Capítulo - I

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Há dias aquela enxaqueca acompanhava Alfonso, há dias ele não conseguia se concentrar direito em seus afazeres ou até mesmo em seu trabalho e, ele sabia muito bem o porquê, já que essa semana completaria dois anos que ele havia perdido sua ex-mulher. Aos vinte e cinco anos, Alfonso Herrera se achava novo demais para já carregar o titulo de viúvo, já que há quase dois anos perdera sua esposa que cometera suicídio devido a sua depressão que havia se agravado – principalmente depois que ela descobrira que não poderia engravidar e ter o filho que ambos tanto queriam.

Há meses Alfonso finalmente abrira seu próprio consultório, depois de concluir sua pós graduação e por fim aceitar uma sala em um dos importantes edifícios que levavam o nome de sua família – Herrera Rodriguez – formado em psicologia, Alfonso esperava que pudesse fazer pelos outros, o que não fora capaz de fazer por sua esposa, que tirara sua vida pouco tempo depois de seu segundo aniversario de casamento.

Cansado de ficar sentado na sala de seu consultório – após pedir para sua secretária desmarcar todas as consultas daquela manhã – Alfonso por fim decidira ir até a farmácia comprar um remédio para tentar aliviar sua enxaqueca, já que a dor já começara a impedi-lo de trabalhar.

Alfonso havia acabado de pedir seu remédio quando vira uma mulher – loira, de olhos extremamente azuis, que aparentava ter em torno de 20 anos – entrar na farmácia olhando para os lados, tentando se esconder, como se estivesse prestes a fazer alguma coisa errada. Atento e curioso ao que ela estava fazendo, não conseguiu mais tirar seus olhos dela, e viu, quando tremula e gaguejando, ela pedira um remédio para a farmacêutica que lhe atendera, o mesmo remédio que há quase um ano Alfonso tentava conseguir na justiça que fosse vendido apenas com prescrição médica.

Assim que a mulher esticou seu braço para pegar o remédio que a farmacêutica lhe entregara, Alfonso pode ver as marcas em seu pulso e, naquele momento, soube que de alguma maneira precisava ajudá-la; primeiramente pensou em se oferecer para tratá-la, mas ficou com medo que isso a assustasse, mas a sorte pareceu lhe sorrir quando ele percebeu que ela havia corado após lhe olhar de canto, envergonhada, e isso era o que ele precisava para ir atrás dela, seguindo-a até a fila do caixa – depois de pegar seu remédio – para tentar puxar um assunto e assim ganhar sua confiança.

Assim que se aproximou da jovem loira, Alfonso percebera que ela era muito mais bonita do que ele havia reparado, sua pele clara – que agora estava levemente corada – possuía leve sardas espalhadas por seu rosto – e ele sempre fora louco por sardas – seus olhos extremamente azuis, embora parecessem tristes, ainda mantinham um brilho diferente, difícil de ser explicado e, seus lábios carnudos, pareciam macios e muito convidativos.

A mulher baixou sua cabeça, voltando a corar, assim que viu que Alfonso a observava, e ele sorriu, sabendo que aquele seria o momento ideal para começar uma dessas conversas sem sentindo que sempre surgiam em filas. Fora então que novamente a sorte pareceu lhe sorrir, e ele vira que a mulher a sua frente usava um anel de ouro branco, com uma pequena pedra de rubi, e ele logo reconheceu esse modelo de anel, afinal, todos em sua família – exceto ele –, possuíam um anel como esse, já que todos eram formados em direito e exerciam a profissão, que havia se tornado um negocio muito lucrativo para a tradicional família Herrera Rodriguez.

– Advogada? – ele perguntou apontando para o anel.

– Formada em direito, mas não exerço a profissão – respondeu, sem demonstrar muito interesse naquela conversa, e Alfonso logo percebera sua frustração quanto a sua profissão.

– Por quê? Descobriu que não gostava da profissão depois que se formou? – perguntou tentando saber um pouco mais sobre ela.

– Não, eu sempre soube que essa seria a profissão ideal para mim – respondeu, desde pequena ela sempre soube qual profissão queria ter, e antes de se formar, havia traçado um plano para sua vida, almejando em menos de cinco anos, estar trabalhando em um dos melhores escritórios de advocacia do país, que pertencia a tradicional família Herrera Rodriguez, mas nos últimos meses, todos os seus sonhos começaram a lhe parecer inalcançáveis, e ela decidira que era besteira traçar metas e planos que nunca conseguiria alcançar.

– Então por que não exerce a profissão? – perguntou interessado em saber mais sobre ela.

– É uma profissão bem concorrida, não é tão fácil quando se está iniciando a carreira – disse, ainda sem demonstrar interesse por aquela conversa.

– Qual a sua área? Cível, criminal, tributário, imobiliário, empresarial...? – perguntou, vinha de uma família de importantes advogados, por isso conhecia mais do que queria sobre a profissão, que detestava por seus pais tentarem lhe forçar a seguir.

– Cível. – respondeu, assim que chegou sua vez de passar no caixa.

– É o que eu chutaria. – disse, tentando continuar aquela conversa.

– Por quê? – perguntou curiosa quando ele parou no caixa ao seu lado.

– Das áreas que conheço, acho que cível parece se encaixar mais ao seu perfil – comentou, a mulher a sua frente não parecia o tipo de pessoa altamente confiante para trabalhar na área criminal e, chutando por sua aparência e pelas áreas que ele conhecia, a cível era a que parecia melhor se encaixar com aquela mulher.

– Ao meu perfil? – perguntou curiosa, guardando seu troco no bolso de sua calça jeans. – Mulher, tipicamente frágil, menos inteligente...

– Não – ele a interrompeu enquanto a seguia para fora da farmácia, não esperava que ela estivesse tão na defensiva, então se xingou mentalmente, sua intenção era se aproximar daquela mulher, não a afastar como provavelmente faria se ele continuasse com aquele assunto. – Isso não foi o que eu disse, não acho que seja uma área para mulheres, estamos no século XXI e eu seria um idiota se fizesse um comentário como esse.

– Me desculpe – disse visivelmente envergonhada, ficando ainda mais bonita quando corava.

– Não se desculpe, eu que me expressei errado – ele coçou sua nuca sem saber o que fazer para prender a atenção daquela mulher àquela conversa, já que ela parecia inquieta, querendo se afastar dele. – Apenas disse que a área parecia se encaixar melhor a você porque você me parece o tipo de pessoa observadora – comentou, seu pai sempre lhe dizia que era bom em sua área, que era a mesma da mulher que estava a sua frente, agora lhe olhando surpresa, por ser um bom observador. – Alfonso – ele se apresentou esticando sua mão para cumprimentá-la, assim que viu que ela nada responderia.

– Anahí – disse, apertando a mão do moreno atraente que olhava fixo em seus olhos e tinha um aperto de mão forte e decidido.

Anahí sempreacreditara que a forma como uma pessoa apertava sua mão podia dizer muito sobrea mesma, e o aperto de mão de Alfonso mostrava o quanto ele era uma pessoaconfiante e seguro de si, o oposto dela, que no momento se sentia insegura enão acreditava em si mesma.

Antes que o dia termine {Mini - Finalizada}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora