Eu tinha telefonado para Noah vir dormir em casa, mas decidi que não diria à ele o motivo da visita inesperada. Eu havia decidido terminar com Zack na noite passada e Noah havia saído com alguma garota por quem ele estava interessado. Por isso não quis ser empatada foda e estragar a noite do meu amigo. Agora ele não estava ciente da minha decisão.

Vinha matutando a decisão há uns dias, é claro. Mas depois de perguntar à minha mãe sobre o que ela achava do meu término com Zack e ela ter me deixado ainda mais confusa, não quis pedir ajuda à mais ninguém.

Depois de sentados na minha cama com as costas encostadas na cabeceira, eu percebi que deveria começar a falar. Mas por onde começaria? Com rodeios ou soltar tudo de uma vez em cima do meu melhor amigo? Com um suspiro longo e audível, eu me virei para ele:

- Eu terminei com o Zack.

Ele arregalou os olhos e vi um sorriso ameaçar a nascer no canto de seus lábios. Antes que eu o visse sorrir, ele foi mais rápido e nos puxou para um abraço apertado de consolo.

- Blue... Você... Eu nem sei... - Eu sabia que ele estava rindo e tive que revirar os olhos antes de afastá-lo.

- Deixe de ser falso, eu sei que você está amando isso tanto quanto Marceline. - Cruzei os braços, fazendo um pequeno bico se formar em meus lábios.

Eu o vi gargalhar e um imenso sorriso surgir em seu rosto. Eu já havia dito que amava aquele sorriso? Era impossível não sorrir junto.

- OK, eu estou feliz demais... Mas eu tenho um bom motivo pra isso. - Ele tinha o indicador erguido. - Esse relacionamento era tóxico, ele sempre fez muito mal à você e eu não consigo contar nos dedos das duas mãos e dos pés juntos quantas vezes ele já te fez chorar só esse ano. E posso dizer, com certeza, de que foram mais vezes do que ele te fez sorrir. - Dessa vez ele pegou minhas mãos entre as suas e eu vi o quanto era pequena perto de Noah. As mãos grandes envolviam as minhas e me faziam parecer frágil.

- Me desculpa por não ter acreditado em você quando me dizia que ele estava me traindo. - Pedi, me lembrando de todas as vezes em que tive brigas feias com Noah por ele tentar me fazer enxergar a verdade. - Eu acho que percebi tarde demais que estava errada.

- Você é uma boa pessoa, Blue. Não merecia ser magoada desse jeito, nenhuma garota merece. - Ele tinha um sorriso carinhoso pintado nos lábios. - Pouco antes da minha mãe morrer, ela pôde me ensinar a como respeitar as mulheres. Ele tem a própria mãe por mais tempo do que eu tive e mesmo assim não é capaz de tirar algum ensinamento disso.

Noah perdera a mãe aos treze anos de idade para a doença terrível que é o câncer. Ela descobriu quando já era tarde demais e ele teve apenas que esperar. Ele contava que ficara ao lado dela cada segundo que restara de sua vida e não tinha nenhum arrependimento.

A única coisa que ele não possuía era a atenção de um pai amargurado pela perda do amor de sua vida. Ele era viciado em trabalho e todas as vezes que ia na casa de Noah, não o encontrava. O jeito reservado de Noah com certeza havia sido herdado do pai. Eu não me importava, gostava de acolher Noah em minha casa porque sabia o quanto ele era uma pessoa sozinha.

Me ajoelhei na cama e o envolvi em um abraço apertado. Eu sabia o quanto ele sentia falta de sua mãe, da sua vida antes da morte de sua mãe. Entendia o quanto era difícil para ele e dava todo o apoio do mundo desde o dia em que ele se sentira confortável para se abrir para mim.

Por mais que aquela conversa não fosse sobre ele, eu sempre poderia reservar um momento para fazer meu amigo se sentir bem consigo mesmo antes de me ajudar com algo bobo como um término.

Acariciei os cabelos de sua nuca enquanto seu rosto se afundava em meu colo. Me sentei em cima dos tornozelos e olhei para seu rosto. Ele não chorava, mas seus olhos estavam marejados, prontos para derramarem um rio de lágrimas por lembranças que eu não conhecia.

- Tenho certeza que ela tem muito orgulho do que você se tornou, Noah. - Dei um meio sorriso, acariciando o seu rosto com os polegares.

O garoto mordeu o lábio inferior e abaixou o olhar para as próprias pernas. Limpou a bochecha com as costas das mãos enquanto eu o olhava com os dedos cruzados em cima das minhas pernas, esperando por sua reação. Quando ele voltou seu olhar pro meu, vi seu sorriso novamente apesar do rosto ter focos vermelhos pela emoção e vergonha.

- Não estamos aqui pra falar de mim, certo? - Questionou, abraçando minha cintura para si e me fazendo cair em seu colo. Com um grito agudo e breve, eu estava deitada no seu colo, os braços envolvendo seu pescoço enquanto ele me olhava como se eu realmente fosse um bebê em seu colo. - Estamos aqui pra te distrair das lembranças sobre um certo babaca.

Ri, jogando a cabeça para trás e balançando a cabeça em negação. Quando voltei a olhá-lo, seu rosto estava muito próximo ao meu. Arregalei os olhos de imediato, tentando me afastar o quanto podia de seu rosto. 

Seu olhar continha algo como curiosidade, descoberta. Ele mirava ora meus olhos, ora meus lábios e então visualizava todo o meu rosto, mas sempre se demorava em meus olhos. Sentir o seu hálito de canela bater em meu rosto me fez paralisar. Meu corpo todo perdeu os movimentos, totalmente sem reação, mas temendo pelo que ele poderia fazer a seguir.

Os olhos castanho-esverdeados se fecharam por um instante maior do que o recomendado e eu os imitei, sendo conduzida por um caminho que eu tanto queria evitar. Engoli em seco, sentindo o suor brotando de meu couro cabeludo, mas o que eu senti não foi nada do que eu esperava. O que eu senti me fez dar um grito seguido de um gargalhada. Seus dedos brincavam em minhas costelas, me fazendo contorcer em seu colo enquanto era massacrada por suas mãos hábeis que sabiam o que faziam para me tirar o fôlego.

- Noah.... Porr... Cheg... Ah! - Eu não conseguia terminar as palavras, me faltava o ar em meio as risadas.

Era um sentimento muito ruim, mas ao mesmo tempo tão bom. Te fazia querer mais e ao mesmo tempo desejar morrer ao invés de sentir cócegas de novo. Eu tentava me debater, bater nele, mas nada adiantava. Eu tinha que esperar a boa vontade dele de decidir que estava satisfeito em me fazer sofrer.

- Noah! Para! - Gritei, mais uma vez e ele parou de repente.

Como um passe de mágica, como se minhas palavras tivessem surtido algum efeito momentâneo. Eu ainda ofegava, as mãos na barriga, os olhos fechados tentando me lembrar de como respirava. 

Mas ele estava quieto demais, as mãos longe do meu corpo e nem ameaçando recomeçar com a tortura. Foi por isso que abri meus olhos e encontrei os arregalados de Noah em direção à porta.


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