A HORA DA BAD

3.8K 238 57
                                    

Três horas da manhã, a hora da bad. Revirei todas as redes sociais numa busca incessante por vida... Vida! Estão todos mortos, vampiros que tamborilam os dedos em seus smartphones buscando uma emoção qualquer, qualquer coisa que os faça sentir alguma coisa.

Olhei pro quarto, Laura dormia que nem um bebê, sempre invejei o sono de Laura, não por ser um sono noturno mas pelo fato dela simplesmente deitar e dormir. Invejo até seu ronco que eu odiava antigamente e estranhamente parei de implicar com a babação no travesseiro. Sentirei saudades dessa cretina.

Caminhei até a cozinha, passei pelo corredor e me olhei no espelho, será que algum dia me acostumarei com o fato de não poder me ver? Ah q se foda! Abri o congelador, peguei um potinho com sangue, esquentei no microondas e coloquei na minha caneca do Crepúsculo, sim, tenho senso de humor. Pus pra tocar Born This Way, definitivamente ODEIO a Lady GaGa, essa desgraçada me faz sofrer muito! Boa mesmo é a Inês Brasil que me faz rir que nem uma pateta. Eu falo pra Laura que a Inês tem um Q de Marylin e ela me chama de idiota, tola, Laura não viveu a época da Monroe. Ela acha que sabe de tudo, por isso a apelidei carinhosamente de Laurapédia.

Terminei minha refeição e fui lavar minha caneca, lembrei de quando a gente assistiu Crepúsculo pela primeira vez, Laura saiu puta do cinema gritando que o filme era uma merda e jogou dinheiro no lixo, não entendi, achei divertidíssimo os vampiros serem "vegetarianos" e brilharem no sol, Laura tinha um péssimo senso de humor, além do mais ela esperava o que, Nosferatu? Drácula? Segundo ela, poderia ser pelo menos nível Anne Rice. Laura era ingênua mesmo! Só faltava querer que Brad Pitt interpretasse o Edward. Expectativas, péssimo hábito dos mortais, mas é tão bonitinho de se ver, principalmente quando eles dão o nome de esperança e isso Laura tinha bastante. Ela me deu a caneca de presente de Natal, com um bilhete que dizia "Pra você fazer suas refeições 'vegetarianas', Edward".

Laura era encantadoramente encrenqueira, implicante, inconformada e ficava extremamente engraçada quando estava irritada. Inclusive, ela dava um show de Stand Up Comedy quando ficava na TPM, teve uma vez que chegou a chorar porque quebrou uma unha, foi então que quebrei propositalmente uma das minhas que se regenerou em segundos, ela me mandou tomar no cu, ri que nem uma hiena e depois chorei, choramos juntas, nos abraçamos e rimos de novo. Definitivamente amava a Laura.

Assisti mais um episódio de Jessica Jones, essa atriz é maravilhosa, adoro a atuação dela em Vamps, outro filme de Vampiro, sim assisto tudo relacionado a minha desgraça. Esse a Laura gostou, ela era louca pela Alicia Silverstone, a gente brigava quando dizia que ela era péssima atriz e só prestava nos clipes do Aerosmith, no fundo Laura gostava mesmo era de As Patricinhas de Beverly Hills. Na última vez que falamos desse filme ela disse "Meu Deus, esse filme fez parte da minha adolescência, como estou velha" então olhou pra mim com a maior cara de tacho e me pediu desculpas, fiz cara de choro por exatos 35 segundos, ela se sentiu péssima e logo depois comecei a rir, Laura sempre caia nas minhas pegadinhas, trouxa!

Começava a amanhecer, precisava ir dormir. Fechei as cortinas e fui escovar os dentes, logo mais Laura acordaria pra ir trabalhar. Não consegui produzir nada que prestasse naquela madrugada, tinha três jobs pendentes pra entregar e não fiz sequer um layout. Minha cabeça não parava de girar em círculos, pensava em como seria futuramente e não encontrava uma solução. Laura estava péssima também, se sentindo culpada, mas eu jamais permitiria que ela deixasse de seguir a vida por minha causa, não era justo, ela já tinha me ajudado muito, eu a amava e queria o melhor pra ela. Depois de muito conversar insisti que ela aceitasse a proposta de trabalho no Canadá, era o sonho dela, a vida humana é curta e poucos vivem, a maioria sobrevive... Vou sobreviver... Eternamente... Feliz ou infelizmente! Laura era tão cheia de vida, de energia, de sonhos, um dos poucos seres humanos que gostava de viver, eu não podia impedir isso, não a Laura, a pessoa que mais amei nessa minha medíocre existência.

Ela acabou aceitando, mas repetia todos os dias que poderia cancelar a qualquer momento e que poderíamos sair pelo mundo como ciganas noturnas vendendo a nossa arte com as coisas que a natureza dá pra gente, obviamente numa tentativa frustrada de ser engraçada, porque apesar da piada ser ótima, seus olhos se enchiam de lágrimas.

Oito horas da manhã, o despertador tocava, eu estava na sala ainda no meu processo de desgraçamento mental. Laura levantou com a cara inchada, se deparou com a MINHA cara inchada e disse:

- Nossa Olga, você está com uma cara péssima, está tudo bem?

-Aham, tudo, esses episódios de Jessica Jones acabam comigo, quer café?

Um Pacto De SangueWhere stories live. Discover now