Capítulo 6

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Benjamin

4ª Dia

Uma das desvantagens de ser paraplégico é depender de alguém para tudo. Esse alguém era definitivamente a minha mãe. Ela era as minhas pernas e às vezes os meus braços. Meu pai desistiu de mim há algum tempo, então eu também resolvi desistir dele. Não que passemos o tempo todo discutindo, mas o seu desinteresse por mim se deu ao fato de como ele mesmo diz: eu não fazer nenhum esforço para me recuperar. Ele não está errado, eu raramente me esforço.

Mamãe me ajuda a sair do carro, a cadeira já está em uma posição que facilita para que eu me sente, seguro na porta, criando impulso, os braços de minha mãe estão debaixo dos meus, minha outra mão eu coloco no descanso de braço. Mamãe me impulsiona, e eu faço o mesmo com a força dos meus braços. Me sento, e minha mãe arfa e limpa o suor que escorre de sua testa. Um esforço grande para uma mulher que já aparentava estar cansada, mas ela nunca deixa de estar por perto, nunca deixa de me ajudar. E sou muito grato a ela por isso.

Nós temos um carro adaptado com rampa, mas hoje ele se encontra na oficina para fazer reparos.

Um grupo de meninas próximas ao muro da escola me olham, curiosas. Antes elas me olhavam com desejo, hoje eu sou visto como uma aberração. Algumas delas sentem pena de mim, o que eu acho pior do que ser visto como aberração.

Sinto os olhares delas sobre mim novamente enquanto minha mãe guia a minha cadeira de rodas. Já sei o que elas devem estar pensando: Ele é lindo, é uma pena que ele é paraplégico. Essa é mais uma das desvantagens, digamos que garotas não se atraem muito por um cara que depende de uma cadeira de rodas para se locomover.

Mamãe abaixa o seu rosto, tentando depositar um beijo em minha bochecha. Viro a minha face, tentando evitar esse constrangimento em público.

— Mamãe, aqui não. Okay? — Ela cruza os braços, encarando-me com indignação.

— Você não quer mostrar para os outros como é um filho carinhoso e amoroso?

— Mãe, por favor. — Abaixei a cabeça, me sentindo envergonhado.

— Tudo bem! Você quer ajuda para entrar na escola?

— Não precisa, eu me viro. — Respondi, avistando Carla encostada no portão da escola. Ela tentava arrumar o seu cabelo louro enquanto o vento fazia o trabalho de bagunçá-lo. Carla definitivamente tinha um rosto de um anjo, e eu queria contemplá-lo mais de perto. — Tchau, mãe. — Apertei o botão, ligando a cadeira, segui em direção a Carla.

Desvie de alguns alunos no caminho, implorando que nesse meio tempo Carla não saísse dali. Cheguei a tempo de ela não fazer isso.

— Olá! — Cumprimentei-a. Eu tinha certeza que eu vi Carla revirando os olhos. Ela olhou instintivamente para baixo e deixou transparecer em seu rosto que ela não gostava da minha presença ali. Ou melhor, que ela não gostava de mim.

— O que você quer? — Perguntou, com a voz irritada.

— Um bom dia, um olá. Como você está, Benjamin? Eu vou bem, obrigado por se preocupar. — Carla fingiu uma risada.

— O que você quer com a Elle, afinal? — Olhei para a garota um pouco intrigado. Não gostei do jeito que ela pronunciou a pergunta.

— Fazer o trabalho de inglês. O que mais eu poderia querer com ela, afinal? — Retruquei. Carla ficou em silêncio de repente. A atenção dos seus olhos agora se desviou para um rapaz que entrou na escola.

60 Dias Com BenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora