capítulo 5:

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AS TIRAS ROXAS

— PARA O HOMEM que ama a arte por amor à arte, - observou Sherlock

Holmes, jogando de lado o caderno de anúncios do Daily é muitas vezes em sua

manifestações menos importantes e mais humildes que encontra o maior prazer.

Fico contente de notar, Watson, que você

compreendeu isso tão bem que nessas narrativas de nossos casos que você teve a

bondade de redigir e, devo acrescentar, algumas vezes embelezar, tem dado

destaques não tanto às muitas causes e julgamentos sensacionais em que tomei

parte e sim àqueles incidentes que podem ter sido triviais em si mesmos, mas que

davam ensejo às faculdades de dedução e síntese lógica que Mo minha

especialidade.

— No entanto — respondi, sorrindo — não consigo ser completamente absolvido

da acusação de sensacionalismo imputada a meus relatos.

— Errou, talvez, — comentou, pegando uma brasa com a tenaz e acendendo o

longo cachimbo de cerejeira que substituía o de barro quando estava em estado

de espírito discursivo e não meditativo — errou, talvez, em tentar dar vida e cor a

cada uma de suas declarações, em vez de se limitar à tarefa de registrar o

raciocínio rígido de causa e efeito, que é realmente o único aspecto notável de

tudo isso.

— Parece-me que lhe tenho sempre feito justiça nisso —

disse com alguma ftieza, pois me sentia repelido pelo egoísmo que mais de uma

vez observara como sendo um fator importante no caráter de meu amigo.

— Não, não é egoísmo, nem vaidade — disse, respondendo, como era seu

costume, meus pensamentos e não minhas palavras. — Se exijo justiça para com

minha arte, é porque é uma coisa impessoal, uma coisa fora de mim mesmo. O

crime é comum. A lógica é rara. Portanto, deve enfatizar a lógica e não o crime.

Você rebaixou o que deveria ser uma série de conferências para uma série de

contos. Era uma manhã fria no início da primavera e estávamos sentados, após o

café da manhã, em frente de um fogo crepitante na lareira da velha sala na Rua

Baker. Uma neblina espessa se enrolava entre as casas pardas e as janelas em

frente emergiam como manchas escuras e informes das grinaldas amarelas e

pesadas. A lâmpada. estava acesa e refletia na toalha branca, reluzindo na

porcelana e nos metais, pois a mesa ainda estava posta. Sherlock Holmes estivera

muito quieto a manhã toda, lendo os anúncios de todos os jornais, até que afinal,

desistindo aparentemente da busca, emergira como muito bom humor para me

fazer uma preleção sobre minhas falhas literárias.

— Ao mesmo tempo, — comentou, após uma pausa na qual ficou puxando por

as aventuras de sherlock holmesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora