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"Hey, Michael, te trouxe isso."

Ashton, também conhecido como o meu único e melhor amigo, me estendeu um copo vermelho de plástico.

"Não precisa agradecer." disse, os lábios esticados em um sorriso repleto de segundas intenções.

Aproximei o meu nariz do copo e logo me arrependi, afastando o cheiro forte de vodka.

Arqueei a sobrancelha na sua direção.

"Eu não ia." admiti.

Ele fingiu uma expressão triste, colocando a mão sobre o peito.

"O que você quer?" perguntei, indo direto ao ponto. Joguei o copo no lixo mais próximo.

"Quem disse que eu quero alguma coisa?" disse, ofendido. "Não posso querer fazer algo legal pelo o meu melhor amigo?"

"Hum," soltei uma gargalhada. "não. Você não faz caridade."

"Você pensa tão pouco de mim."

"Penso mesmo."

"Bem, eu não quero nada."

Encarei ele em silêncio.

"Ok!" Ashton revirou os olhos. "Não precisa me olhar desse jeito também. Tá, eu preciso da sua ajuda."

"Com o quê?"

"Tá vendo aquele garoto?" ele se virou para a pista de dança.

"O ruivo? Até que é bonitinho. Mas, não faz muito seu estilo."

"Não é ele! Mais para a direita. O loiro."

"Ah," murmurei. "aquele que parece uma garça com dor de barriga dançando?"

"Ele mesmo." sorriu. "Eu preciso que você distraia ele por uns minutinhos para que eu possa falar com o garoto moreno do lado dele."

"Por quê a presença dele vai te atrapalhar? Timidez não é um dos seus traços mais atraentes." comentei.

"Eu sei, mas, toda vez que eu tento falar com o amigo dele, ele me olha como se eu fosse estúpido."

"Você é mesmo." concordei.

"Ele não precisa saber disso ainda, certo? Então, você vai me ajudar ou não?"

Desviei o olhar de novo para o garoto loiro. Apesar de ser o dançarino mais desastroso que eu já tinha visto, ele continuava a sacudir os braços no ar como se ninguém estivesse olhando para ele. E aquilo me fez sorrir.

"Claro." me dei por vencido.

Ashton bateu palmas, me puxando para um abraço apertado.

"Você é demais." sussurrou no meu ouvido. "Vamos lá."

Me aproximei dele, me espremendo entre os corpos suados.

"Gostei dos seus passos." gritei no seu rosto, tentando soar mais alto que a batida.

Ele abriu um dos olhos.

"Mentiroso." acusou, com um pequeno sorriso.

"É sério." reforcei. "Mas, e aí, você vem sempre aqui?"

Ele parou de dançar, me encarando com um certo desprezo.

"Pior que sim. E, felizmente, nunca tinha te visto. E suas rimas são péssimas."

"Não era para rimar."

"Que pena." deu de ombros.

Cruzei os braços.

"Wow, você é bem rude." apontei, erguendo o canto da boca. "Acho que eu gosto."

"Não me lembro de ter perguntado." disse, limpando o suor da testa.

"Não me lembro de ter perguntado se você tinha perguntado." rebati.

"Não me lembro de ter perguntando se você perguntou que eu tinha perguntado." fez um biquinho.

Ri alto.

"Wow, esse joguinho é complexo demais para mim." mordi o lábio. "Por quê não acabamos ele com você me dando seu número?"

Foi a voz dele de rir.

"Sem chance."

"Eu sei, você acha que eu sou um idiota."

Pela primeira vez, o outro me mostrou um sorriso verdadeiro.

"Pelo menos, nisso nós dois concordamos."

rude ☹ [lrh + mgc]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora