Parte 1

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- Querido, você está pronto? - Ashira perguntou adentrando aos aposentos do filho, o encontrando na janela, parecia absorto em seus pensamentos. Ela aproximou-se e tocou em seus ombros, o despertando.

- Seu pai teria orgulho de você, meu filho - disse com os olhos brilhando de emoção, Raviv virou-se e a fitou, os olhos castanhos e as rugas em volta dos olhos, demarcavam o quanto ela havia lutado durante sua vida, principalmente após a morte do esposo, mas continuava tão bela e forte, ele só tinha a agradecê-la por toda dedicação.

- Eu sei mãe, Jeová tem cuidado de nós - disse tomando a mão de sua mãe e depositando um beijo, enquanto uma lágrima descia pelo rosto dela ao encontro de um sorriso que se formara em seus lábios.

Raviv a olhou e sorriu, saindo de vez de seus devaneios, precisava cuidar de seus negócios na feira, pois já passava das nove horas da manhã. Arrumou sua manta de seda sobre os ombros e despediu-se de sua mãe.

Ao chegar ao mercado, olhou para seus empregados e sentiu seus músculos enrijecerem, eles não davam atenção aos clientes na venda dos tecidos, mas cochichavam e sorriam uns com os outros. Será que eles estavam se aproveitando de sua boa vontade?

- O que está acontecendo aqui? - perguntou aproximando-se e olhado Misseys nos olhos. O homem de cabelos brancos e calvo, e rosto enrugado o fitou também, temendo por um olhar que não reconhecera o grau de desconfiança. Seu jovem patrão desde muito moço cuidou dos negócios e propriedades de seu pai, após a morte, mas sempre fora muito benevolente com seus servos.

- Meu senhor, perdão! - Misseys abaixou os olhos e fitou o chão, temeroso. - É que, que... o senhor... - disse gaguejando, enquanto os outros servos dedicavam-se com afinco em trabalhar, não sabiam se deveriam ter medo, ou confiar na sempre bondade de seu senhor. Ele não parecia tão satisfeito no momento.

- Não gagueje, Misseys! - pediu firme, com uma linha fina formando-se em seus lábios. O que acontecera para que os empregados ficassem tão eriçados? Tinha medo de ter acontecido alguma tragédia às suas finanças e o empregado de confiança o estivesse escondendo, dado sua gagueira momentânea. - Vamos, conte-me o que estava acontecendo aqui!

Ainda fitando o chão, respirou fundo e respondeu: - Meu senhor, nos perdoe, não pretendíamos ser displicentes com a venda, mas o Nazareno chegou à cidade e muitos passaram por aqui falando de coisas incríveis que ele está fazendo... - deu uma pausa, levantando o rosto e Raviv viu um brilho irradiar dos olhos cansados de seu velho servo. - São milagres, meu senhor!

- Milagres? - pensou enquanto sentia as linhas de preocupação se desfazendo de sua testa, relaxou e esboçou um sorriso.

- Conte-me mais Misseys, quem é este homem? - ouvira boatos a algum tempo atrás de um homem que se dizia o Messias, bom, ele estivera tão ocupado nos últimos tempos que não lembrou-se mais da história, mas agora o homem estava em sua cidade, ele deveria encontrá-lo e ver com os próprios olhos se de fato era verdade.

- Sim, meu senhor. Ele é o Messias, eu mesmo pude ver com esses olhos aqui! - proferiu tocando sua visão com as mãos, seu sorriso, faltoso de alguns dentes, não escondia a alegria que sentia, era como se fosse outra pessoa, não era o Misseys do dia anterior.

- E onde posso encontrá-lo? Diga-me! - exigiu com pressa. Sempre fora fiel ao Deus dos céus, agora, se realmente fosse verdade, se aquele fosse o Messias tão esperado, ele desejava encontrá-lo e tocá-lo, poder andar com ele, afinal, o Messias devia ser exigente com seus companheiros e ele era ideal para ocupar o cargo, sempre fora um homem bom e de caráter, sem falar que poderia ajudar o Messias com seus talentos em gerenciar. De fato, precisava o encontrar logo!

- Agora eu não sei, meu senhor, mas bem cedo ele passou por aqui e pudemos vê-lo - Misseys sorriu gentilmente e foi dispensado para voltar ao trabalho.

