29 - Pra fechar com chave de braço

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- Tá bom, chega. Só vou aprender quando voltar de viagem – Sarah disse, metade se dando por vencida e metade no deboche.

Não tinha soado como uma profecia, mas no final meio que acabou sendo.

Sarah aprendeu mesmo o que era se manter firme depois daquela viagem. Não teve outro jeito. Ela não atenderia as ligações de Oliver depois do que tinha acontecido. Pouco importava se ele ligava noite e dia. Ele tinha metido para ela. Descaradamente. Mentiu que amava ela.

Quem ama não coloca o ser amado numa situação humilhante como aquela.

Ela gostaria de ter mentido também.

Possivelmente a sua oportunidade de mentir brilhava bem ali na tela do seu celular. O que será que Heloísa queria com ela? Havia a possibilidade de ela ter descoberto que Sarah tinha sido a vagabunda da vez?

Sarah ainda estava aprendendo a aceitar que sempre existiria tal possibilidade.

Por mais que na hora ela não soubesse a extensão do que estava fazendo, o título era verdadeiro. E a colocava pra baixo.

Porém não tão para baixo a ponto de atender a ligação e pedir desculpas. Porque Sarah queria se manter firme no seu objetivo de aguentar firme. E aguentar firme significava seguir em frente, sem olhar para trás, como se nada tivesse acontecido. Era juntar um monte de máximas clichês e tentar incorporá-las a sua vida. Carpe diem, só se vive uma vez, vamos viver tudo que há pra viver. Era silenciar o celular e sorrir, falando para Kellen que a ligação era provavelmente de Call Center.

Que era uma mentira plausível. Assim como as outras que ela se contava ao longo dos dias.

Aguentar firme era falar que elas tinham muito trabalho pra fazer toda vez que Kellen queria conversar sobre o assunto.

Sua amiga estava preocupada e Sarah queria dar a impressão de que ela não tinha motivos para isso. O que ambas precisavam era de uma boa diversão. E que seria divertido a beça passar a noite em claro dentro de um cubículo que tocava músicas que não continham letras.

Pelo menos assim não estariam sozinhas a mercê dos rumos aleatórios de uma conversa profunda. Teria gente. Mais que isso! Gente bonita, segundo a campanha publicitária da boate. O que deixava Sarah muito com o pé atrás.

Mas, afinal, o que não deixava Sarah com o pé atrás nesses dias?

Celular tocando com números desconhecidos principalmente.

O número em questão ligou três vezes seguidas, num show de persistência. De nada adiantava Sarah colocar o telefone no silencioso se não parava de se preocupar com a identidade de quem estava do outro lado da linha.

Era assim que seria pra sempre? Esse sentimento de perseguição? De que poderia ser descoberta a qualquer momento?

Ela não tinha como responder a essas perguntas. O máximo que podia fazer era descobrir quem estava a atormentando dessa vez.

- Alô?

- Tia, sou eu. Seu celular tá escangalhado?

- Não, só tinha colocado ele pra vibrar.

- Peguei o celular da minha professora emprestado – Alicia disse do outro lado da linha.

No fundo dava para ouvir gritos infantis. Grito de crianças brincando.

- Alicia, por que você não está brincando? – Sarah quis saber.

Alicia era uma criança que, assim como todas as crianças, apreciava todo e qualquer tipo de brincadeira. Não era à toa que Sarah acabava entrando na roda e cantando Ciranda Cirandinha, ou qualquer coisa embaraçosa do gênero todo ano que ia às festas de aniversário dela. Era isso ou confraternizar com os adultos. Ela sempre optaria pela primeira opção.

O mundo dá voltasWhere stories live. Discover now