Capítulo Único

197 16 7
                                    



FISHY LOVE

Por FireboltViolera



O sol refulgia pomposamente ao longo do monte Eboot.

As tênues linhas de luz refletiam suavemente nos cabelos cor de fogo de Undyne, deixando-os ainda mais vermelhos. O brilho também se estendia sobre as escamas do rosto, fazendo-as brilhar como minúsculas pérolas.

Esses detalhes pareciam fazer com que Alphys sentisse o rosto esquentar, de um modo que nada tinha a ver com o calor solar do mundo superior. Por um momento, se sentiu muito feliz por ter uma cor tão berrante de pele, que não denunciava o rubor que sentia.

Fazia apenas algumas horas que ambas - juntamente de Sans, Papyrus, Toriel, Asgore, Frisk e os demais monstros do subsolo – haviam deixado o mundo inferior, e retornado para a terra dos humanos.

O rei dos monstros, juntamente da criança que os libertara, havia partido em busca do atual governante do mundo superior, a fim de iniciar as diplomacias pacificas entre os dois povos. Isso fez com que sobrasse bastante tempo para os monstros recém-liberados pudessem explorar a nova terra.

No entanto, a ex-líder da Guarda Real e a cientista haviam preferido aproveitar um pouco mais a paisagem esplendorosa que lhes fora revelada, assim que deixaram a barreira.

Ambas, sentadas na ponta do pequeno platô, observavam os pequenos monstrinhos, ao longe, conversando animadamente sobre como deveria ser a escola das crianças humanas. Monstrinho, o pequeno garotinho de apenas duas patas, brincava com os demais, aproveitando o belo dia.

Undyne sorriu, expondo os dentes pontiagudos – um sorriso que, apesar de tudo, era estranhamente bonito.

Alphys também achava graça nos pulinhos extasiados que os monstrinhos davam, dando um longo suspiro e sacudindo a cauda amarelada contra o chão empoeirado.

Undyne baixou o olhar, encarando-a, reprimindo a vontade de passar o braço por trás dos pequenos ombros de Alphys.

Sempre achara adorável a diferença de altura entre as duas - principalmente por que Alphys lhe dava aquela estranha e fantástica vontade de proteger. Nada nem ninguém, no subsolo ou no mundo humano, lhe trouxera tantas emoções quanto aquela pequena monstra amarela.

Sentira isso a vida inteira, por cada um dos monstros de seu povo.

Mas com Alphys... era diferente.

Era como se a sua vida dependesse de protegê-la.

- Vou sentir falta da Guarda Real – murmurou, sobressaltando a cientista.

Undyne viu Alphys estremecer, nervosa.

Reconhecia aquela atitude. Conhecia Alphys o bastante para isso, e sabia que ela só reagia assim quanto estava com medo.

- Acho que... tudo vai mudar agora... não é? - Alphys guinchou, abotoando o jaleco, embora este já estivesse quase fechado.

Ela se sobressaltou quando, repentinamente, a mão de Undyne segurou a sua.

A voz da Undyne era baixa e suave, sem toda a impetuosidade feroz que lhe era comum. Alphys nunca tinha ouvido era falar daquela maneira antes.

- Quer conversar?

A guerreira piscou, surpresa, quando Alphys escondeu o rosto nas mãos, parecendo, mais do que nunca, uma bola amarelada trêmula e chorosa.

- Eu... - a cientista ergueu os olhos para o céu azul, parecendo desolada – eu só fico pensando... em todos os erros que cometi. Em como a culpa foi... foi toda minha. Foi minha ideia fazer experimentos com as almas. Foi minha ideia injetar a alma de Asriel em uma flor. Fui eu que criei Flowey... e quase destruí o subsolo inteiro! - lágrimas escorriam pelas escamas amarelas de Alphys – eu sei que você vai me dizer... que eu devo me sentir melhor comigo mesma... mas eu não consigo. Não consigo parar de pensar que nada disso teria acontecido... se eu não fosse tão tola...!

Ela não conseguiu continuar.

Não por que o choro não permitiu, e sim por que Undyne segurou seu rosto na direção do dela.

Alphys não se recordava se os olhos dela sempre haviam sido tão penetrantes. Tinha certeza de que Undyne conseguia ver cada borda de sua instável alma.

Não fossem os braços de Undyne a segurarem, Alphys decerto teria caído, quando a guerreira aproximou seu rosto no dela e – para seu choque – lhe deu um beijinho brincalhão na boca.

Monstrinho, que estava passando por perto com outras crianças, cutucou os colegas, surpreso, sem saber se sorria ou se saía correndo. Os filhotes guincharam, tão perplexos quanto ele.

- Alphys... -Undyne recuou a cabeça e suspirou, sem conseguir disfarçar um carinho exasperado no tom de voz, secando as trilhas de lágrimas no rosto da cientista – você é mesmo uma monstrinha boba....

Satisfeita, Undyne viu, risonha, Alphys levar as patas às bochechas, envergonhada.

O rubor era tanto, que a cientista jurou que poderia fritar um ovo na cara.

- U-Undyne... - ela engrolou, tímida.

No entanto, foi interrompida pela gritaria das crianças, cujas exclamações eram, sem sucesso, abafadas pelas súplicas desesperadas de Monstrinho.

- Tá "apeixonada"! Tá "apeixonada"!

Com um gesto displicente da mão de Undyne, uma lança azulada e brilhante disparou na direção dos pequenos baderneiros, que saíram correndo aos berros - exceto Monstrinho, que, como qualquer fiel admirador da guerreira, sabia que ela jamais machucaria uma criança, e simplesmente ficou parado no mesmo lugar, abrindo um amplo sorriso para ela – sorriso que ela retribuiu serenamente.

- Crianças... – resmungou, embora suprimisse uma risadinha.

Alphys deu uma risada nervosa, finalmente mais à vontade, apesar de ainda sentir o corpo inteiro pegando fogo.

- Você não tem que se sentir culpada, Alphys – Undyne abraçou-a – eu também cometi erros – ela guinchou – pudera, quase matei Frisk inúmeras vezes lá embaixo! Se isso não é cometer um erro atrás de outro, não sei o que é – suspirou, encarando as nuvens com seus olhos dourados - e acho... que é errando que se aprende. Podemos ser melhores do que fomos no passado. Podemos ser melhores no futuro.

Foi a vez de Undyne se surpreender quando, suavemente, Alphys debruçou o corpo sobre seu ombro, voltando a admirar o reluzente pôr do sol.

- Está um belo dia aqui fora – ela riu, segurando a mão da guerreira.

Abraçadas, ambas continuaram aproveitando a belíssima paisagem, ainda vendo, risonhas, Monstrinho acenar para elas ao longe, e correr em direção ao horizonte.

E era ali, finalmente, juntas e livres, que elas sentiam seus corações realmente batendo como um só.

Fishy LoveWhere stories live. Discover now