11. A JOGADA DE HOSANA

Start from the beginning
                                    

— Será ótimo.

— Eu a verei dentro de três horas.

— Obrigada.

Denis desliga o telefone e olha para Roth.

— Eu me enganei a respeito dela. Não é tão inteligente como pensei. Deveria ter me pedido dinheiro antes de Nicole e Gerald casarem. — Ele fica pensativo por um momento, depois seu rosto se desmancha num sorriso irônico. — Essa não!

— O que é, senador?

— Acabo de perceber o motivo dessa urgência toda. A Srta. Stein está grávida de Gerald e vai precisar de ajuda financeira. É o golpe mais antigo do mundo.

Três horas após, Hosana chega de carro na Fazenda Cerro Azul. Um guarda a espera diante da casa principal.

— Srta. Stein?

— Sou eu.

— O senador Denis a aguarda. Me acompanhe, por favor.

Ele entra com Hosana na casa, a conduz por um corredor largo, que leva a biblioteca. Os livros limpos, em perfeita ordem nas prateleiras, parecem intocados. O senador Denis está à sua mesa, folheando um livro. Ergue os olhos e se levanta quando Hosana entra.

— É um prazer tornar a ver você, minha cara. Sente, por favor.

Hosana se senta. O senador levanta o livro que tem nas mãos.

— Isto é fascinante. Relaciona os nomes dos melhores puros-sangues que já concorreram no Brasil, do primeiro ao último. Sabe quem é considerado hoje o melhor dos melhores?

— Não.

— FARWELL. Mas tenho certeza de que você não veio aqui para conversar sobre cavalos. — Ele larga o livro. — Disse que precisa um favor.

O senador a observa por um tempo e Hosana encara o olhar. Ele conjetura: acabo de descobrir que terei um filho de Gerald e não sei o que fazer. Não quero causar escândalo. Quero criar a criança, mas não terei recursos suficientes.

— Conhece Henrique Chambelle? — pergunta Hosana.

O senador Denis pisca, apanhado de surpresa.

— Se conheço Henrique? Claro que conheço. Por quê?

— Agradeceria muito se puder me apresentar a ele.

O senador Denis de novo a fita nos olhos, apressando-se em reorganizar seus pensamentos.

— É esse o favor? Quer conhecer Henrique Chambelle?

— Isso mesmo.

— Tem sorte, Srta. Stein, ele não está mais no Rio de Janeiro. Reside agora aqui em Curitiba.

— Fui informada sobre a vinda dele. Por isso, vim depressa para Curitiba.

O senador Denis fica sem entender, mas seu instinto lhe diz haver alguma coisa naquela história que não compreende. Ele formula a pergunta seguinte com extrema cautela:

— Sabe alguma coisa sobre Henrique Chambelle?

— Não. Só sei que ele é do Rio de Janeiro e está divorciado.

O senador faz uma pausa, sorri malicioso para ela, enquanto toma a decisão. Ela é muito bonita, pensou ele. Henrique me deverá um favor. Depois, se ela conseguir casar com Henrique, deixará Gerald em paz.

— Darei um telefonema.

Cinco minutos depois, ele fala com Henrique Chambelle.

— Henrique, sou eu, Roberto. Tenho certeza de que você lamentará saber o que comprei nesta manhã. Adquiri o Emperator. Se você estava de olho nele, perdeu, meu amigo. — Ele escuta Henrique falar depois solta uma risada. — Eu podia apostar nisso: se divorciou de novo! É pena. Eu gosto de Josiane.

Hosana ouve, enquanto a conversa se prolonga por mais algum tempo. Ao final, o senador Denis:

— Henrique, vou lhe prestar um favor. Uma amiga virá residir em Curitiba e nada conhece por aqui. Eu agradeceria se você ficasse de olho nela.

— Como ela é?

O senador olha para Hosana e sorri, antes de acrescentar: — Bela mulher. Mas não fique com ideias.

Ele escuta por um instante. Torna a olhar para Hosana.

— A que horas seu avião chega daqui a três dias, quando retorna a Curitiba?

— Duas e cinquenta. Voo 159 da TAM.

O senador a olha com admiração, mas repete os dados e repassa o celular de Hosana a Chambelle.

— O nome dela é Hosana Stein. Vai me agradecer por isso. Agora é com você, Henrique. Ela se hospedará no Four Points by Sheraton. Voltarei a entrar em contato.

Ele desliga.

— Obrigada — diz Hosana.

— Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você?

— Não. Isso é tudo o que eu preciso.

Por quê? Afinal, o que Hosana Stein quer com Henrique Chambelle? Um casamento de conveniência?

O fiasco público com Gerald foi horrível. Hosana nunca imaginou que alguém ousaria fazê-la passar por aquilo. Um pesadelo interminável. Aonde vai, ouve os sussurros:

— É aquela ali. Foi praticamente abandonada no altar.

— Guardei o convite de casamento como lembrança...

— O que ela fará com o vestido de noiva?

As fofocas aumentam a angústia de Hosana, a humilhação é insuportável. Nunca mais confiará num homem. Mas nunca mesmo. Seu único consolo é que algum dia, de alguma forma, fará Gerald Champoudry pagar pelo ato imperdoável que cometeu contra ela.

Ainda não sabe como. Com o senador Denis a apoiá-lo, Gerald terá dinheiro e poder. Por isso, precisará encontrar um meio para ter mais dinheiro e mais poder, pensa Hosana. Mas como? Como?

PARIS VERMELHAWhere stories live. Discover now