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São Paulo, 2002.

Meu querido marido tem os olhos azuis, como o mar lindo mar. Lindo como ele é. Ele tem mãos escassas devido ao trabalho. Lembro-me bem quando mamãe obrigou-me a casar com ele, mesmo tendo apenas quinze anos. Casamos – dois anos antes de começar sua violência – ele,  com 20 anos e eu junto dos meus quinze, por tanto, aos dezessete ficava em casa, na nossa casa – minha e de meu querido marido.

''Uma lembrança dele?'' – pedira-me, a mulher ao fundo. 

Sem fechar os olhos por muito tempo, apenas soltei. A lembrança da cena, do dia, eu via em tons azuis, com uma brisa fria e que me passava temor, passava naquele dia, porque com o passar do tempo, continuou em tons azuis mas o temor não era o mesmo, era pior. Ele chegou a casa, sentou-se na cadeira, e apoiou seu braço direito sob a mesma. Pensei no momento que tivera sido demitido, mas como?! Calado sem trocar qualquer palavra comigo, pior do que o normal. Não somos o casal mais amoroso, garanto-lhe, mas ali, naquele momento, eu com 17 anos e alguns meses e ele 21, não conseguia soltar nada, talvez a culpa fosse minha.

– Você poderia ajudar mais. – indagou – mais do que apenas cuidar da casa. Não temos filhos. 

A culpa é minha, pensei. 

Levantou-se, quieto e caminhou para o quarto. Quando vi que já não estava mais ali, desabei sobre a mesa por alguns minutos, depois corri para frente do espelho. Limpando meu rosto, vendo o quanto estava inchado por causa do choro. Joguei água, e sequei-o. Encarei meu reflexo e me perguntei coisas como: ''A culpa é minha?'' ''Conseguirei um trabalho?''

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⏰ Última atualização: Jun 10, 2017 ⏰

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