Capítulo 4: Lorena

Începe de la început
                                    

— Mas você sabe cantar?

— Fiquei toda a minha vida naquela porcaria de coro de igreja, garoto. Claro que sei cantar!

Ele me olhou e piscou algumas vezes, como se tentasse entender o que eu estava falando. Enfim comentou, voltando ao jornal.

— Você só ficava balançando no fundo, abrindo e fechando a boca.

Parei de me balançar na cadeira e o fitei ofendida. Será que todo mundo me via apenas fechar a abrir a boca? Estava tão nítido que fazia aquilo porque meu pai era a porcaria do pastor?

Peguei uma peteca decorativa que estava no armário atrás de mim e joguei na cabeça dele, que desvio com rapidez e saiu da minha mira quando levantou até a máquina de café.

— Ok, não está mais aqui quem falou. – Ele ergueu as mãos se rendendo e enchendo um copo.

Virei meu corpo para a janela do lado da minha mesa. A vista dava para a piscina. O dia hoje estava escaldante, mas as rajadas de vento que entravam por ali faziam meus cabelos do braço se arrepiarem. Levantei para fechar a janela e avistei as figuras na beira da piscina, brincando com os pés dentro da água.

O italiano boçal, o maricas filhinho da mamãe e o imbecil maior. Adônis, Samuel e Klaus.

Os três estavam de sunga e riam enquanto conversavam. Pelo visto todos faziam parte da equipe de natação também. Não me lembrava de tê-los visto por essa janela, mas provavelmente era porque não costumava ficar olhando a paisagem, apesar de ser uma senhora visão. Os pinheiros enchiam o horizonte e a planície verde dançava com o vento no caminho até a escola. O prédio chamuscado ficava depois do ginásio, ou seja, eu ainda sentia o cheiro de onde eu estava. Um calafrio me encheu quando me lembrei da madeira cedendo sobre o meu corpo e o fato de que certamente eu morreria se Klaus não tivesse chegado. Odiava dever favor a alguém, mas ele tinha sacaneado comigo no pior grau de traição, e isso me isentava de qualquer obrigação para com ele. Eu sei que ele escondeu meu machucado da turma, e o fato de que eu era quem escrevia as matérias sobre o grupo de música, mas isso não significava absolutamente nada. Não é?

Levei a mão ao pescoço e puxei com delicadeza o xale, me certificando que o murro do meu pai não apareceria para toda a escola.

Eu estava furiosa e me sentindo impotente.

Tinha incendiado um prédio e pagaria os danos do laboratório com trabalhos comunitários. Meu namorado tinha fugido por teimosia. Eu tinha apanhado e ouvido minha mãe apanhar enquanto estava ajoelhada no milho, o que me rendeu vários outros pontos, uma perna arrastando e um orgulho ferido; e finalizando eu tinha sido punida e jogada no circo dos horrores que era aquele grupo de música.

Lembrei-me do rosto apavorado de Klaus quando o Gustavo falou que eu estaria no grupo. Sorri. Ele era um babaca, mas era um babaca cômico.

E se eu provasse para eles que eu poderia fazer aquilo?

Eu iria cantar para uma multidão no Festival e isso era fato. Só que eu tinha duas opções: escolher entre ser um astro e deixar as pessoas babando por mim, ou ficar balançando no fundo esperando que a maluca do cabelo azul ou a sininho roubassem uma fama que poderia ser minha. Não fazia questão por glória artística, mas adoraria vê-los engolir o que falaram sobre mim.

Contudo ainda haviam as lembranças, e elas tiravam minha coragem. Eu não cantava desde que Diego tinha ido embora, a não ser que o chuveiro contasse.

Diego era a minha melhor memória dos momentos de criança. Ele tinha aquela facilidade de me dar sorrisos mesmo quando o mundo me dava lágrimas. Fomos ambos massacrados pelas atitudes de meu pai, mas fomos salvos das noites de tempestade nos braços um do outro.

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