1° capítulo

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| Blue |

À uns tempos enquanto atravessava as mil passadeiras em Nova York, eu pude presidenciar o quão más as pessoas que nos rodeiam podem ser. Como seria se tivesses vinte e dois anos e te olhassem de lado?

No mês passado a minha visita ao nosso médico de familia fora mais demorada que o esperado. Ele terme-á dito as coisas duma forma calma e inespita, no entanto dessa forma eu não consegui compreender onde ele queria chegar. Pediu-me para me colocar em cima duma balança, existente no consultório e olhou para os valores desta e os da pesagem anterior, feita à cerca de três meses. Olhou para o meu pai. Pude ver que trocavam olhares tristes. O médico voltou a sentar-se na sua cadeira e colocou as mãos em frente ao seu queixo, ainda me consigo lembrar de como os seus olhos transmitiam uma pena enorme por mim. Dia 14 de Janeiro de 1990 eu descobri que era anoretica.

Não falei com o meu pai por dias, muito menos com os meus tios. Estes entraram vezes sem contas no meu quarto para me trazer a devida medicação e as respetivas refeições. Ao contrário do esperado eu não comi nada. Tudo o que mastiguei e engoli, pareceu-me mais tarde nojento.

À uns meses eu comecei a ser gozada na Universidade devido à minha falta de peso. A minha mãe morreu à meio ano e todos estes comentários indesejados por parte dos meus colegas, aliado à sua partida não tornou nada fácil. O meu estado com a sociedade detiorou-se com o passar dos meses, tornando o meu quarto o único sítio onde podia ser eu mesma.

"Filha?" A voz do meu pai soa pelo corrredor e suspiro

O meu pai. Com o passar do tempo este foi recuperando da morte e minha mãe. Este diz não querer mais mulher nenhuma, mas sei que se sente sozinho e sinto que estou a prende-lo para que possa fazer esse avanço na sua vida. Não quero isso, de modo algum, quero que ele avance. Mudamos de casa à cerca de um mês. O meu pai achou que a mudanças de ares nos iriam fazer bem, na realidade na Universidade as coisas mudaram. Hoje não vivemos mais em Nova York mas sim, numa pequena cidade perto desta. Um sítio socegado, onde os finais de tarde são a melhor parte do dia.

"Podes entrar pai" Afirmo assim que ouço duas batidas na porta do meu quarto.

"Não queres comer alguma coisa Blue? Não te quero precionar mas tens de comer, por muito pouco que seja" Ele fala enquanto se senta a meu lado na cama

"Eu sei" Eu falo.

"Desce para o pequeno almoço. A tia Maria estará cá daqui a alguns minutos e poderá levar-te à Universidade" Ele diz e reviro os meu olhos.

Não digo nada, pois na verdade, nunca sei o que dizer ou como comunicar com o meu pai. É assim desde que a minha mãe faleceu, por outro lado, ele é o único apoio que tenho neste momento.

Ele anda. O seu andar parece cansado e sorri-me antes de sair e fechar a porta atrás e si.

Algumas roupas mantem-se espalhadas sobre a a cama e escolho algumas delas. Visto-me o mais rápido que consigo e escuto a voz da minha tia na cozinha.

"Bom dia querida" Ela diz, enquanto retiro um iogurte do frigorífico

"Bom dia tia"

"Como vai a Universidade?" Ela questiona

"Bem. Tenho pouco tempo para as minhas coisas, mas sempre quis ir para a universidade" Explico a coloco todos os meus livros na pasta

"Queres que te leve?" Ela interroga pegando mas chaves do carro

Não resoondo. Visto o meu casaco e pego na minha mochila andando atrás dele.

"Estás com má cara" Tracy caminha a meu lado enquanto observamos cada rotina dos diferentes alunos

"Estou sempre. Todos acham isso, mas na verdade, não estou assim tão mal" Desço as minhas mãos até ao meu telemóvel e coloco uma nova música a tocar nesse assim, enquanto recoloco os auscultadores

"Estás muito magra" Ela observa

À cerca de um mês que sei que tenho esta doença. Anorexia, no entanto apenas a minha família sabe disso. Guardo demasiado as coisas para mim, e por muito que Tracy seja a minha melhor amiga, eu prefiro continuar com esta omissão sobre o meu estado de saúde atual. Sinto que todos teriam pena de mim, porém está bem claro para mim, que todos reparam no meu estado cada vez mais degradante.

"Sempre fui magra" Arqueio as costas retirando a minha mala do meu ombro e pousando-a a meu lado, no banco e Jardim

"Não tanto Blue. Nunca te vejo a comer nos intervalos entre aulas" Ela explica e assusta-me em simultâneo

"Não tenho fome" Respondo à sua afirmação anterior, enquanto abro alguns livros e leio algumas matérias

Nunca irei admitir o meu problema. Não o considero um probelma. Claro que é uma doença, mas creio que ficarei melhor e tudo não passará duma má fase.

"Isso não é normal. Deverias ir ao médico por prevenção. Já foste ao médico? O teu pai não reparou nisso?" Ela pergunta e fecho os livros bruscamente, irritando-me

Bato com a caneta no banco e coloco-a no estojo. Levanto-me e coloco as minhas coisas na minha mala, não querendo continuar com esta conversa completamente absurda.

"Podemos parar de falar de mim? Acho que as coisas estão a sair da linha correta" Refiro

"Estamos a falar de ti porque não comes. Não te vejo comer à minha frente à de meses" Ela remexe nos seus apontamentos e pousa-os respirando fundo "Estamos a falar de ti porque estás cada vez mais magra e pareces cada vez mais doente" Ela diz

O seu olhar parece conter pena e medo. É disto que tenho receio. Tenho receio de me tornar um fardo para todos os que me rodeiam, e mais uma preocupação nas suas vidas.

"Não estou doente. A pressão dos exames é muita" Disfarço e ela respira normalmente

"Acho que deverias mudar-te" Ela sugere

"Mudar-me?" Interrogo

"Mudar de lugar. Nem que mudes para uma casa a 500 metros da do teu pai. Fazer-te-ia bem ter um espaço apenas teu, onde podias estar sucegada. Tens vinte e um anos. Daqui a um ano acabarás a faculdade" Ela explica e gesticula com as suas mãos

"Está fora de questão" Eu digo rápida e curta

"Porquê? Talvez se saisses lá de casa o teu pai sentir-se-ia mais á vontade para puder arranjar alguém. Quem se sentiria bem ao dizer a uma senhora que conhecia e gostava, que não só ia ter de aturar o homem, Como a filha mais velha deste?" A minha garganta aperta e sinto como se tudo o que disse fosse completamente correto e acertado

"Não tenho necessidade de ter uma ama seca. O meu pai pode ter alguém sem viver com ela" Eu encolho os ombros

"Enganas-te. Ele, neste momento, o que mais precisa é de alguém que seja a sua companhia para o resto dos seus dias. A companhia que a tua mãe não está cá para ser, infelizmente" Ela fala e parece sentir a dor que sinto sempre que se refere à minha mãe

Elas davam-se bem. Davam-se mais do que bem, tanto a Tracy como a sua mãe adoravam a minha mãe. Quando esta partiu e nos mudamos, Tracy insistiu que queria se mudar também e ficar perto de mim. A minha mãe era a sua segunda mãe e a sua a minha segunda. Então é só a mim que a minha mãe faz falta. Ela faz falta a tanta gente...

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Winter ➳ Harry Styles ✍Onde as histórias ganham vida. Descobre agora