- Melhor eu subir. – Quando passei por ele, segurou minha mão.

- Posso te pedir uma ultima coisa?

- Peça... Mas não precisa ser a ultima. Podemos ser bons amigos pela vida.

- Dança para mim essa noite. – Foi um pedido feito de coração e eu responderia com todo meu coração.

- Dançarei.

Subi sem dizer mais nada. Mais seu simples toque havia deixado seu perfume em todo meu corpo. Mais uma vez me questionei... Estaria eu virando as costas a minha felicidade?

Fui com essa pergunta martelando minha cabeça o tempo todo em que me aprontava. Minha mãe dizia que a felicidade só batia uma vez a nossa porta. Quantas o Davi me aprontou. Bastava acontecer algo durante o tempo em que estávamos juntos para que ele me lembrasse:

- Luana... Não se iluda, não posso lhe oferecer o que vocês mulheres desejam. Assim que a mulher assinar o bendito documento eu desfaço nosso negócio, você fica com sua parte como prometido... Vinte mil reais. Como fui idiota. Vinte mil reais? Eu valia muito mais que isso. Em nenhum momento o Santinni se referiu a valores comigo. Ele sabia que eu vinha da prostituição embora agora trabalhasse como stripper, e mesmo sabendo que meu casamento era uma furada, ele me teve como uma mulher perfeita.

Uma lágrima correu pelo meu rosto. Quanta dor eu senti por estar me sentindo tão dividida nesse momento. Não era justo comigo. Não era justo com o Davi e nem com o Santinni. Mas só por uma vez eu seria egoísta ao ponto de pensar exclusivamente em mim.

Quando os primeiros acordes da canção que escolhi para aquela noite, que ainda não havia sido marcada como minha despedida, mas ao que tudo parecia seria, foi uma música romântica.

Ela falava de uma solidão de duas almas que andavam pelo mundo vagando sem destino certo. Ambas já haviam se cruzado e perdidas em suas próprias dores deixaram de se perceber.

Eu comecei a dançar, e um silencio só quebrado pelo doce som da voz do homem rouco solfejava cada palavra da letra em perfeita harmônica com os acordes que tomava conta do lugar. Foi como se as luzes se apagassem e naquele momento só aquela imagem do homem de preto, solitário apareceu. Nossos olhos se cruzaram e eu me entreguei àquela dança sensual e totalmente dele.

Por um instante eu me esquecia de quem eu era, e quem era ele. Nossos olhos se encontraram e dançamos por alguns segundos, lamentando o tarde cruzar de nossos caminhos.

Fugi de seu olhar... Não eu não podia me entregar a ele assim daquela maneira e acabei me encontrando com... Sim e não. Ele não podia estar aqui. Não devia. Não neste lugar.

Dancei no pequeno palco observando e sendo observada pelos dois homens que me desejava naquele momento e por mais que aquilo fosse atrativo eu me senti, mal. Era como se eu estivesse sido pega em traição. Mas, ele mesmo disse que eram só negócios.

Quando os acordes foram ficando fracos, assim como minhas forças eu senti duas mãos poderosas me arrancarem de cima do palco. E me afastarem para longe da penumbra.

- Me solta o que pensa que está fazendo? – Me debati em suas costas.

- Você também não sabe o que está fazendo. Está excitando um bando de homens a te agarrarem e a sei lá o que eles podem fazer com você.

- Davi como conseguiu entrar aqui? - Me desceu próximo a uma arvore no jardim.

- Não interessa. O que interessa é que você vai pegar suas coisas seja lá onde for e vai sair comigo agora.

- E se eu disser que não irei? – Cruzei os braços escondendo meus seios.

- Isso mesmo. Esconda-se de mim. Como não tem vergonha de se esconder no meio de toda aquela multidão? – Ele mostrou em direção a casa.

Marcas da AlmaWhere stories live. Discover now