Parte 2 (final)

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Naquela tarde, vendo que eu já estava bem melhor do quê havia estado nos últimos meses, os médicos aceitaram me dar alta do hospital e me deixar ir pra casa no mesmo momento. Cadu me avisou que meus pais não estavam ali, pois passaram muitos dias em claro naquele hospital, e ele pediu-os para que fossem descansar, pelo menos hoje. E assim eles fizeram. Assim que saí de lá ligamos para eles, avisando da minha melhora bem maior do quê apenas significativa. Meus pais não acreditaram ao ouvir minha voz, e nem eu ao ouvir a deles. Foi realmente inacreditável.

Eu realmente tinha uma família. Tinha que me acostumar com isso, por que antes de Cadu entrar naquele quarto naquela tarde, eu já estava convencida de quê não tinha ninguém. Mas estava estupidamente enganada, e não podia estar mais feliz por isso.

Conversei bastante com Cadu até chegar em casa, e fiquei sabendo que tínhamos uma linda história. Ele me contou que nos conhecemos durante uma briga entre dois amigos nossos em comum. A briga foi tão feia que um deles teve que parar no hospital, e nos dois ficamos encarregados de cuidar do outro, levando-o pra casa e dividindo um banco de carro durante o trajeto.

— E foi ali que eu notei que você parecia ser uma ótima pessoa — Cadu me contava. — E eu tinha certeza — sorriu. — Você falava bastante, mais que eu, e eu me vi fascinado por você tão rápido, nem conseguia interromper.

Sorri.

Parecia tão real só de ouvir, quase como se eu me lembrasse daquela cena.

— Então eu te chamei pra sair, você aceitou e saímos umas cinco vezes. Apesar de ter conversado bastante sobre si mesma no carro, durante os encontros você estava muito na defensiva. E eu fiquei nervoso, não tinha ideia de como te fazer se soltar — soltou uma gargalhada ao se lembrar do quê vinha a seguir. — Então, no nosso sexto encontro, eu fiz algo que só piorou sua introversão: eu me declarei pra você. Você congelou, não saiu do lugar, não piscou. Depois começou a rir, e disse que aceitava ser minha namorada.

Suspirou alto, parecendo frustrado. Agora era só uma memória, apenas na mente dele.

— E foi um dos dias mais felizes da minha vida — sorriu abertamente. — Perdendo apenas para o dia em que você aceitou se casar comigo, três anos depois.

— É uma história e tanto — comentei, querendo chorar, mas feliz. — Queria poder me lembrar...

— Não vejo problema em fazer isso por você pelo resto da vida.

Chegamos em casa rápido, e depois de conhecer todo mundo, tudo que eu consegui fazer foi apenas ir deitar após um banho bem demorado. Foi tão cansativo ao mesmo tempo que eu nem fiz muita coisa ainda. Estava só começando.

*

A partir do quê eu me lembrava, sempre diziam que o dia em quê você se casa nunca mais pode se repetir, por isso ele precisa ser perfeito. Pelo que pude notar, eu e minha mãe havíamos deixado os prepativos em perfeita ordem antes do meu acidente, como se nem tivesse havido toda essa interrupção de 4 meses. Estava tudo pronto para o casamento ser executado.

Minha mãe era linda. Conhecer sua mãe aos 25 anos não é nem um pouco normal, admito. Mas foi a melhor sensação que pude me lembrar. Afinal, eu não me lembrava de muitas coisas mesmo!

Meu pai também era lindo. Meus irmãos também... Bem, eu amei conhecer todos e ser lembrada de todos momentos que passamos juntos. Foi bom rir, mesmo não sabendo exatamente se foi daquele jeito que aconteceu as coisas que me contaram, eu confiava neles e pude criar memórias das quais eu não sabia que participei.

Fiquei sabendo de todos os tombos, todos os meus costumes e o quanto eles odiavam o jeito como tenho uma ótima persuasão. Me contaram sobre meus namorados escondidos, que ficaram sabendo mas manteram segredo em meu respeito. Fiquei sabendo também que tive desentendimentos demais na escola, apesar de ser muito popular, o quê era uma grande ironia.

Acorde, Vamos Casar! (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora