O CEGO E A GUITARRA
O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.
_Fernando_PessoaVotem e comentem o que acham...
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FERNANDO PESSOA
PoetryTodas os poemas de Fernando Pessoa... Nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888 e faleceu em Lisboa em 1935.