— Eu quem agradeço, senhora! Bom dia para vocês também! — falou com um sorriso. — Até mais, garotão!

O menino pareceu não ouvir, pois estava entretido, tentando alcançar as alças das sacolas plásticas. Jenna seguiu para o estacionamento, ao chegar no carro, abriu o porta-malas e depositou nele as compras que tinha acabado de fazer.

— Vamos para a cadeirinha, meu amor! — disse tirando o menino do carrinho e colocando-o dentro do seu carro, ajustando os cintos da sua cadeirinha. — Tome, querido! — falou entregando para Vincent um pequeno cubo de brinquedo, em que se via cores variadas, que imediatamente ganhou a atenção do menino.

— Vamos para casa, vou preparar aquela sopa que você adora — disse enquanto fechava o próprio cinto de segurança, ligando o carro em seguida.

Jenna foi em direção de sua casa, a umas oito quadras do pequeno mercado que frequentava, já estava na metade do caminho, quando algo inesperado aconteceu, ao passar o cruzamento, cujo sinal estava aberto para ela, o motorista da van se precipitou na passagem, mesmo tentando frear, atingiu a lateral do seu carro, empurrando-o por mais de um metro.

O impacto assustou-a, pois nem sequer o viu acontecer, simplesmente ouviu o estrondo quando a van já estava sobre o carro dela.

Jenna tremia, enquanto soltava o seu cinto e tentava acalmar o filho, que chorava desesperado e assustado. Assim que conseguiu sair, abriu a porta de trás e tirou seu filho de dentro do veículo, abraçando-o preocupada, ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam de seus olhos, lembrando que seu marido morrera em um acidente daqueles, por bobeira e no meio da cidade, tal lembrança pareceu sufocá-la.

Logo, o susto deu espaço para sua raiva, por ser vítima de um motorista estúpido e inconsequente, o sentimento aumentou quando olhou na direção da van e viu um rapaz falando no celular. Com a criança no colo, foi na sua direção, batendo na porta da van, mandando-o abrir.

— Abra, seu idiota, irresponsável! — gritou, enquanto o rapaz, nitidamente assustado, fez gestos indicando que ia abrir a porta.

— S-senhora, eu sinto... — gaguejou o rapaz.

— Você quer nos matar? — esbravejou ela com o menino mais calmo em seus braços.

— Não, não foi a intenção! — respondeu o motorista.

— Olha o que você fez no meu carro! E quase matou a mim e meu bebê... — Apontou Jenna, histérica.

— Me desculpe, por favor, me desculpe! — disse ele, nervoso.

— Te desculpar? Tenta nos matar enquanto fala no celular e ainda tem coragem de pedir para te desculpar? Você é retardado, por acaso?

— Senhora... e-eu sinto muito, eu me descuidei, não vi o sinal fechar... — começou a explicar.

— Claro, é cego ainda por cima!

— Senhora, vocês estão bem? — indagou um policial se aproximando.

— Sim, mas esse babaca tentou nos matar! — respondeu apontando para o motorista.

— Sinto muito, policial! Juro que não foi minha intenção!

— Quero ver seus documentos. O que aconteceu, rapaz? — questionou outro policial.

— Bem, eu faço entregas de flores... — respondeu tirando a carteira do bolso e procurando pelos seus documentos, entregando-os logo.

— Nem imaginava! — falou o policial com ironia, olhando para a van personalizada, em que se via flores desenhadas, além do impacto que fez as portas traseiras se abrirem, arremessando para fora alguns buquês e arranjos florais, que se espatifaram, mesclando botões e pétalas de rosas, com orquídeas, margaridas e outras flores, formando um tapete florido no chão.

— Eu tava confirmando o endereço para a próxima entrega, não vi o sinal fechar e então... foi tão rápido!

Jenna parecia cega, tamanha sua indignação e raiva, pareceu não perceber que alguns veículos pararam devido o acontecido e que alguns curiosos se aproximavam. Também não tinha visto a viatura chegar.

— Esse idiota deve ter comprado a carteira! — falou alto. — Vou te processar por esse "descuido"! E processar essa floricultura, que contratou um aprendiz de motorista, um "moleque" para trabalhar! — Olhou para o rapaz.

— Não, por favor! Senhora, lamento o que aconteceu, mas podemos resolver tudo aqui, sem mais delongas — disse uma voz masculina.

Jenna e os dois policiais se viraram para o homem que pronunciou essas palavras. Ele era alto e usava um terno escuro, cabelos castanhos com corte militar, pele branca e porte atlético, cujos olhos verdes atraíam toda atenção. Apesar da seriedade com a qual falava, mostrava-se calmo e sustentava um sorriso simpático para os presentes.

— Quem é o senhor? — perguntou um dos policiais.

— Desculpem-me por chegar assim, vim apressado, assim que esse... garoto me ligou contando o ocorrido. — Apontou para o motorista. — Sou Richard Wilson, proprietário da floricultura e da van! — falou entregando seu documento para o policial.

— Você é quem vai se responsabilizar por esse irresponsável!? — indagou Jenna, mais calma.

— Sim, senhora...?

— Hughes, Jenna Hughes!

— Muito prazer, senhora Jenna, realmente lamento o que aconteceu e o que você e seu filho passaram. Garanto que vou tomar providências! Quanto ao prejuízo com seu carro, não vou fugir da responsabilidade! Peço que não nos processe, foi um terrível acidente, não temos porque nos desgastar ainda mais por isso! — falou com sinceridade.

— Ok, tudo bem — respondeu Jenna.

— Se estão entendidos, troquem logo as informações necessárias e sigam seus caminhos! — ordenou o policial, após registrar o ocorrido e devolver os documentos do rapaz e de Richard, retornando para a viatura seguido por seu parceiro.

Jenna foi até seu carro com Vincent a tiracolo, pegou sua bolsa e dela retirou um cartão com seu telefone, retornando até Richard, que naquele momento, segurava um botão de rosa que apanhara do chão.

— Aqui está! — falou estendendo-lhe o cartão, ao que ele pegou imediatamente, pondo-o no bolso do paletó, em seguida, ofereceu-lhe também seu cartão, que Jenna apanhou.

— Olhe, para você! — falou ele estendendo-lhe o botão de rosas, o que Vincent tentou apanhar, mas ela se afastou, impedindo-o.

— Sério? Está me oferecendo uma flor depois de tudo isso que aconteceu? — questionou indignada.

— Sinceramente, te ofereceria um buquê, mas como pode ver... — falou apontando para as flores espatifadas no chão.

— Meu Deus, precisamos sair daqui, pois isso pode ser contagioso! — declarou irritada e virando-se, indo na direção do seu carro.

— Senhora, assim que eu resolver tudo com o seguro, te ligo! — Richard falou alto, ainda com a flor nas mãos, vendo ela se afastar.

Jenna não respondeu, abriu a porta do carro ignorando a lataria amassada, pôs o seu filho na cadeirinha, entrou em seguida e saiu acelerando.

Aquela manhã fora estressante demais, Jenna sabia que os próximos dias também seriam, já que teria que falar com aquele homem, pelo menos até que ele arcasse com todos os prejuízos que lhe eram devidos.

O Ceifador de Anjos: Antes da ColeçãoWhere stories live. Discover now