Desespero

40 2 0
                                    

Meus olhos estavam embaçados, minha pele coberta por lágrimas, nunca havia sentido uma dor tão grande quanto a que estava sentindo, não era uma dor física, uma dor na alma, de sentir-se traída, sentir-se enganada. 

Acho que cheguei a enxugar as lágrimas umas cinco vezes em um só minuto, mas elas caíam em uma velocidade que não dava para controlar, o pior era o peso de cada uma delas. Tentei respirar fundo para me acalmar, mas tudo que consegui foi acelerar mais ainda o carro, estava focada no caminho mas com os pensamentos preenchidos por todas as lembranças ao lado de Justin, tudo não havia passado de uma grande mentira, ele havia se tornado uma delas.

Meus pensamentos foram dispersados pelo celular tocando, Thomas ficou muito preocupado e resolveu me ligar, mas era um número desconhecido, então provavelmente ele havia ligado do telefone da portaria do prédio em que mora.

Havia deixado o celular no porta luvas, o meu e o de Thomas, depois de ouvir duas vezes o toque, inclinei-me e desviei o olhar da pista para o lado, abri e peguei o celular, levantei-me e voltei a olhar para a pista, soltei rapidamente a outra mão do volante, voltei para secar meus olhos e retornei a segurar.

Thomas: Ashley está tudo bem?

Ashley: Alô, Thomas?

Thomas: Isso, como você está?

Ashley: Eu descobri tudo, eu já sei de tudo - disse enquanto chorava.

Thomas: Eu...eu sinto muito.

Ashley: ...

Thomas: Aonde você está? Vem pra cá.

Ashley: To aqui na.. - fui interrompida.

Fiquei sem palavras no mesmo instante, meus olhos brilhavam com a luminosidade do farol alto que vinha em minha direção, nenhum movimento brusco naquele momento poderia evitar a batida, eu estava em alta velocidade, o carro vindo na contra mão, qualquer que fosse o desvio que eu fizesse, levaria a um capotamento e quem sabe pioraria a situação. Bom, nem foi nisso que eu pensei no momento, fiquei completamente sem reação, meus pensamentos estavam ocupados demais para decidir o que fazer para salvar minha vida naquele momento. Segurei firme o celular e a voz de Thomas foi a última coisa que ouvi antes da batida, ele me chamava repetidamente em alto tom, e ao ouvir o barulho que o encontro dos carros deu, gritou pelo meu nome tentando descobrir se eu estava ali, se estava tudo bem, e o que havia sido aquele forte barulho, mas eu já estava desacordada, larguei o celular no instante da batida, fechei meus olhos e tudo que vi antes de apagar foi o rosto de Justin do retrovisor do carro chorando dizendo me amar, derramei minha última lágrima e dei meu último suspiro.

Apenas o carro que chocou-se com o meu que capotou, o meu deu diversos giros pela pista, e só parou quando terminou de amassar quando bateu-se na divisão da rodovia. Os carros que estavam atrás, frearam na hora, por sorte, estavam em uma distância boa para que não batesse em um dos carros envolvidos no acidente e assim, conseguir avisar os outros que estavam atrás, para diminuírem a velocidade. 

A ligação com Thomas foi encerrada no momento em que o carro bateu na divisão das rodovias, trincou-se toda a tela e provavelmente não funcionaria mais. Ele ficou extremamente preocupado, ligou para Nick, contou do barulho que ouviu e do fim da ligação. Nick desligou rapidamente, pegou o carro e foi para a casa de Thomas para saírem e procurarem por mim.

Porteiro: Justin, correspondência para o senhor - lhe entregou uma carta em um envelope dourado.

Justin: Obrigado - pegou e subiu para o apartamento.

Não teve vontade nenhuma de abrir, muito menos ver de que e do que era, ao entrar em casa, fechou a porta, jogou a carta em cima da mesa de centro da sala e deitou-se no sofá, levou as mãos a cabeça e respirou fundo, mantendo o pensamento em mim e sentindo o arrependimento por tudo que fez. Sentiu uma dor no peito, muito forte, levantou-se e procurou por algo na caixa de remédios que aliviasse a dor, nada adiantou, nem si quer encontrou, ficou por alguns instantes sem respirar, como se algo lhe impedisse a passagem do ar, teve que segurar-se na parede e arrastar-se até a poltrona, sentou-se e tentou-se acalmar. Começou a soar frio, sentiu a respiração ofegante e o coração disparado,  levantou-se com muita dificuldade e entrou no banheiro, tirou as roupas, ligou o chuveiro e parou em baixo, sentindo atentamente as gotas de água derramarem pelo corpo e a quentura dos machucados ardendo. Abaixou a cabeça e viu todo aquele sangue dos ferimentos se misturando com a água do chuveiro escorrerem pelo ralo, respirou fundo e levantou o olhar, passou a mão no espelho embaçado para limpar e olhou os ferimentos no rosto,.

Blow Of Love - Um golpista de Las Vegas.Where stories live. Discover now