todo o tempo livre que tiver, no fim das contas eu vou acabar voltando para casa e isso é a última coisa que eu quero. Não posso desistir desse jeito.

Quando vou novamente pegar minha xícara, levanto meus olhos e o vejo entrar pela porta do refeitório. Meu coração, como sempre, dispara e por alguns segundos me esqueço de respirar. Tem sido difícil não pensar nele quando tudo o que ele faz é ser gentil comigo, estar por perto sempre que me sinto sozinha, ser engraçado quando tudo o que eu preciso é dar um sorriso e me fazer tão bem como nenhum outro cara já me fez.
E tudo isso sem me tocar.
E tudo isso sem me beijar.
E tudo isso sendo somente meu amigo. Amigos.
Não foi isso que ele disse aquele dia, quando eu esperava que ele respondesse de forma diferente ao que eu disse sobre sermos amigos? Foi isso que ele disse: Seu amigo.

E eu percebi que isso era realmente verdade quando vez ou outra pegava garotas peitudas e bonitonas entrando e saindo do seu quarto, ou pulando em seu colo e o beijando. Eu não sou nenhuma garota peituda nem bonitona, muito menos uma garota popular. Ele é irmão do melhor cara do time da universidade e não bastasse isso, ele faz sucesso por si só. Eu já disse: Ele é lindo! Por que seria diferente?

Enquanto Você Respirar (DEGUSTAÇÃO - Completo na Amazon)Where stories live. Discover now