UM

7.7K 590 65
                                    


2014

Ainda era bem cedinho quando desci para o Central Park.

O sol começava a despontar por trás das árvores e eu queria deitar e absorver o calor enquanto ele ainda não estava insuportável. A grama estava muito verde, lisinha, seca e muito convidativa.

Resisti aos impulsos de me entregar à prostração e me alonguei para minha corrida matinal.

Inspirei e expirei várias vezes o ar mais puro de Nova York.

Eu estava em um ponto onde a copa das árvores quase bloqueavam minha visão dos arranha-céus de Manhattan.

Todo o estresse dos dias anteriores se dissipou em meio à paz de ouvir os passarinhos cantarem e um ou outro cachorro latir ao fundo.

Mentalmente, organizei minha rotina do dia:

9:30am: ler o jornal com papai
10:30am: encontrar com Susan na Kleinfeld
12:30pm: almoço no Elmo com Mariah
3:00pm: reunião com Mark no escritório
5:00pm: reunião com Beatrice no escritório
7:30pm: jantar com Benjamin
9:00pm: massagem em casa

Benjamin não demorou muito para chegar, já quicando de um lado para o outro para não deixar que o corpo esfriasse.

Minha relação com Ben não era muito boa antes dele se tornar meu namorado, há oito anos.

Tivemos alguns percalços no começo, quando ele me pediu em casamento duas vezes no mesmo ano, quando ele julgou que estava na hora. Confesso que, inclusive, a última vez foi quase traumática. Ele me pedira em casamento na festa de ano novo, no minuto da virada do ano de 2009 para 2010, com um anel de brilhantes do tamanho de uma maçã.

- Bom dia, Liz!

- Bom dia, meu amor.

- Preparada? Hoje você vai comer poeira!

E sem nem me cumprimentar direito, ele já partiu em disparada para dar a volta no parque.

Fiquei alguns segundos, que mais pareceram uma eternidade, encarando suas costas se distanciarem de mim. Eu o alcançaria sem delongas.

Correr me ajudava a esquecer dos problemas do dia anterior e limpar a cabeça para os compromissos do dia seguinte.

Susan era uma noiva complicada. Ela tinha um orçamento apertado, mas não abria mão de um vestido deslumbrante. É claro que toda noiva quer se sentir a mulher mais linda do mundo, mas, para ela, um vestido bonito significava um vestido caro. Eu apresentei diversas opções mais baratas, mas ela não parava de falar de um Pnina Tornai que ultrapassava e muito o seu limite de mil dólares.

O encontro com ela não seria dos melhores, mas pelo menos eu conseguira encaixar Mariah para um almoço. Ela era uma noivinha mais nova do que eu, com apenas 18 anos. Mas estava grávida e concordou em casar com o namorado para agradar à família. Tudo para ela estava ótimo, que queria uma cerimônia simples no jardim da casa dos pais, em New Jersey. A parte mais complicada era conciliar com a extravagância da mãe, que queria convidar metade da cidade.

Mark era meu cliente atual preferido e meu melhor amigo. Ele se casaria com Jonathan no terraço do MET em alguns meses. Para mim, era um trabalho duplo, porque, além de organizadora, eu também seria a madrinha.

E por mim, minha última cliente do dia seria Beatrice. Seu casamento seria na próxima semana e faltava só acertar os últimos detalhes.

- Te vejo mais tarde?

Eu não tinha reparado que o tempo passara tão rápido. Já tínhamos dado a volta inteira no parque e Ben precisou chamar minha atenção para que eu parasse.

Para Sempre Nova York  [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora