Milla

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- Bom dia mãe! - sussurro devagar que quase não sai.

Chego na mesa cambaleando de tanto sono, sento de qualquer jeito, sem nem saber o que estou fazendo.

- Mãeeee!!! Tem alguém ai? Mãe, para de graça! Eu já te pedi desculpa por usar seu loubotin!-falo brava para ver se causa algum efeito na megera indomável.

Minha mãe me olha atravessada e me ignora total. Como pode ser tão imatura? É só um sapato oras! E ela tem centenas de pares no clouset. Está certo que esse, Christian Loubotin havia feito especialmente para ela. Mas e daí? Só uma noite não mata ninguém!

Saio da mesa sem nem olhar para ela, se ela sabe ignorar eu sou a rainha do não me importo.

Subo ao meu quarto e preparo tudo para ir para escola. Primeiro dia de aula, volta as aulas depois de umas férias incrível na minha amada Páris, volto a rotina.
Sem nem pestanejar deito na cama por mais algumas horinhas e decido ficar pensando no Michael, olho o celular e revejo todas as mensagens dos últimos dois meses de maravilhosas conversas.

- Acho que sou doida! Quem em sã consciência faz uma coisa dessas? - digo alto para mim mesma.

- Filha? Ainda na cama? -meu pai diz suave, achando que pudesse estar dormindo.

- Oi pai, estou pronta. Já vou! Me espera na garagem, sei que têm horas para chegar no hospital, me distraí aqui. Já desço!

- Tudo bem querida, você têm dez minutos!

Meu pai e minha mãe são completamente opostos. Doutor Pedro Rish é um médico cardiologista super prestigiado daqui de Campinas, conseguiu montar seu império com quase nada. Tem um dos melhores hospitais do mundo no tratamento do coração. Eu tenho muito orgulho disso e aos seus 39 anos, sabe como ninguém dedicar seu tempo as pessoas e sua família.

Já minha mãe é impulsiva demais, temperamental demais, vaidosa demais e ciumenta demais. Senhora Leonnor Rish, 36 anos, nasceu em berço de ouro, filha de Leonel Delvato, dono de uma companhia aérea e de um grupo empresarial com serviços de turismo e hospedagem.

Meu pai sempre me conta a história de vida dele e de como foi difícil estar com a minha mãe hoje.
Quando eles se conheceram ele com apenas 18 anos, havia acabado de se mudar para cá por ter sido aprovado no vestibular de medicina e não tinha nada, quase nada para se manter aqui. Conseguiu emprego de jardineiro na casa dos meus avós e com a genorisadade da minha avó Martha, conseguiu também um quartinho no fundo da mansão, um lugar especialmente criado para os funcionários terem sua hora de descanso.

Foi aí, que meu pai conheceu minha mãe. Ele diz que ficou encantando logo de cara, que pode afirmar com todas as letras que ele a amou naquele exato momento. Foi amor a primeira vista.

Sempre me disse que por mais bela que minha mãe fosse, que por sinal ainda continua, o que mais o deixou encantado foi a forma que ela tocava nas plantas ao andar pelo jardim, o jardim que ele cuidava.
Pela sua vista, tímida e inerte, minha mãe parecia dançar de tão delicado que eram seus movimentos.
Meu pai sempre deixa escapar uma lágrima  ao narrar esse momento para mim.

Quando ela o viu não pareceu demonstrar nenhuma reação, era só o jardineiro, mais um empregado. Minha mãe diz que não. Que na hora já achou meu pai uma gracinha.

Então, após alguns meses ele conseguiu enfim, puxar assunto com a minha mãe.
Durante suas visitas diárias ao jardim, meu pai perguntou se ela gostaria que ele recolhesse alguma das flores, ela se mostrou interessada em saber sobre cada uma delas e meu pai falava sobre todas e até as quais ele não sabia nada, ele inventava.
Ele queria impressioná-la e conseguiu. Minha mãe se apaixonou pela sua voz, seu jeito de olhar, sua inteligencia e claro a beleza.

Eles começaram a conversar sempre no jardim, até mesmo de noite e nao demorou muito para ele pedir a mão dela em namoro.
Foi aí que a parte ruim começou, meu avô nao aceitou e mandou meu pai embora, minha avó se compadeceu e lhe deu escondido o endereço de uma amiga e mandou procura-lá para pedir moradia provisória.

No outro ano, minha mãe começou as aulas na universidade que meu pai já estudava como bolsista e eles voltaram a se encontrar, mas parecia que o sentimento ainda não havia mudado, era maior ainda!

Depois de algum tempo minha mãe engravidou de mim, foi uma loucura, por pouco meu avô não mandou ela embora do país... Graças a minha vozinha, tudo deu certo, convenceu meu avô a aceitar o casamento para não manchar a honra da filha e aqui estou!

- Quem terminou a redação me entrega aqui!!! - minha professora esguela.

- Terminou Milla? - Karine cochicha.

- Quase não da tempo! - respondo.

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