01: Suzanne.

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*na foto: Calebe Martins.


         O solavanco na porta da entrada me acordou. Olhei para a garota adormecida ao meu lado e comecei a me desesperar. Peguei meu celular no criado-mudo ao lado da cama e vi que já se passava de uma hora da manhã. Quem porra ia chegar em casa numa hora daquelas?

Olhei para Suzanne e balancei seus ombros. Ela se remexeu e virou-se de lado, continuando a dormir.

─Suzanne, acorda.

─Me deixa – Ela respondeu, mergulhando o rosto sob os travesseiros.

Suspirei. Que se foda. Levantei-me de cama e calcei os meus sapatos. Joguei o celular em meu bolso e dei uma olhadinha em Suzanne antes de sair. Ela era pequena, bem menor do que eu. Tinha os cabelos bem cacheados acima dos ombros e um sinal de nascença curioso em seu ombro esquerdo. Se as circunstâncias fossem diferentes, talvez eu conseguisse um segundo encontro.

Abri a porta do quarto e saí pelo mesmo lugar que entrei. Desci as escadas tranquilamente e já estava prestes a sair de casa sem nenhum vexame até que uma mulher rechonchuda apareceu em minha frente.

─Merda! – Ela disse, assustada. – Quem é você?

─Sou o namorado da sua filha. – Respondi, calmamente. Só o que eu queria era ir embora dali; pouco me importava como.

A mulher me encarou, suspeita.

─Suzanne não me disse que está namorando.

─Talvez você precise conversar mais com a sua filha.

Ela me encarou como se eu tivesse dito algo absurdo, mas dei de ombros.

─Tchau. – Eu disse, antes de fechar a porta atrás de mim.

O frio que me envolvia no lado de fora era intenso e eu não tinha trazido nem uma merda de casaco. Pelo menos eu tinha conseguido a garota número 12 e, de brinde, ainda dei um empurrãozinho em sua relação com a mãe. Talvez não de uma forma positiva. Mas o mundo está de prova que eu tentei acordá-la.

Eu sabia que se eu chegasse em casa naquela hora, a Alice, minha madrasta que tinha quase a mesma idade que eu, iria começar uma guerra, perguntando ao meu pai o que eu tinha de errado, qual era o meu problema, por que eu não conseguia ser como o João e todas essas merdas que ela sempre fala. Sorte a minha que meu pai estava ocupado demais com seus jingles estúpidos pra se importar com um filho indesejado de um casamento mal sucedido.

Sabendo disso, entrei na rua onde Jonas morava. Eu sabia que ele estava acordado porque aquela era a única hora do dia que ele podia assistir pornografia sem que sua irmã o visse. Quando coloquei a cabeça na janela, lá estava ele, em frente ao computador. Alguma loira gritava quando bati no vidro da janela.

Ele olhou para trás, assustado.

─Jesus!

─Não, sou eu.

─O que você quer?

Bati no vidro novamente.

─Abre.

Mesmo relutante, ele levantou-se da cadeira e abriu a janela do quarto. Entrei rapidamente, com a malemolência de quem fazia aquilo há doze anos.

─O que porra você quer? – Ele perguntou. – Será que já não se pode bater uma punheta em paz nessa porra de mundo?

─Calma, amigão. Só preciso dormir aqui essa noite.

Ele sentou-se ao meu lado.

─O que aconteceu com a garçonete?

─A mãe dela chegou em casa.

Finalmente, ele pareceu interessado.

─Ela te expulsou de lá?

Balancei a cabeça.

─Só saí pela porta.

Ele balançou a cabeça como se não acreditasse em mim.

─Você pelo menos avisou à garota?

─Eu tentei.

Jonas levantou-se e foi até o seu armário. Tirou um travesseiro e um edredom de lá e jogou-os em minha direção.

─Você é um grande filho da puta, sabia?

Dei de ombros.

─Foi você quem lançou a aposta.

─Não seja idiota, Calebe. Você não vai conseguir sair com 30 garotas.

Sorri.

─Já consegui 12.

─Mas não vai conseguir o resto. O que você vai conseguir é fazer com que metade das garotas da cidade te odeie.

Olhei para ele.

─Cara. Isso é São Paulo! Como metade de todas as garotas vão me odiar por isso?

Jonas soltou uma risada seca.

─Você não conhece mesmo as garotas, não é? Calebe. Garotas têm amigas. No mínimo, umas quatro. Imagine todas essas garotas contando à todas as suas amigas o tipo de babaca que você é. Vão criar um website chamado Eu odeio Calebe Martins.

─Não se preocupe com isso, amigão. Pode dormir tranquilo.

─Você é um filho da puta mesmo.

Joguei minhas coisas no chão e deitei ali mesmo. A loira peituda ainda gritava no computador de Jonas.

─Ah, merda.

Ele desligou o computador e deitou-se na cama. Eu sabia que ele ainda estava pensando sobre a aposta. Sabia que ele, sem dúvidas, tinha se arrependido de me desafiar.

─Isso ainda vai dar uma merda muito grande. – Ele disse.

─Boa noite, Jonas.

A garota número trezeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora