16° - Faz frio aqui fora

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Pérola o encarou por um tempo, parado ali ele parecia uma espécie de monumento, seus cabelos recebiam o brilho da lua tal como uma tela branca recebe tinta, os deixando com um brilho peculiar; Ela virou - se novamente para a frente, apoiando suas mãos finas nos joelhos, fechou os olhos e se permitiu sentir o vento frio bater contra o rosto. Não queria que ele estivesse ali. Não queria que mais ninguém estivesse ali. Queria se manter distante e conversar como se alguém a estivesse escutando mas não queria que alguém realmente a estivesse escutando... Certas palavras devem ser ditas mas nunca escutadas.

- O céu está magnífico hoje, não? - Indagou ele, andando em passos mansos até o banco na qual a garota se encontrava. - Pena que alguém está chorando.

Connor parou a sua frente e retirou as mãos dos bolsos, ela deu um sorriso amarelo e estirou o braço para frente, o pequeno esquilo desceu rapidamente e desapareceu na escuridão.

- Dia ruim?

- Talvez...

- Dias ruins passam, não? - Ele sorriu compreensivo e sentou ao seu lado, colocando as mãos aos lado das próprias pernas, sobre o banco.

- E dias bons vem, é isso? - Indagou, o encarando de forma sarcástica. O vento soprou mais forte, fazendo seus fios balançarem um pouco para os lados.

- Nem sempre. - Deu de ombro, ainda com o sorriso presente em seu rosto.

- Prefiro acreditar que dias melhores chegam. As vezes demoram mas eles vêm. - Ela voltou a olhar para a frente, encarando as próprias mãos. Sempre se achou branca demais e isso a incomodava um pouco já que qualquer machucado ficava exageradamente visível. Pérola odiava quando Brendon a chamava de branca de neve mas essa era ela e ela se amava assim, branca como neve apesar de achar peles negras ou cor de café mais bonitas.

- Otimista?

- Realista.

- Esse é o espírito.

- Veio apreciar a vista?

- Não exatamente. Só não tinha nada para fazer.

Ela concordou com a cabeça, devia estar com o rosto totalmente manchado por conta da maquiagem borrada e só agora havia se tocado disso. Passou os dedos ao redor dos olhos e da bochecha, tentando limpar os estragos até que desistiu. Pouco importava afinal.

- Por que está triste?

- Nada demais.

- Claro, você é bem do tipo que chora por "nadas". Tipo quando seu sorvete caí no chão.

Pérola o encarou, falando daquele jeito como se a conhecesse e acabou por dar um breve sorriso, achando seu comentário divertido. Connor sabia ser uma boa companhia.

- Quer falar sobre?

Ela o encarou por um tempo. Sua pele era tão pálida quanto a sua, seus olhos quase no mesmo tom de azul, o cabelo no mesmo tom de preto, porém, os olhos dele eram grandes e brilhantes, diferentes dos seus que sempre foram pequenos e arredondados. Mas o mais chamativo era o sorriso... Connor tinha o tipo de sorriso que quando aparecia era difícil não olhar.

- Eu me sinto indiferente em relação a muita coisa. - Pérola abraçou os próprios braços, seu tom de voz soou entristecido, quase melancólico.

- Indiferente como?

- As minhas idéias não batem com a de ninguém que conheço. A dona Madore diz que isso é bom, que eu sou espontânea e que faço as minhas próprias filosofias. Gosto de ter o meu próprio jeito de pensar mas é ruim não ter ninguém com quem dividir as ideias, os pensamentos, sabe? - O encarou, esperando por um "Não, não sei" mas algo lhe dizia que ele se sentia exatamente da mesma forma. Connor sorriu e balançou a cabeça suavemente, em afirmativa.

- Onde eu moro, pensar diferente é como assinar a própria sentença de morte.

- Eu acho que as pessoas deviam ao menos tentar entender o pensamento e as idéias uma das outras. O mundo seria um lugar melhor se todos fossem ouvidos.

- Eu também acho. Suas idéias parecem boas, as pessoas são tolas por não ouvi - las.

- Eu sei. Eu só queria que as pessoas vissem além das suas visões periféricas, sabe? Eu queria que elas vissem o mundo pelos pequenos detalhes que sempre passam despercebido, que elas fosse além do que os seus pés podem tocar, além do que seus olhos podem ver mas para elas sair da própria zona de conforto é loucura.

- Minha mãe costuma dizer que pessoas tem um olhar diferentes em relação a tudo e que algumas, tem a incrível habilidade de ver o melhor nos piores lugares, como se elas reformulassem o caos.

- Sua mãe parece uma pessoa legal.

Ele deu um sorriso nostálgico, desviando o olhar.

- Ela era.

- Era? Ela faleceu? - Pérola sentiu um nó na garganta, sabia como era perder coisas que ama.

- Não exatamente. Ela desapareceu faz um tempo...

- Sinto muito, espero que a encontrem.

Ele concordou com a cabeça.

- Quer jogar pedrinhas no lago?

Pérola concordou e ficou de pé, ajeitou as mangas do casaco e começou a catar pedrinhas pelo chão enquanto se equilibrava nos patins. O frio só ficava maior, o que a fez agarrar na manga do casaco e esticá - lo mais, podia voltar pra casa e tomar um chocolate quente mas não queria falar com a família. Não naquele momento. E pela primeira vez, tinha alguém disposto a ouvir seus pensamentos "malucos" e não estava disposta a jogar tal oportunidade fora afinal não sabia quando o garoto iria embora da cidade ou se iria ter a mesma disposição para ouvi - la outra vez.

NOTA DA AUTORA [26/12/19]:

Oi meus amores, como vão? Passaram o natal bem? Espero que sim e a quem não, que dias melhores venham SZ

Postei uma história de terror chamada Amaldiçoados, ficaria imensamente feliz se vocês dessem uma lida. Por hoje é isso, beijinho!!

GUARDIÃ DO OLIMPO [01]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora