02.

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[Katherine]

O meu dia de trabalho fora esgotante. Não pensei que a biblioteca fosse estar tão cheia, mas fico feliz por isso. Apenas estou preocupada com aquele punk que apareceu aqui. Como é que ele se chamava mesmo? Neil… Acho que era algo assim, eu não sei. Bom, não me interessa o nome dele, só espero que ele tenha a dignidade de devolver o livro ao lugar onde ele pertence. Digo isto, porque a julgar pela maneira como ele percebia bastante de livros — só que não —, se calhar nem o vai devolver. Eu apenas não quero ter problemas e depois ter de ser eu a pagar. Já me chega as dívidas que eu tenho em casa.

"Louis?" Chamo-o depois de desligar o computador da recepção.

"Estou aqui." Ele diz, aparecendo ao meu lado.

"Óptimo! Vou sair agora, ficas?"

"Oh, sim. Tenho umas coisas para terminar por aqui. Tu vais… Hum… Para casa? Louis pergunta de maneira ligeiramente nervosa.

"Óbvio, Louis!" Rio-me. "Para onde querias que eu fosse?"

"Ah, nada… Dó pensei que não quisesses ir porque… tu sabes." Louis diz, e eu suspiro.

"Bom, a minha mãe precisa de mim e eu não vou abandoná-la, como o meu querido irmão fez." Estalo e o Louis abraça-me.

"Está tudo bem, linda… Ouve, se precisares de alguma coisa, seja o que for, ligas-me, okay?" Ele faz-me encará-lo e sorri.

"Sim." Sorrio e assinto com a cabeça.

Visto o meu casaco preto e agarro na minha mala branca. Sorrio para o Louis e saio do meu local de trabalho, rumo ao bairro mais pobre que há na cidade.

Juro que odeio o sítio onde vivo. Tomara, algum dia, que eu consiga sair dali para poder viver num lugar melhor. O meu irmão abandonou-nos e deixou-nos na miséria. Sou eu que suporto todas as tareias do meu pai, porque ele já não está cá para me defender, o meu irmão. Ele prometeu ficar comigo e agora deixou-nos. E por sua causa, eu recuso-me a confiar em quem quer que seja. Eu odeio-o. A minha mãe é a única pessoa em quem eu tenho de me focar todos os dias. E apesar de ela ainda pensar que tudo pode melhorar, ela no fundo sabe que a nossa vida sempre vai ser assim: um enorme inferno.

Entro no bairro velho e pobre onde eu moro atualmente. As luzes da rua falham de vez em quando, e a luz das estrelas ajudam a que a noite seja mais iluminada.

Apresso o passo até minha casa, ignorando os barulhos estranhos de pessoas bêbadas na rua e de prostitutas a 'trabalhar'.

Retiro as chaves de casa da minha mala rapidamente, pois tenho a estranha sensação de estar a ser seguida e entro, fechando a porta atrás de mim.

A silhueta do meu pai aparece da cozinha e ele tenta equilibrar-se no vão da porta, de tão bêbado que está.

"Onde estiveste?!" Ele pergunta bruscamente.

"Eu estive a trabalhar…" Respondo apressadamente.

"Quero o dinheiro." Ele estende a mão e eu recuo para trás, batendo na porta velha da entrada.

"Eu… Eu ainda não recebi, só no final do mês é que —"

"Cala-te!" Ele interrompe-me, gritando. "Dá-me o dinheiro, agora!" Dirige-se na minha direcção e eu recuo até à sala.

"Já te disse que não tenho." A minha voz sai ligeiramente trémula, o meu corpo começa a tremer também.

"Cabra! Ando a sustentar-te para quê?!" Ele grita e a sua mão vem direita á minha cara.

A minha pele arde e eu tento pressionar a minha mão sobre ela, numa tentativa falhada de fazer a dor desaparecer. Pelo menos, um pouco dela.

"Tu… Tu não me sustentas…" Soluço e lágrimas de medo começam a cair pelo meu rosto. "Tu nem és um pai, a maneira como me tratas não é de homem sequer!" Grito e ele agarra-me no cabelo com força, fazendo-me gemer de dor.

BeginWhere stories live. Discover now