O primeiro olhar

8.5K 421 41
                                    


Meu celular toca novamente, fazendo me desconcentrar do contrato que eu analisava, torci o nariz, olhei para a tela ainda acessa e peguei-o, mais uma mensagem de Rafaella, é a decima mensagem que recebo hoje, extremamente persuasiva como sempre.

"Vai demorar? Estarei pronta em meia hora."

Bem, não me deixou escolha, deixou?

Hoje é meu aniversário, ela quer sair pra jantar e comemorar, mesmo eu insistindo que não tenho nada para comemorar, não gosto desta data, não gosto de saber que o tempo está passando e muito menos faço festas com um monte de pessoas que eu mal conheço. Tentei despista-la, na verdade passei o dia tentando esquecer que hoje é hoje, mas ela fez questão de me lembrar a cada hora do dia. Por sorte mamãe não está na cidade, foi visitar uma prima que está doente, então não terei que "comemorar" e responder as suas milhares de perguntas inquisitórias.

"Tudo bem, desisto, passo pegar você em meia hora."

Desligo o celular e volto minha atenção ao computador, se não houver mais distrações, conseguirei terminar isso hoje ainda.

- Peça para Tomas ficar pronto, sairemos em vinte minutos. - aviso Júlia, minha secretária, pelo viva voz do telefone.

- Sim senhor. - se prontifica.

Desço na hora combinada. - Boa tarde senhor, como foi seu dia?

- Bom, na medida do possível. - respondo sem muito animo.

- Para onde o senhor deseja ir?

- D'angeles e Tarragón.

- Sim senhor, a proposito, acho que não lhe desejei felicitações hoje.

- Obrigado Tomas.

- Vai haver alguma comemoração este ano?

- Não, apenas o de sempre, jantar com Rafaella. Felizmente, há alguns anos elas desistiram de fazer as tais festas surpresas. - suspiro aliviado.

- As pessoas geralmente gostam de seus aniversários, de ganhar presentes. - responde-me rindo, acho que debochando de mim.

- Tenho meus motivos para não gostar, é um dia que me lembro do meu pai, ele sempre me levava para pescar no meu aniversario e no barco me entregava o presente. Agora não tem mais graça alguma e fora o fato de que depois dos 20 a gente não conta mais a idade.

- O senhor ainda é muito jovem, tenho certeza que um dia terá motivos para comemorar.

- Quem sabe... - a frase dele me fez pensar o resto do trajeto, será que um dia conseguirei comemorar algo que não seja vinculado ao trabalho?!!

- Chegamos senhor. - avisa Tomas, trazendo-me de volta a realidade, dou uma olhada para fora, a tarde está caindo, os funcionários saem apressados da empresa, provavelmente cansados e aflitos por descanso.

- Vamos aguardar, ela já deve estar vindo. - volto a minha atenção para a frente, observando o magnifico por do sol através do para-brisa. Repasso na memoria os compromissos de amanhã, terei que levantar cedo, tenho reunião marcada a 8:00 e não gosto de me atrasar, na verdade, não tolero atrasos.

Levo um pequeno susto ao escutar a porta do passageiro se abrir e meu corpo todo se alerta. Uma moça adentra ao carro abruptamente, solta alguns projetos sobre seu colo e fecha a porta com força. Meu cérebro demora alguns segundos para processar a imagem e deduzir que não é Rafaella, fico perdido e percebo a cara de espanto de Tomas, que também não entende a situação.

A jovem parece distraída, não sei se lhe pergunto o que quer ou se peço para sair, na verdade nem um de nós fala nada, ficamos parados olhando a jovem estranha sentada ao meu lado. Sua mão pequena e delicada está repousada sob o assento, como um impulso, cubro-a com a minha, sua mão é fria e, o contato do quente com o frio me faz sentir uma sensação estranha, boa, eu acho. O toque faz a jovem me olhar, seus olhos são azuis como o mar, há doçura neles e de algum modo me hipnotizam, seus cabelos mais escuros, uma junção interessantes de traços e cores que me deixam perdido. Ela puxa a mão com certa rapidez, parece assustada, começa a pronunciar algo que não posso entender ao certo, não sei se ela está falando rápido demais ou é outro idioma, mas ela fica uma graça assim, sorrio tentando acalmar a moça, noto suas maças ficarem mais rosadas, me dando algum tipo de tesão.

Sempre AnnaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora