8. Não, Eu Não Sou Honesta

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Hoje ao sair de um mercado da cidade, notei que havia esquecido alguns itens dentro do capacete (que costumo usar como sacola) e, obviamente, voltei para pagá-los e, naquele momento a caixa me disse uma frase que ficou piscando em minha mente o dia todo:

— Ainda bem que você é honesta.

Tive várias discussões e conversas com ela em minha mente:

Não, cara, não sou honesta, eu só tenho o dinheiro para pagar;

Não é isso, apenas tenho a consciência das consequências que poderia causar se ocorresse em massa, como por exemplo falir o mercado, ou a indústria;

Porque isso é errado;

Não é esse o motivo minha senhora, a razão pela qual eu não levei essas bugigangas sem pagar é porque não é assim que vamos mudar a porra da sociedade.

No fim do dia, essas discussões mentais conseguiram me tirar o foco de pequenas tarefas importantes que preciso realizar no meu dia-a-dia. Foi então que pude me dar conta do quanto esses pensamentos me perturbam.

Para você ter uma ideia, e a comparação pode ser menor do que a dimensão que gostaria de provocar, procuro pensar em mim como uma normal (detesto esse termo) presa em um manicômio (também detesto esse) no qual funcionários e internos, ninguém tenha consciência do que se passa ao redor e, se você (eu, neste caso) tentar explicar o que ta acontecendo para um deles, será considerado como louco e até mesmo você passa a se considerar louco, porque desde pequena está presa nesse mundo em que ninguém vê nada e que talvez seja você que não esteja vendo.

Há fases na sua vida em que você precisa encontrar culpados e quer acreditar que exista um lugar lindo e precioso quando a validade acaba em que eles não vão entrar.

E, anos depois, refletindo um pouco mais, amadurecendo, parece que eles não fazem por maldade, talvez um desvio, distúrbio ou por não ter tido uma oportunidade de ser diferente, ou por, até mesmo, algum tipo de lavagem cerebral coletiva.

Isso tudo começa a fazer algum sentido, mesmo quando não faz sentido algum.

E quanto mais você tenta conversar, divulgar, compartilhar, mas isso te toma e desgasta e faz com que desista. Só que parece ser sua obrigação. E cansa demais ninguém entender

E quando alguém entende não há tempo ou força para seguir adiante em uma batalha de uma guerra já perdida.

Quanto mais louco isso pareça, mais se aproxima do normal. E quando as energias se esvaem você só quer acabar com a dor, não com a felicidade.

Às vezes, aceitar que você é apenas mais um interno, tomar suas medicações, seguir as regras e fazer as atividades, sem pensar em mais nada, nem tentar acordar um companheiro de cela, parece uma ideia genial.

26/08/2014

26/08/2014

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