Raviv sentiu em seu coração um desejo ardente de conhecer este homem, ele pressentiu algo lhe impelindo a procurá-lo. Em seus pensamentos, tramava um plano de onde começar a procurar pelo suposto Messias, como era um homem notório entre a população, não deveria ser difícil encontrá-lo. Ao virar-se para começar sua procura, seus olhos pousaram sobre uma bela jovem, sua cintura estava demarcada por um belo vestido de finos tecidos, sua cabeça estava adornada com uma bela joia, e em seus braços estavam delicadas pulseiras de ouro, ele bem lembrava quem as tinha posto lá. Seus cabelos estavam soltos sobre os ombros, combinando perfeitamente com seus olhos negros, Raviv prendeu a respiração para admirar a bela jovem que tanto desejava casar-se, em pouco tempo teria o desejo de seu coração atendido, assim esperava.

- Posso saber o que minha bela noiva procura a esta hora da manhã? - inquiriu controlando um ímpeto de segurar sua delicada mão e depositar um beijo.

Ela sorriu e fez uma simples inclinação de cabeça, como forma de cumprimento.

- Meu senhor, eu precisava tomar um pouco de sol, sinto que estou cada vez mais pálida de tanto ficar em casa - sorriu cortês e olhou para a face jovem, porém tão máscula, do homem a sua frente, que havia prometido amor a ela e uma vida de rainha, sonhos que desejava tão logo alcançar.

Seus olhos caramelos a fitavam intensamente, ele levou a mão até o rosto e passou sobre a barba rala, como se a estudasse. Ele observou partes dos braços da moça que estavam a mostra e constatou que estava tudo absolutamente no lugar, a cor parda era perfeita para ela.

- Minha querida, não vejo motivos para essa preocupação - disse aproximando-se e depositando suas fortes mãos nas costas tão delicadas da jovem, a convidando para uma caminhada pela feira.

Enquanto caminhavam, pessoas o cumprimentavam pelas ruas, e alguns cochichavam a seu respeito, ele sabia o que diziam sobre ele, graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, ele havia se tornado um homem respeitado, tanto por sua astucia com os negócios deixados pelo pai, que multiplicaram-se, quanto por sua bondade com os pobres, sempre dando esmolas e se importando com todos, de fato, era um homem abençoado.

Pararam em uma barraca onde joias de todas as formas e com pedras de variadas espécies eram expostas, sabia como agradar sua futura esposa e isso custaria tão pouco financeiramente, mas renderia sorrisos sem preço da linda jovem ao seu lado.

- Traga-me a mais última novidade! - exigiu ao servo que estava atendendo. - O que tiver de mais belo e melhor!

Não demorou mais do que três minutos e o moço já havia encontrado a melhor joia. Um colar revestido de safiras e ouro, com pedras reluzentes. Raviv olhou para a jovem e viu brilho em seus olhos, de fato, soube que alcançou seu objetivo.

Enquanto a ajudava a pôr o colar em volta de seu delicado pescoço, um de seus empregados chegou próximo dele e o chamou cautelosamente.

- Senhor... uma de suas propriedades foi invadida... estão roubando toda a plantação de milhos - o jovem servo informou apreensivo.

- Como?! - inquiriu em um brado, não acreditava que um bando de salteadores estava a roubar-lhe novamente. Antes que o jovem repetisse novamente a situação, Raviv pôs-se a caminhar, mas lembrou-se de sua noiva, que ainda estava parada próxima a barraca de joias, então voltou alguns passos.

- Querida, desculpe-me deixá-la, mas preciso ir - disse se aproximando dela e com sua forte mão segurou o queixo delicado da jovem, liberando uma demonstração de carinho para com ela, já a amava e esperava logo poder tê-la totalmente para si.

Ela apenas sorriu fraco, desde sempre soubera que não poderia ter toda a atenção para si, pois o seu noivo era um homem de muitas responsabilidades e ela não poderia e nem conseguiria prendê-lo. Balançou sua cabeça afirmativamente e ele a soltou, deixando apenas uma saudade no lugar do doce toque. Raviv virou-se e caminhou a passos largos por entre as pessoas que transitavam ali.



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