Capítulo 1

85 3 1
                                    

— Ane, acorde querida! Você vai se atrasar para a escola e seus pais já estão tomando o café da manhã.- disse Joana entrando no meu quarto e abrindo as cortinas.

— Já vou!- falei calçando os chinelos e indo em direção ao meu banheiro tomar banho.

Não demorei muito por conta de estar atrasada.Saindo do banho,escolhi a roupa no closet e me arrumei.Joana penteou meus cabelos e desci para o café.

— Atrasada de novo minha filha?! Bom dia!-disse papai.

— Bom dia papai!- disse desviando o olhar de minha mãe.

— Tenho que ir para o trabalho mais cedo hoje e sua mãe vai te levar!- disse dando um beijo na minha testa.

— Tanto faz...- disse colocando um pedaço de pão com Nutella na boca.

— Eu não vou levar essa menina pra escola,tenho que trabalhar.

— Vocês tem que se dar bem gente.Não é possível que uma mãe e uma filha não se aturam desse jeito.

Meu pai saiu e minha mãe bufou. Meu convívio com minha mãe é péssimo desde quando nasci.Ela é muito grossa,já meu pai é um amor. Eu sou bem carinhosa,mas minha mãe não gosta nem um pouco de mim.As vezes penso que ela queria só o meu irmão gêmeo que morreu na hora do parto.

— Te espero no carro.- disse minha mãe e saiu pegando a bolsa dela.

Acabei de beber meu suco.

— Juízo em Ane!- disse Joana, considero ela como uma mãe pra mim.Todas as vezes que minha mãe brigava comigo quando era criança, corria pros braços dela. - Tenha calma que tudo vai se resolver!

— Obrigada! Te amo Jo! - dei um abraço nela e ela me entregou minha mochila.

— Também querida,também!

Chegando no carro minha mãe já estava com a cara de tédio como ela sempre faz.

— O seu pai sabe que eu tenho que trabalhar e fica mandando eu te levar...

— Ele também tem que trabalhar e você nunca me leva pra escola.

Ela bufou e deu partida no carro.

— Tirei 8,8 em português! - falei pra quebrar o silêncio de quase 20 minutos que estava no carro.

— Só? Que nota ruim.Quando era da sua idade só tirava nota boa em português. - disse ela com raiva até da própria borboleta que voou pra dentro do carro.

— Dei meu melhor. - falei triste por ela brigar comigo.

— Seu melhor é esse? - fiquei quieta enquanto ela parava o carro em frente a escola.- Desce logo.Estou atrasada.

— Tchau... - desci do carro e peguei a mochila.

Ela arrancou com o carro e nem me deu um tchau se quer.Argh.

Coloquei a mochila nas costas e entrei na escola um pouco atrasada...

Nas escolas sempre tem grupinhos,cada um com seu tipo:

• Os nerds.
• As patricinhas.
• Os que não querem nada com nada.
• Os rockeiros.
• E os "religiosos".

Fui para o meu armário procurando as chaves do mesmo dentro da mochila.

— Olha só quem está atrasada de novo,meninas! Hahaha...- Não é possível que essa garota não dá um tempo,pelo menos um dia sequer. Essa é Gabriele, mas conhecida como "Gaby",a patricinha ridícula dessa escola. Com ela anda mais duas garotas,Daniele e Carol,e cara,pra que tanto rosa na minha frente?

Continuei procurando as chaves na minha mochila e ignorei as três piriguetes cor de rosa atrás de mim. Finalmente achei e peguei meus livros.

— Ué, onde vai querida? -disse Gaby atrapalhando a passagem.

— Garota, sai que eu não estou com paciência. Que saco, me deixa em paz!! -disse irritada.

Passei pelas três e subi as escadas até chegar em minha sala. Bati na porta, pedi licença com o professor e sentei no lugar de sempre. As primeiras aulas foram passando normalmente, e deu o sinal para o intervalo.

Desci e fui para a cantina comprar sanduíche e suco natural. Coloquei na bandeija e resolvi sentar nas cadeiras do gramado, onde estava calor até demais. Procurei algum lugar vago e me sentei de costas para a quadra onde estavam os garotos do terceiro ano do ensino médio.

Coloquei em qualquer música aleatória no meu celular e comecei a comer observando as pessoas passarem pra lá e pra cá, cada uma com seu "grupo".Gaby e as demais patricinhas estavam rodeadas no "grupo" dos meninos do basquete. Os nerds estavam sentados com seus sucos e maçãs estudando em computador e tablets. Os que não querem nada com a vida jogando bolinhas de papel neles, os rockeiros com suas guitarras indo em direção a sala de música e mais à frente os "religiosos".Achei interessante a leveza que lá estavam, parecia calmo e alguma paz reinar sobre eles.Acabei de comer e fui andando até eles. Encostada numa árvore,observei eles cantando e tocando no violão uma música que dizia assim:

" Santo Espírito, és bem-vindo aqui
Vem inundar, encher esse lugar
É o desejo do meu coração
Sermos inundados por Tua glória, Senhor 2×

Tua glória, Senhor
Tua glória

Não há nada igual
Não há nada melhor
A que se compara à esperança viva
Tua presença

Eu provei e vi
O mais doce amor
Que liberta o meu ser
E a vergonha desfaz
Tua presença

Vamos provar quão real é Tua presença
Vamos provar a Tua glória e bondade
Vamos provar quão real é Tua presença
Vamos provar a Tua glória e bondade"

Incrível como me senti mais leve, uma paz pareceu me visitar.Fiquei observando as pessoas que estavam ali. Tão felizes, tão maravilhados. Sorrri com aquela sensação. O sinal tocou e fui de volta para minha sala. Aula de matemática,ah matemática!!

[...]

Assim que as outras aulas acabaram fiquei esperando do lado de fora da escola minha mãe me buscar. Muitos minutos se passaram e desisti de esperar. Fui andando até um ponto de ônibus próximo,sentei e fiquei esperando.

Minutos se passando e nada de nenhum ônibus que circula perto de casa. Alguém sentou em meu lado e me esbarrou com um violão no meu braço.

— Perdoe-me, foi sem querer! -disse uma voz masculina a qual parecia ter ouvido.

— Tudo bem! -disse sincera e olhei para o dono da voz. E estava certa, já tinha ouvido essa voz. O mesmo menino que estava tocando violão e cantando no intervalo.

— Acho que já vi você na escola. -disse ele puxando assunto.

— É, vi você hoje na hora do intervalo. -respondi simpática.

— Ouviu a gente cantar? -perguntou me olhando.

— Ouvi sim, achei interessante a leveza que parecia estar lá e resolvi ir escutar a música.

— Verdade,louvamos de coração! -disse sorridente.

Louvamos?

Sorri e finalmente o ônibus havia chegado.

— Vou nesse. -disse apontando para o ônibus. -Tchau!

— Tchau! -disse o menino e subi no ônibus.

Chegando em casa, joguei minha mochila na sala e fui para a cozinha jantar. Meu pai não tinha chegado e minha mãe com certeza tinha me esquecido na escola, se fosse outro dia ia ir reclamar com ela, mas hoje foi diferente, decidi não reclamar e ir tomar meu banho para fazer as lições.

Quando terminei,coloquei na mesma música que escutei na escola e fui dormir.

RecomeçandoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora