Tree Girl

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Kimberly

- Aqui! Cheguei. - anuncia Tom deixando a bicicleta de lado e andando em direção á Tenda.
- Não entra! Eu preciso de mostrar uma coisa. - digo deixando o skate com sua bicicleta. Corro e passo em sua frente. Havia feito uma tela com sua silhueta de costas, seu corpo com tons de amarelo como sua alegria, azul como sua mágoa, verde como sua esperança de que tudo se encaixe, roxo como os mistérios de frases incompletas e indecifráveis ditas por ele, vermelho como a intensidade. As cores esvaiam de seu corpo como se fosse uma nascente de rio.
- Vai logo! Eu estou ansioso!
- Pronto, está... - digo trazendo a grande tela em minhas mãos enquanto saio da Tenda - aqui. - viro a tela e sua expressão é de total espanto, ruim ou bom, ainda não sei.
- Isso é eu? Você me desenhou? Meu Deus! Isso é demais! - ele diz movimentando as mãos direcionadas para o quadro. - Está incrível, sério.
- Obrigada... - digo e entrego para ele que olha uma pouco confuso. - É para você... Sabe, não é só porque vou mudar de escola que não podemos mais sermos amigos, estamos nessa faz tempo... - minha voz vacila um pouco, meus olhos ardem e me dá um nó na garganta. Ele pega a tela e entra comigo na Tenda. Posiciona a pintura sobre o chão e me abraça fortemente.
- Está tudo bem, vai ficar tudo certo, já passamos por situações piores. - ele diz, com os lábios pressionados em meus cabelos negros e me dando cafuné. Me pressiono contra ele e começo a chorar, as lágrimas caem como se não fossem parar, e o único barulho era meu soluço e sua voz dizendo insistentemente "Está tudo bem.", mesmo ele sabendo que não. Meus pais estavam em uma crise, os seus não muito diferente, a situação é insuportável. Somos insignificantes nessa imensidão, e ainda assim deixamos nos persuadir por coisas bobas. Ele se deita, comigo em seu peito e coloca um cobertor um cima de nós dois. Dormimos. A escola começa em dois dias, algo surpreendentemente rápido, ou não considerando que estamos entrando em período escolar no país inteiro. Voltamos para casa, minha mãe logo me liga dizendo que talvez não volte hoje a noite, assim como meu pai. Comprei os materiais novos semana passada e já tinha organizado tudo, só faltava chegar o dia e a hora.

*Dois dias*


- Mãe? Para. Pronto... - digo afastando algo que me chacoalha e me levanto devagar.
- Não sou Ma... Sua mãe. - diz meu pai um pouco impaciente.
- Ok. Vou me arrumar, tem café aqui ainda e eu vou sozinha, pode ir. - digo indo até o banheiro para lavar o rosto. Volto para o quarto e coloco o resto de café na xícara. Tomo o mesmo em quase um gole e escovo os dentes, troco o confortável pijama por uma calça skinny jeans clara com rasgo em um só joelho, um moletom verde-musgo á um palmo e meio do joelho e uma bota clássica UGG preta. Pego a mochila e ando até o ponto de ônibus.
    As vezes, penso como seria encontrar o parceiro ideal em lugares tão fúteis assim como nos filmes. É tudo tão... não natural? Poucos filmes contém uma versão mais verdadeira sobre a vida, mesmo que se conheçam em lugares fúteis, depois se apaixonam e toda a melancolia restante, alguns mostram que não é para sempre, e depois que aquela época apaixonada se passa, ou as pessoas não lembram, ou riem enquanto contam a história. O ônibus chega  e entro nele, estou dormindo um pouco ainda então quase caio. Sento no último e maior assento, me encostando na janela com as pernas esticadas sobre o resto do banco. Coloco os fones e ouço atentamente a música enquanto pego no sono....

- Ei... Desculpa, é que... o ônibus, não tem lugar... - ele ri. É bonito, tem olhos e cabelos negros que realçam a pele branca. Suas maçãs do rosto bem marcadas e o lábio perfeitamente rosado. Recolho a minha perna e me desculpo silenciosamente. O ônibus logo chega e saio quase correndo dele, o garoto estava me deixando tonta, a presença dele não me deixava confortável, é como se fosse estranhamente familiar.... Familiar de um jeito ruim.

    A escola é grande, assim como a quantidade de alunos. Não vou passar a eternidade aqui, consigo suportar um pouco pelo menos. Diferente da outra escola, que era consideravelmente menor, parecia que por serem muitas pessoas, não ligavam e não sabiam do segredo de todos o que é ótimo, mas ruim ao mesmo tempo pois é mais difícil de conversar com os outros. Fui ingênua ao pensar que conseguiria me localizar facilmente então não precisaria ler o mapa e fazer uma "volta pela escola".  Minha sala é 2-A, tento procurar no mapa.

- Ei, qual vocês caíram? - ouço uma garota perguntar. - 2-A.

    Talvez não estivesse com tanta má sorte...

- Acho que todos caímos na mesma, Clary, a não ser por Nathan que caiu com Demetria, a "mulher de sua vida, oooh"- me viro para ver a encenação do garoto que está com a cara contorcida e a mão no peito. Sua pele era mulata e seu cabelo castanho-escuro como seus olhos. - Ele não quis vir com a gente, está com ela, dormiu em sua casa.

- Coitados, tão apaixonados... Como se fosse em um filminho onde o céu é o limite e eles não vão se separar, porque está escrito nas estrelas... Que lindo. - ela pausa e se espreguiça - Bom, vamos lá criaturas! Temos que escolher nossos lugares, a realeza sempre primeiro. Mas não somos a realeza.

- Deixa pra lá, entendemos. - um garoto ruivo com piercings na boca fala e ela assente.

- Ótimo. Lindo.

    Como se não os tivesse seguindo, continuei andando á alguns metros daquele grupo. Eles estavam na mesma sala do que eu, e eu não sei aonde devo ir, a melhor opção é segui-los. Me distraio com a arquitetura enquanto caminhamos, esqueci de prestar atenção no trajeto, então acho que não vou sair muito da sala... De vez em quando ouço xingamentos, risadas e vozes sarcásticas e maliciosas vindo de lá. Percebendo mais de perto, havia uma só menina. Era provavelmente do meu tamanho, um pouco mais alta. A pele clara e os cabelos castanhos, como uma árvore recém-plantada, fresca, jovem. Não vi seus olhos, só de relance mas parecem verdes como uma planta na primavera que um dia vai cair seca em uma cor marrom âmbar com traços avermelhados, alaranjados e amarelados. Cores quentes. O quente resseca, queima e destrói. A maioria das pessoas no grupo usava roupas escuras ou branco, era um pouco estranho, confesso, mas não desgosto. Era um tipo de identificação. Chegamos á sala de aula, uma placa grande anunciava:

"SALA 2-A, BEM VINDOS DE VOLTA AS AULAS"

   A garota se vira, e agora consigo ver seus olhos claramente. Estou encostada em um grande vão á alguns metros. Seus olhos são verdes como disse antes, ela me lembra uma floresta. De alguma forma desafiadora e perigosa, verdadeira e misteriosa com angústia, medo e amor por trás da película de bravura e valentia que usava para se esconder. Consigo lê-la como uma carta. Um minuto se passa e decido entrar na sala, determinada como se soubesse onde estava indo. O lugar onde me sentei era do outro lado da sala, no fundo. Quatro cadeiras de distância da minha. Algo naquela garota me atraía, meu olhar não se desviava, era como um imã e eu não posso evitar. Quero falar para ela, com ela. É como se algo estranho estivesse acontecendo, quase como se ela estivesse me obrigando á fazer isso. Ela olha para mim, como se conseguisse se sentir observada. Nessa fração de segundos, meu subconsciente estava funcionando não meu consciente. Teria desviado o olhar, mas o fiz tarde demais, hora errada para se desligar, Kimberly.

WoodsWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu