Capítulo 4 - Christopher

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— Ele vai passar pimenta na sua boca por estar xingando — falei, vendo-a revirar os olhos.

— E ele vai falar muito no seu ouvido se chegarmos atrasado por sua causa. Vá tomar um banho e se arrumar, você tem vinte minutos!

Ela bateu no pulso, como se tivesse um relógio ali e se virou para sair. Estava quase chegando na porta, quando eu me joguei na cama e disse:

— Eu não vou. Não tenho saco algum para festas. Pode ir embora.

Charlotte se virou para mim com uma sobrancelha arqueada e cruzou os braços. Seria amedrontador, se ela não fosse a minha irmã mais nova de quatorze anos.

— Christopher, não me faça pegar uma garrafa de água gelada na geladeira e tacar na sua cara! Levanta logo dessa cama! — falou, séria.

Revirou os olhos e continuou:

— Olha só, você não fala direito com a gente desde quando aquela vagabunda te traiu. Apareceu bêbado em casa, sendo carregado por uma garçonete. Tratou todo mundo mal quando levantou de ressaca, saiu sem se despedir de ninguém, passou uma semana sem dar uma notícia e agora vem me falar que não vai na festa? Só porque aquela puta colocou um par de chifres na sua cabeça? Ah, por favor! Pare de ser idiota e levanta dessa cama! Se eu voltar aqui e você não tiver arrumado, eu juro que vou ligar para um manicômio e você vai sair daqui sim, e vai ser para um hospício!

Ela passou a mão pelo cabelo e foi andando para fora do quarto.

— Você tem quinze minutos!

— Não eram vinte?

— Agora são dez! E se reclamar mais, vão ser apenas cinco! — gritou, descendo as escadas.

No momento em que ela parou de gritar, eu entendi porque meu pai tinha mandando-a vir me buscar. Era idêntica a ele. Toda autoritária e mandona, praticamente obrigava a todos a fazer que ela quisesse.

Sem ânimo, levantei-me e fui para o banheiro. Sabia que Charlotte tinha razão. Eu não estava em condição de simplesmente não ir à festa mais importante do país. Não quando eu tinha ignorado a minha família por uma semana, depois de ter passado o vexame de ser carregado por Docinho para casa, bêbado.

Lembro-me de acordar desorientado, com uma dor de cabeça infernal e um par de olhos verdes gravados a ferro na minha mente. O nome dela veio rápido aos meus lábios, mas o seu apelido veio primeiro. Olivia. Meu Docinho. Ela me deu um sorriso naquele dia infernal, que ficou ainda pior quando encarei meu pai assim que abri os olhos.

Ele me deu um sermão e ouvi quieto, calado. Não me lembro de muita coisa, só de que Olivia Thompson tinha me levado para casa. Essa informação fez o meu dia um pouco menos caótico.

Entrando no chuveiro, lembrei-me do olhar compadecido de minha mãe, quando dei um beijo na testa dela e fui embora. Desde então, não falei mais com ela, ou com meu pai, ou com qualquer um da minha família. Não tinha coragem. Primeiro foi a vergonha de ser traído e todos eles terem presenciado. Depois, a vergonha maior por terem visto o meu fracasso.

Isso nunca aconteceu comigo. Já tive sim as minhas noites de bebedeiras e manhãs de ressaca, como qualquer jovem, mas nunca precisei ser carregado para casa, muito menos por uma garota.

E pensar que tudo o que eu queria era ter Docinho na minha cama.

Saí do chuveiro e fui fazer a barba de uma semana. Foram sete dias de merda, onde não sai para trabalhar, nem ao menos para tomar um ar puro. Queria ficar enclausurado do mundo, mas os pensamentos nunca me deixavam.

Eu sempre ficava suspenso entre a raiva, o ódio e, agora, o desejo de ver aquela linda mulher de olhos verdes novamente.

Fui ao meu closet e me vesti. Calça jeans preta, um blusão social azul e sapatos de couro italiano. Um pouco de perfume e passei as mãos pelo cabelo, sem paciência para penteá-lo.

Conquiste-me (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now