2 | Sobre não estar calada

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Não sei estar calada.E isto é um facto incontornável. Dizem que é no silêncio que se reconhecem as mentes mais barulhentas, mas quem o diz é porque desconhece os dramas de ter a boca ligada à alma, assim com um daqueles fios de telefone de lata, que transportam (às vezes contra vontade) os pensamentos mais improváveis para o lado de fora. Não sei travar a corrente de pensamentos que se precipita - aos encontrões, como jogadores competitivos - à procura da melhor frase para se expressar, e não raras vezes, com a pressa de sair, as ideias agarram frases sem sentido, enfiando-as debaixo do braço como a uma bola de rugbi.Estou sempre cheia de palavras que não sabem ficar em silêncio, palavras que saltam em cima da ponta da língua, como crianças irrequietas, e que se deixam escorregar para as conversas de forma urgente, ansiosa, interminável. *Gosto de palavras, sempre gostei.Da forma como elas ganham vida dentro de nós. e se escapam por entre os lábios, às vezes sem querer, Gosto de pessoas que falam, e que falam bem, que fazem poesia com aquilo que dizem, mesmo nos assuntos mais banais. A poesia também se declama sem saber, e é quando é mais bonita. Gosto de coisas bonitas, sempre gostei. E não sei guardá-las para mim, tenho de contá-las, embrulhá-las em frases bonitas e atirá-las ao ar, como flores num casamento, para celebrar a dádiva de estarmos vivos, como diz o outro, e podermos falar sobre isso.

Quando 'te vês' é tudo.Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu