Capítulo 4 - De Dezesseis a Vinte e Seis

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Aquilo, sim, era estranho, mesmo que todo o resto tivesse já deixado de ser.

Mas Max estava diferente em atitude também. Ele não fazia comentários maldosos para mim, não exatamente. Nenhuma das vezes em que esqueci de tapar o rosto antes de sorrir, ele aproveitou para falar que eu era dentuça. Pelo contrário, se eu não tivesse deixado claro que precisava de um pouco de espaço e tempo, ele teria me beijado no mesmo dia em que saí do hospital.

De vez em quando, depois de passar horas em casa sozinha, tentando até aprender quem eu era, me dava vontade de rir. De histérica mesmo, de pânico, talvez. Rir de como era possível isso ter acontecido comigo. Rir quase de tristeza, senão só pelo absurdo de tudo. Rir da posição na qual me encontrava, noiva do cara que era para ser o mais idiota do universo. Mas a parte ainda mais inacreditável era pensar que ele me via de um jeito completamente diferente.

Jeito que, na maior parte das vezes, me fazia querer sair correndo para longe dele. E, de vez em quando, me dava vontade era de ir de encontro com ele.

Na segunda-feira, insisti que não me sentia bem o suficiente para voltar ao trabalho - principalmente quando ainda nem sabia direito onde trabalhava, - e ele entendeu. Me tratou como um vaso delicado o resto do dia. Não cozinhou para mim, mas mandou nossa chef particular cozinhar. Não vinha me perguntar como eu estava, mas instruía a empregada a mantê-lo informado. Passou quase o dia todo na academia, mas deixou claro que me ajudaria a voltar a malhar quando eu estivesse melhor.

Acreditar que eu aceitei me casar com ele até parecia plausível perto da possibilidade de eu malhar por livre e espontânea vontade.

Na terça, ele já estava um pouco mais presente. Juliana, aquela mulher da voz aguda, voltou, perguntando se eu estava melhor para discutir nosso casamento, que estava marcado para dia dois de abril. Aparentemente ela é nossa assistente de relações públicas. Ele não deixou que ela falasse sozinha comigo, mas não ficou do meu lado. Ficou do dela, me incentivando a voltar para o trabalho, a rever meu discurso para o evento de caridade que seu time estava organizando, a decidir um sabor de bolo para o casamento.

E foi nesse momento em que eu explodi. Não estava irritada, nem brava. Mas estava exausta, cansada demais de me sentir constantemente afogando em informações de um mundo completamente novo e sem ninguém entender como isso era para mim. Praticamente gritei que tinha me esquecido de dez anos, que não conseguiria voltar para o trabalho naquela tarde, já que eu não conseguia nem me lembrar de quais matérias tinha estudado na universidade. E, apesar da presença de Juliana, acabei soltando também mais do que deveria sobre Max e eu.

Falei que não sabia estar naquele relacionamento - ou em qualquer um, - que nem reconhecia a mim mesma, que não sabia como poderia continuar com aquele noivado.

Mas, assim que falei essas palavras, senti meu coração acelerar. Talvez tenha sido pela expressão no rosto de Max, de quem sentia minhas palavras como cortes em sua pele.

"Mas eu quero continuar," completei, para salvá-lo de tamanha decepção. "Quero continuar com o noivado."

E era verdade. Algo em mim não saberia dar para trás, ainda que eu não entendesse direito o que sentia e quem era.

Depois disso, saí correndo e fui me esconder em meu quarto. Pouco depois, Max apareceu lá, se sentando do meu lado na cama.

"Eu não entendo o que está acontecendo com você, Bree," ele disse, não como quem acusava, mas como quem estava se esforçando ao máximo para mudar aquilo.

"É como se eu tivesse acabado de te conhecer," falei, abraçando meus joelhos como uma garotinha. "Por isso tudo é tão estranho para mim."

Não ousei ver sua reação. "Mas nós nos conhecemos desde crianças."

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora