Capítulo 2

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A noite era fria e iluminada apenas pela luz da lua cheia, mas os olhos verdes de Ayla ainda eram capazes de enxergar as construções do reino que se estendia por trás dos portões de ouro. Mesmo para uma criatura das Terras do Norte, que já vira tantas coisas e lugares maravilhosos, aquela era uma das mais belas cenas que já tivera a oportunidade de presenciar.

Já havia ouvido falar de Aurum, o Reino Dourado, porém até aquele momento duvidava de sua existência. Acreditava que seu mestre não passava de homem louco, assombrado por fantasmas do passado. Mas ao se deparar com aquele lugar, onde até mesmo o vento parecia brilhar ao seu redor, entendeu que talvez o tenha subestimado.

Ela fechou os dedos das mãos contra as barras dos portões, numa tentativa frustrada de empurrá-los. Um sorriso irônico surgiu em seus lábios vermelhos: era alta magia que protegia aquele lugar, o tipo de magia que estava fora até mesmo de seu alcance.

Ayla levou a mão direita até as pontas dos cabelos avermelhados e mordeu os lábios, observando os arredores. Nenhum guarda estava à vista vigiando a entrada. Perguntava-se se a pessoa que deveria encontrá-la demoraria à chegar.

Odiava estar fazendo aquele papel. Uma banshee não deveria seguir ordens de ninguém.

O vestido branco que usava era demasiado curto para o vento gélido daquela noite, fazendo sua pele rosada arrepiar-se com qualquer brisa que passasse por ela. Não tinha ideia de quanto tempo havia ficado ali parada até a figura encapuzada surgir no horizonte.

Apesar da distância, a mulher conseguiu enxergar os delicados pés descalços do estranho, que contrastavam com a túnica negra que vestia. Sua pele era tão branca quanto a neve das Terras do Norte no inverno. Aquele ser era um dos sem-sangue, não tinha dúvidas. O que uma criatura da Floresta Encantada fazia ali?

Mesmo depois da aproximação ser feita, o rosto da pessoa ainda era invisível. Mãos enluvadas emergiram da túnica e destrancaram o portão com uma facilidade invejável. O estranho estava tão próximo que Ayla podia sentir a respiração gelada contra seu rosto. Não sentiu medo, contudo. Também era uma criatura mágica, não se deixaria intimidar.

Em silêncio ela penetrou nos limites do reino de Aurum, seguindo seu acompanhante de perto. Uma vez ali, finalmente pôde ver os guardas que deveriam estar protegendo a entrada do reino caídos na areia.

Ayla franziu o cenho e suspirou, levemente irritada. Pouco lhe importava se eles estavam mortos ou não, mas estava ali para cumprir uma missão. O estranho encapuzado servia apenas para lhe mostrar o caminho. Não era nenhuma garotinha indefesa: se precisasse matar alguém, poderia fazer isso sozinha.

Por que diabos ele fez o que ela deveria ter feito?

Afastou tais pensamentos de sua mente no momento em que notou que o sem-sangue havia a deixado para trás, correu para acompanhá-lo.

Os dois percorreram ruelas malcuidadas, que contrastavam nitidamente com a beleza das construções. Enquanto as casas e prédios eram fabricadas com o mais reluzente ouro, restos de comida se encontravam jogados ao chão, pessoas desabrigadas cobriam a areia como corpos cobrem um campo de guerra e um cheiro fétido e embolorado pesava o ar.

Em uma esquina mais a frente um idoso jazia sem camisa encostado em o que um dia foi um carrinho de frutas, de onde algumas maçãs enegrecidas rolavam, vez ou outra, indo de encontro com a areia.

No momento em que ele abriu os olhinhos miúdos e a encarou, Ayla sentiu a bile percorrer o caminho até o fim de seu esôfago, mas se conteve, engolindo o vômito.

O globo ocular do velho estava completamente amarelo.

– Bruxa! – o grito escapou da garganta dele tão de repente que a fez dar um salto para longe dele – Só uma maldita bruxa teria cabelos e pele dessa cor!

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⏰ Last updated: Oct 08, 2016 ⏰

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A PEDRA DE SAFIRA #1: O Roubo da Fênix DouradaWhere stories live. Discover now