Pelas estradas da vida

25 3 0
                                    

Tive um casamento infeliz, e uma família que perdi o contato, há muito tempo. Sei que a infelicidade foi causada por mim, fui um péssimo marido e péssimo pai. Abandonei-os e saí pelo mundo.

Quis tentar uma nova vida em outras cidades. Perambulei por aí em busca de oportunidades. Acabei me encontrando, atrás do volante de um caminhão. Dirigindo pelas estradas da vida, conheci muita gente. Pessoas de todos os tipos. Pessoas boas e más! O meu teto passou a ser a cabine do caminhão. Detalhe, o caminhão não era meu, pertencia a uma firma na qual consegui o emprego.

Numa dessas viagens, numa certa cidade, conheci uma viúva, uma mulher madura, muito bonita e simpática. Começamos a nos encontrar sempre que eu passava por lá. O relacionamento começou a dar certo e ela me convidou para morar com ela. Os filhos dela não se opuseram. Afinal, ela era independente!

Eu a levei muitas vezes nas minhas viagens, ela se tornou uma companhia muito agradável. Conheceu várias cidades. Minha vida mudou para melhor. Fui bem aceito pelos filhos e netos da minha companheira. Vivemos juntos bons momentos. Fui um homem feliz e amado.

Mas, nem tudo que é bom dura para sempre.  Tive que deixar o trabalho. Problema de saúde, a catarata tomou conta da minha visão e me impediu de continuar a dirigir. Com a ajuda da minha companheira consegui a aposentadoria. E aí, minha vida começou a caminhar para trás, como caranguejo.

Com muito tempo ocioso, o meu passatempo era o jogo. Qualquer tipo, loterias e jogos de cartas. O dinheiro que eu recebia mal dava para manter o vício. A minha companheira, uma mulher compreensiva, aguentava tudo sem reclamar. Cuidava de mim com muito carinho. Devido a diabetes, os problemas de saúde aumentaram, prejudicando ainda mais a visão. Passei por uma cirurgia.

Talvez, revoltado com tudo isso, me afundei mais nos jogos e comecei a criar atrito com os filhos da minha companheira. Voltei a ser aquele marido rude e insensível que fui no primeiro casamento. Troquei a vida estável por uma vida de jogatina.

A mulher maravilhosa que eu tinha ao meu lado, continuou me apoiando, me ajudando, com amor e paciência. Porém, num dia em que amanheci de mau humor, acabei agindo inconscientemente.  Arrumei as minhas coisas e fui embora, sem dar satisfação. Como se eu tivesse morando numa pensão ou pior, nem isso, porque, se eu estivesse numa pensão, teria que acertar as contas.

Agi covardemente, virei às costas, deixei a mulher que foi uma ótima companheira, no verdadeiro sentido da palavra, sem ao menos dizer para onde estava indo. Vim embora para uma cidade distante, e aluguei um quarto para morar.

Durante vinte anos, tive mordomia, não paguei aluguel e fui sempre bem tratado. Morando sozinho, com a idade avançando e os problemas de saúde, a vida não é nada fácil. Mas, acabei me acostumando. Não me restou outra alternativa.

Certo dia, encontrei um conhecido, que coincidentemente, era o avô do namorado da minha ex companheira. Fiquei sabendo, através dele, que ela procurou por mim durante muito tempo. Que ela queria saber como eu estava, se havia encontrado outra pessoa, se estava bem.

Então, criei coragem e telefonei para ela. Conversamos bastante e ela acabou compreendendo a minha atitude. Justifiquei o meu ato e me desculpei. Soube que ela estava bem e sozinha. Assim como eu, não quis arrumar mais ninguém. Queria viver a vida dela, para curtir os filhos e netos.  

Gosto de me sentir livre para fazer o que bem entender. Sem ter que me preocupar com outras pessoas. O jogo ainda faz parte dos meus dias, agora como uma distração para preencher meu tempo. Não me considero um viciado, porque, não jogo mais, a dinheiro.

Continuo  a manter contato com a minha ex,  fui visitá-la, nos tornamos amigos. Fui bem recebido por toda a família dela. Fiquei feliz em saber que não guardaram rancor. Fui perdoado. Graças a Deus!

O que farei quando não conseguir morar sozinho? Quando o peso da idade se fazer notar? Já pensei nisso,  procurarei um abrigo para idosos e terminarei lá os meus dias.

Sei que a decisão de viver assim foi minha. Tive duas famílias e as abandonei. Mereço o que a vida reservou para mim. Espero que meus filhos sejam felizes e que tenham me perdoado. Não sou totalmente infeliz. Ao meu modo encontrei a paz e tenho como companhia as lembranças da época que me aventurei pelas estradas da vida! O que posso querer mais? Fiz a minha escolha!

Você acredita no destino ou acha que somos nós que escolhemos o nosso caminho?

Não deixe de ler as outras histórias e fazer um comentário se quiser. Ficarei feliz com a sua opinião!

 

Contos variadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora