- Não importa, meu filho. - disse, acariciando a bochecha do menino. - Mas não precisa mais temer, nós vamos embora.
- Vamos para onde? - Rafi perguntou copiando o sorriso do pai.
- Para um lugar seguro, onde o chão não treme, as casas não caem, e nunca mais ouviremos aqueles som altos que te deixam tão apavorado.
- Não gosto daquele barulhão.
- Eu sei. - o pai abraçou o filho ainda mais apertado. - Papai vai te tirar daqui. Vamos viajar de barco.
- De barco?! - Rafi deu um pulo, contente.
O pai assentiu com a cabeça.
- Então vamos chamar a mamãe e a Sâmi para irmos logo! - o menino ia correr, mas o homem segurou seu braço.
- A mamãe e a Sâmi já foram antes de nós... - ele respondeu, sem olhar para o filho. - Vamos apenas nós dois.
Rafi pensou e assentiu. O pai o olhou e, depois de abrir um sorriso triste, beijou sua mãozinha pequena.
****
Fazia muito frio naquela noite escura, com a lua coberta pelas nuvens, enquanto pai e filho andavam pela cidade devastada. O homem segurava firme a mão do garoto com uma de suas mãos, enquanto carregava na outra a trouxa de pano pequena com o pouco alimento que havia conseguido recuperar em meio à casa demolida. Toda vez que ele olhava para a criança ao seu lado, lançava um sorriso como se dissesse que tudo estava bem, que tudo iria melhorar. Rafi sentia-se seguro com o pai, sabia que ele o protegeria e cuidaria dele, por isso seguia calmamente, pulando na rua como se estivesse brincando.
Chegaram ao porto onde já encontravam-se muitas outras famílias. Homens, mulheres e crianças se aglomeravam em frente ao mar desesperados para partir daquele país arrasado pelos conflitos.
O pequeno Rafi arregalou os olhos ouvindo dois homens que falavam alto, parecendo discutir, e apertou a mão do pai, que ao perceber o terror estampado no rosto do filho, o pegou no colo e passou a mão sobre seus cabelos.
O pai caminhou em direção aos homens que brigavam e franziu as sobrancelhas grossas ao ver o minúsculo bote inflável boiando sobre as águas.
- Você disse que era um barco! - um dos homens gritou para o outro. - Como vou colocar toda a minha família dentro dessa porcaria?!
- Esse é o único jeito de sair daqui! Se não quer, saia da minha frente! - o que estava mais próximo do mar respondeu em fúria e o empurrou.
Rafi estava atordoado ouvindo os berros, sem entender sobre o que falavam, e o coração bateu acelerado vendo outras crianças chorando.
- Papai! - ele chamou, agarrando o pescoço do homem que o carregava.
- Está tudo bem. - o pai sussurrou no ouvido dele.
O homem próximo à água puxou o cordão preso ao bote e anunciou que aqueles que haviam pagado já podiam entrar. O pai de Rafi suspirou, sabendo que não havia outra alternativa, e embarcou com o filho.
Sentou-se espremido entre muitas pessoas e deitou Rafi em seu colo, cobrindo o pequeno com sua própria e única blusa de frio. Acariciando o rosto do garotinho, ele cantou, em voz baixa, uma canção de ninar, enquanto via sua terra ficando para trás.
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Em desespero, Rafi chorava alto por causa da tempestade. Era aterrador ver o clarão dos relâmpagos iluminando o céu escuro e ouvir os trovões explodindo enquanto as águas se agitavam fazendo o bote balançar muito.
O pai sustentava o menino com toda a sua força, segurando-se as cordas para que não caíssem no mar. Ele assistia, horrorizado, algumas mulheres sendo lançadas no meio das ondas com seus filhos nos braços. Apertou seu garoto contra seu peito.
- Papai não vai te soltar! - gritou para que o filho o ouvisse em meio a toda confusão. - O papai protege você, Rafi!
O menino se prendeu ainda mais forte ao corpo do pai, acreditando nas palavras dele.
****
Depois de dias, Rafi - a única criança que havia restado no bote -, já não aguentava mais ficar naquele mar, mas acreditava quando o pai dizia que estavam quase chegando. Ele ficava animado ouvindo o homem mais velho falar sobre a nova vida que teriam e sorria, crente que aquilo era verdade. Ele sabia que podia confiar no herói que o protegia das chuvas fortes, que não deixava as ondas o levar e que estaria pronto a defendê-lo do que fosse. Seu papai era o seu porto seguro.
O estômago do pai roncou alto ao olhar o último pedaço de pão dentro da trouxa de pano, virando-se para o filho, abriu um sorriso cansado e entregou o alimento ao menino.
****
O pai de Rafi não acreditou ao avistar a praia ao amanhecer. Gritou em alegria, acordando aos outros e ao seu filho.
Quando o bote parou na areia, todos se jogaram para fora. Enquanto uns beijavam o chão e outros admiravam aquelas novas terras desconhecidas, sem acreditar que tinham conseguido, o pai abraçou e beijou o rosto de Rafi.
- Estamos seguros agora, meu garoto. - ele disse, sentindo as lágrimas de felicidade rolarem por seu rosto.
O garotinho sorriu, sabendo que sempre esteve seguro nos braços do papai.
DU LIEST GERADE
Porto Seguro
Kurzgeschichten"O garotinho apertou as mãos contra as orelhas desejando que aquele barulho todo terminasse. Seu corpo tremia de medo, junto com o chão onde estava sentado. [...] A casa inteira chacoalhava, o teto começava a desabar e as paredes balançavam pro...
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