UM

8.7K 401 47
                                    


27 de março de 2014.

Aos 16 anos e eu ainda não tinha beijado ninguém.

Eu não tinha problema com isso. Na minha cabeça existiam coisas mais importantes para uma garota se preocupar do que isso, por exemplo, escola, futuro, até o que iria comer no almoço. Beatriz, minha melhor amiga, costumava dizer que eu era madura demais para minha idade, e que eu parecia uma velha chata.
Eu não podia a culpar, para dizer a verdade nem eu entendia porque ela ainda andava comigo. Se eu fosse tão carismática e sociável como ela não sei se iria querer andar com uma mal humorada/invisível como eu. Sem auto-piedade. Eu estava bem como estava, mas as vezes eu achava que ela é quem tinha pena de mim.

Nas vezes em que estávamos juntas com algumas garotas da nossa turma, que trocavam palavras comigo apenas pelo fato de eu estar ali com a Bia, elas contavam sobre suas mais recentes experiências com um cara, enquanto eu ficava apenas muito interessada nas minhas unhas, ou no menu do meu celular. A intrusa amiga de Beatriz Dorne.

Nas raras vezes, como hoje, em que elas dirigiam a palavra a mim, era para obviamente me envergonhar perguntando se eu finalmente já tinha deixado de ser uma boca virgem.

-Eu ando meio ocupada cuidando da minha vida, como você deveria fazer._respondo a tipica pergunta casualmente enquanto olho para o meu almoço. Charlotte- a ruiva que já tinha metade dos caras da escola na lista de metas alcançadas dela-  arregala aqueles enormes olhos azuis ofendida.

-Sua amiga é uma selvagem. Agora eu sei porque ninguém a quer._ela joga as madeixas para trás num gesto de desprezo, claramente falando com Bia.

-Cale a boca, Charlie._minha amiga sai em minha defesa, pedindo silêncio.

-Na verdade é porque nenhum deles tem culhões ou neurônios o suficiente para ter uma conversa relevante comigo._eu levo o talher de comida até a boca e mastigo de forma provocadora. Viu? sem auto-piedade. Eu ouço Lara tentar prender uma risada. Ela era a menos detestável, eu sabia que ser má não era característica dela, por ser um ano mais nova ela se juntava a prima na hora do intervalo porque, bem porque ela não tinha mais ninguém. 
Talvez eu não fosse a única que nunca tenha ficado com um garoto, ou talvez o jeito angelical escondesse que ela era uma encantadora de homens como Charlotte.

-Você disse culhões? É sério?_a ruiva revira os olhos.

-Dá para vocês pararem?_Beatriz intervém e eu desvio o olhar entediado para as pessoas ao lado, dando de cara com o meu amigo não-público Gabriel. Ele acena e sorri com aqueles dentes perfeitos e mexe nos cabelos loiros. Talvez eu até tivesse uma quedinha por ele, mas nada que eu diria algum dia, nunca. Porque seria muito estranho ter o ex ficante da minha melhor amiga como primeiro beijo. Ou qualquer outra coisa. 

O sinal toca anunciando o fim do intervalo e é hora de nos separarmos das primas Garcês. Eu e Bia seguimos para aula sozinhas e eu dou graças ao céus. 
Eu sei que eu poderia simplesmente procurar outro lugar ou outras pessoas para estar quando as ruivas estivessem por perto, me afastar delas, não era obrigada a conviver. Mas Bia gostava delas, apesar desses momentos de provocação, elas eram boas companhias para minha melhor amiga e eu não iria proibir ou impedir outras amizades dela. E também porque eu não tinha mais ninguém para estar além da garota Dorne. Estar com as Garcês acontecia por tabela.

**

Depois da escola, estávamos deitadas no meu quarto assistindo a mais um desses clichês de comédia romântica, escolhidos por ela. Estava encarando o teto e agarrada na bacia de pipoca pensando em um jeito de conseguir dinheiro, detestava ter que pedir tudo ao meus pais.

-Como eu vou conseguir dinheiro para comprar todos os livros que eu quero na feira do mês que vem?_eu pergunto enquanto planejo um jeito de economizar tudo que puder, ou fazer tarefas em casa sendo uma boa filha e tendo alguma recompensa.

Sam days (NOVA VERSÃO DE O Primeiro Amor)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora