Prólogo

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Valentina

Sinto-me impotente, é isso mesmo, impotente. Sinto que não posso fazer nada. Qualquer coisa que eu faça, não faz diferença. Não importa se eu choro, se eu grito, se eu surto. A verdade é que nada disso adianta.

Apesar dos braços do meu marido ao meu redor, apesar do calor que exala do seu corpo para o meu, sinto um frio na espinha, e temo que nada e nem ninguém possa acabar com ele. Parece que ele está incrustado em mim.

As minhas lágrimas já acabaram de tanto que já chorei. A minha garganta dói, por causa dos meus gritos de desespero. Nada acaba mais com uma mãe, do que saber que o seu filho está correndo risco de vida e você não pode fazer nada.

- Minha flor, vai ficar tudo bem. Os médicos vão descobrir o que ele tem. Tudo vai se resolver. Eu apenas concordo com a cabeça, pois não quero discutir. - Vamos em casa para? Você toma um banho, descansa um pouco e come algo? Ele me pergunta. Nego com a cabeça. - Você não pode ficar aqui, minha linda. Você precisa se alimentar, você precisa cuidar da Lara.

Automaticamente levo a mão até a minha barriga, faço um carinho, me sinto culpada por ter esquecido, momentaneamente, da minha bebê, a qual está com sete meses de gestação. Com muita dificuldade digo:

- Thur, vamos comer algo aqui mesmo. Não quero ir para casa. Minha voz saí tão baixinha, mas ele me escuta e assente. Acho que ele se dar por satisfeito de ter vencido essa batalha, todavia sei que logo virá um segundo round.

Acompanho-o até a cantina do hospital, após pegarmos os nossos lanches nos sentamos em silêncio a mesa. Como lentamente, literalmente empurrando a comida goela a baixo. Estou distraída com o suco de laranja em minhas mãos, estou tentando ignorar o olhar pesado do meu marido sobre mim. Mas, não adianta. Respiro fundo e volto a encarar-lo. Contudo, sei que a minha cara não está nada boa, e o meu olhar pergunta: - o que você espera de mim?

Como se entendesse a minha pergunta subjetiva, o Arthur diz:

- Tina, eu sei que a situação é difícil, mas...

- Eu preciso ser forte, vai ficar tudo bem, tudo vai dar certo. E blá, blá, blá. Vejo a tristeza por em seus olhos, ele não diz nada, imediatamente sinto a minha consciência pesar. - Thur, só me deixe lidar com isso do meu jeito. Eu não sei ser de outro jeito. Já está tudo tão difícil, então não me cobre algo que eu não posso te dar. Tudo o que eu não preciso agora é corresponder as suas expectativas.

- Então, você está me dizendo que você tenta a corresponder as minhas expectativas? Você não percebe que tudo o que eu quero, tudo que eu admiro é você, é sua essência. Eu amo quem você é, com todas as suas qualidades e todos os seus defeitos. Poxa, essa doeu, penso quando me sinto ainda pior, diante dessa declaração. Por isso, tento me redimir:

- Eu não quis dizer isso. É que eu tenho feito de tudo para quea gente dê certo dessa vez. Estou me dedicando a você, eu quero te agradar, quero ver você feliz. Eu faço tudo para te fazer feliz.

- Valentina, eu não quero que você abra mão de você por mim. Eu quero você do jeito que você é, foi assim que eu me apaixonei. Você é perfeita para mim.

- Arthur, eu não vejo mal nenhum em querer agradar ao meu marido. Eu não estou mudando por sua causa, eu só estou dando tudo de mim por você e pelos nossos filhos. Agora, chega desse papo sem pé nem cabeça.

- Você está me afastando outra vez. Ele murmura. Olho para ele mais uma vez. Então, ele continua: - Você não me deixa te ajudar a passar por isso. Você está sozinha em sua dor, e eu estou sozinho na minha. Você se esquece que essa dor é nossa.

- Eu... Eu...

- Eu sei, você não se dá conta disso. É tão natural que você nem percebe que faz.

As lágrimas surgem novamente quando me dou conta do meu egoísmo. Eu estou aqui fechada em meu sofrimento por causa do Miguel, e me esqueci que ele não é só meu filho, ele também tem um pai, o qual está sofrendo tanto quanto eu por causa dessa situação. Ainda chorando, levanto, dou a volta na mesa e me jogo nos braços do Arthur.

- Desculpa, eu não faço por mal. Ah, meu amor. Lamento com o rosto aconchegado em seu ombro, enquanto ele me envolve com seus braços fortes.

- Shhh. Está tudo bem. Só não faz isso de novo. Se lembra que a gente prometeu que íamos ficar juntos em toda e qualquer situação, seja ela boa ou ruim. Eu não vou te abandonar e nem você a mim. Nós vamos passar por tudo isso juntos.

- Hum, hum. Concordo em seu ombro. - Eu te amo, tanto. Obrigada por me trazer de volta. Eu estava entrando em um lugar sombrio. Respiro fundo e suplico: - Não me deixe voltar para lá. Digo e me afasto um pouco para olhar em seus olhos, então completo: - Nunca, nunca mais.

- Minha flor, seu lugar é aqui nos meus braços. Eu nunca mais vou te deixar. Nós selamos a promessa com beijo casto, o alívio momentâneo, logo dá lugar a agonia. Mas, ignoro esse sentimento, pois sei que agora posso ser forte, eu tenho o meu marido ao meu lado. Então, a esperança preenche o meu coração. E eu digo para mim mesma: - tudo vai ficar bem.

IRONIAS DO DESTINO - LIVRO 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora