EU SOU O KILGRAVE

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Fui até a cozinha fazer café, deixei uma porra de uma fresta da cortina aberta, um micro raio de sol atingiu meu braço, me queimei, dei um berro! Laura saiu correndo do banho:


- O que houve?


- Nada, só queimei a porra da mão!


- Eu já te falei mil vezes pra você fechar direito essa janela! Por isso que odeio aquela bosta de filme, onde já se viu vampiro se expor ao sol, não se queimar e ainda brilhar feito diva?


Laura gritava, gritava e gritava descontroladamente como se a porra da dor fosse dela:


- O seu problema é que você é teimosa, não adianta falar com você, porque sempre repete as mesmas merdas!


E eu com as mãos embaixo da torneira, cada vez mais puta:


- Ta bom Laura, já entendi caralho, cala a boca, ta doendo essa merda!


E a discussão foi ficando tensa!


- Você sempre me manda calar a boca. Você acha que só porque tem 132 anos que sabe de tudo!


- EU NÃO ACHO QUE SEI DE TUDO, VOCÊ É QUE TA DANDO ESCÂNDALO PORQUE ACHA QUE VOCÊ SABE DE TUDO!!!


- AH AGORA A CULPA É MINHA, NÉ? OLHA COMO VOCÊ INVERTE E DISSIMULA AS COISAS!


Diminuí o tom de voz na tentativa de cessar a discussão, afinal de contas os vizinhos não precisavam saber coisas como a minha fucking idade e disse:


- OK, para de gritar!


- VOCÊ ESTÁ ME MANDANDO CALAR A BOCA?


-Não, estou falando pra gente conversar como pessoas civilizadas.


- PESSOAS CIVILIZADAS? VOCÊ AO MENOS É UMA PESSOA!


Se eu tivesse sangue correndo pelas minhas veias, diria que ele me subiu à cabeça, num súbito de raiva, virei rapidamente e ataquei Laura, a joguei contra a parede, meus caninos ficaram sobressalentes, cheguei bem próximo de sua carótida e ela gritou:


- MONSTRO!


Arregalei os olhos e a soltei em seguida! Silêncio. O pavor nos olhos de Laura me deixaram apavorada! Eu estava me vendo através do olhar dela, me dei conta de que esse era o meu pior espelho e talvez o meu único reflexo, o de um MONSTRO.


Corri pro banheiro e me tranquei. O chuveiro ainda estava aberto, Laura não tinha terminado o banho e nem terminou, vestiu-se do jeito que estava e saiu de casa batendo a porta. Entrei no boxe e acabei adormecendo ali mesmo. Acordei à noite.


Faminta, abri o congelador, só tinha um potinho de sangue, precisávamos abastecer. Me senti a criatura mais ingrata do universo, Laura fazia de tudo pra me manter "sóbria" e como eu retribuía? Sendo uma ameaça pra vida dela. Tentei abstrair um pouco, peguei o celular e verifiquei o WhatsApp, um dos meus clientes me mandou 30 mensagens, sem sacanagem, 30 mensagens me cobrando uma arte, pra variar eu tinha perdido o prazo de entrega, mandei uma mensagem genérica e corri pro notebook pra concluir o trabalho.


Deu nove horas da noite, terminei o trabalho e enviei por email torcendo pra que não tivesse perdido o cliente, eu vivia- sobrevivia- de freela, o sonho de muitos web designers. Definitivamente a internet foi a melhor invenção pros vampiros! Depois dos cursos noturnos, claro! Laura ainda não havia chegado, sua última mensagem tinha sido vista às oito horas da noite. Não tive coragem de falar com ela, fiquei rolando a barra do Whats e resolvi mandar mensagem pra um colega, o Diogo


"E aí, sumido, fazendo o que de bom?"


Me respondeu em menos de um minuto


"De bom nada, mas posso fazer, ta de bobeira?"


Verifiquei de novo o Whats da Laura nada desde às oito.


"To sim, quer dar uma volta?"


"Beleza, passo aí e te pego de carro, daqui a uma hora está bom?"


Respondi que sim e fui me arrumar. AFF odeio não conseguir me maquiar sozinha, principalmente quando quero estar bonita. Peguei um batom vermelho, passei mal e porcamente, penteei os cabelos e coloquei um vestido tubinho preto que combinava perfeitamente com meu estado de espírito. Nem lembrava mais da queimadura na mão que doeu bem menos que a briga com a Laura. Saí com a mão ridícula mesmo.


Diogo chegou pontualmente e foi a primeira vez que não reclamei de gente pontual, eu só queria sair daquela porra de casa o mais rápido possível, estava me sufocando.


- E aí Olguinha, nossa que saudade- me dando um abraço apertado- Poxa, você some!


- Pois é, trabalhando muito, saudade de você também.


Ele percebeu minha mão queimada:


- Eita, o que foi isso na sua mão?


- Ah, nada, queimei no fogão hoje de manhã- respondi e já mudando de assunto- Mas e aí, vamos aonde?


- Não sei, você quem manda!


- Amigo, a última coisa que quero hoje é mandar, estou com fama de autoritária!


- Ihhh, o que houve? Brigou com a menina, lá?


-Briguei e estou em guerra comigo mesma, principalmente!


- Relaxa, vamos tomar alguma coisa então, pode ser?


- Sim.


Esqueci de mencionar que Diogo sempre me deu uns moles, nunca disse nada claramente, mas a gente percebe, né? Inclusive Laura fazia questão de deixar isso bem claro, além de mostrar de forma bastante cristalina que ela o odiava!


Talvez por isso que o elegi como companhia naquela noite. Talvez não, foi exatamente por isso.


Chegamos, Diogo estacionou o carro e quando tirou a chave, eu o ataquei e não, não foi o seu sangue que eu suguei.



Um Pacto De SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora