Origâmi

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Extingue-se o dia

mas não o canto

da cotovia.

Bashô 


Keika descia a colina, apressada. O verde vivo do gramado, ainda acariciado pelo orvalho, brilhava sob o céu azul límpido. Trazia um lenço na mão de direita e a mão esquerda trêmula. Quando chegou na estrada ladeada por pequeno bosque, seguiu em direção ao estacionamento.

Todos os amores do mundo são os nossos próprios, pois interpretamos todos pela nossa vivência. Matsuo gostava de dizer isso, ao ver um casal apaixonado, ou ainda naquela fase agridoce, onde a amizade ainda não ganhara os tons da paixão. Uma fase pela qual eles passaram há muitos anos, quando o amor era temperado pelo ciúme e, por vezes, pela mágoa.

Ele concordava quando ela dizia que o amor verdadeiro era aquele que era gestado no ventre de uma amizade genuína. E essa percepção da realidade foi tão forte, que ele resolveu colocar no papel. Essa foi a história que o fez criar coragem de idealizar o seu próprio mangá shojo.

Mas, por que pensar nisso agora? — Keika se perguntava, enquanto entrava no furgão e dava partida.

Mas, por que pensar nisso agora? — Keika se perguntava, enquanto entrava no furgão e dava partida

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A manhã de sábado estava agradável, o que significava uma promessa de um dia quente. Ele subiu a calçada com o furgão e entrou no calçadão em frente ao mercado municipal da cidade. Parou o veículo em frente a uma das dezenas de barracas enfileiradas dos dois lados do calçadão. Atrás de si, o grande palco já preparado para o festival, e à frente o majestoso Tori, o portal japonês, que todos os anos enfeita o centro da cidade durante o festival.

O centro da cidade estava relativamente vazio. Naquele momento, os clientes ainda estavam tomando café em casa, mas um ou outro comerciário passava apressado, para não perder a hora de abertura das lojas.

Nikkey matsuri, o festival da comunidade japonesa de São Carlos. Essa seria a quinta edição, e a quinta vez que ele ficaria com a barraca do origâmi. Ele era o responsável pela Kakushin Origami e membro ativo do Seinen Kai, o grupo de jovens da associação. Para esse ano, o trabalho que ele havia preparado era a violinista, a sua obra-prima, uma delicada figura de saia, com o instrumento nas mãos. A saia pintada com uma tênue aquarela, com motivos de bambu.

Ele foi até o furgão e começou a descarregar as caixas. As de vidro estavam acondicionadas em caixas de papelão, com pedaços de isopor que as protegiam de choques. Colocou-as ao lado do furgão, então retirou as mesas dobráveis e levou-as para a barraca. Montou uma a uma. Forrou com as toalhas que pegou no furgão e colocou as caixas de vidro que iam proteger os origâmis mais sofisticados sobre elas. O próximo passo seria montar a árvore de tsurus, a cegonha, mas, que eles chamavam simplesmente de passarinho da sorte.

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