Capítulo 01

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Prólogo

Final do século XIV

    Naquela noite eu estava na praia olhando as estrelas, existiam coisas que eu não compreendia. O cigarro era meu melhor amigo, enquanto pensava e tentava desvendar o que se passava na cabeça dos adultos. Meu pai me daria uma surra se me visse com aquele cigarro na boca. Ele dizia que não estava criando um filho pra ser um viciado, seja no que for.

    O que ele não entendia é que eu já completara quinze anos, e poderia cuidar da minha própria vida. Ao menos era assim que eu pensava. Morávamos num vilarejo chamado Goa, nossa língua nativa era o Concani, mesmo eu sendo indiano, meu pai me obrigou a aprender o italiano, sua língua de origem, eu odiava a Itália com todas as minhas forças. Tudo por conta do meu avô, o velho Sartori, aquele filho da mãe nos expulsou de sua vida, como se fossemos cães sarnentos, simplesmente por não aceitar a etnia da minha mãe, por não aceitar que seu filho se casasse com uma mulher sem recursos, aquilo era ridículo, mas meu avô só pensava em unir fortunas, os casamentos eram arranjados, e um casal unido por amor era mesmo uma coisa rara de se ver.

    Mas o mundo deu voltas e meu tio Lorenzo está implorando a meu pai, que volte à Itália, o velho está nas ultimas e se arrepende de ter nos virado as costas, na minha concepção acho que é tarde demais. Meu pai com seu coração de ouro e minha mãe com sua sensibilidade acharam que estava na hora de perdoar, mas aquela ideia não fazia parte dos meus planos.

    Mas como minha opinião não vale de nada aqui estamos, no fim do mundo, me odeio por ter sangue italiano. Meu avô aparentava uns cem anos. Está frágil e debilitado, chorou quando viu meu pai, que não via há dezesseis anos. Minha mãe e eu ficamos dois passos atrás enquanto os dois se abraçavam. Minha mãe estava aparentemente nervosa, torcia os dedos das mãos.

    O velho estendeu as mãos e ela andou a passos curtos até ele, segurou sua mão e ele implorou perdão, uma lágrima correu em seu rosto e minha mãe balançou a cabeça claramente abalada, mas aceitando sua oferta de paz.

    Eu não me movi, continuava olhando aquela cena que não me comovia nada, meus braços estavam cruzados sobre o peito.

- Amom – não me movi

- Filho? - meu pai me fisgou com o olhar

    Aproximei-me e abracei meu avô, mas não havia perdoado de coração, não havia sentimento naquele abraço. Fomos recebidos com muita comida e música, como eram as recepções na nossa terra, meu avô faria de tudo pra recuperar o tempo perdido. Meu pai estava feliz e aquilo era o suficiente pra mim.

    Passamos uma semana na Itália, os dias pareciam longos demais, não via a hora de voltar pra minha casa, onde era o nosso lugar. Fora o modo como meu avô forçava a situação querendo me fazer gostar dele, havia outra coisa que estava me incomodando, meu tio olhava para minha mãe de um modo diferente, e aquilo estava me tirando o sossego. Meu pai achava que era coisa da minha cabeça, mas tinha certeza de que não era. Se tivesse segundas intenções eu iria descobrir.

    Numa noite estrelada, eu estava deitado na varanda observando o céu e fumando um cigarro, teria que fazer isso longe do meu pai se quisesse chegar aos 20 anos. Foi quando ouvi vozes, me espreitei no muro e o vi. Meu tio segurava o braço da minha mãe, tentando beija-la, ela tentava empurra-lo, mas ele era forte demais, eu com minha valentia de adolescente pulei em suas costas tentando afasta-lo, ela se desvencilhou e conseguiu correr. Meu tio me acertou um soco no estômago, eu sabia que teríamos que ir embora antes que a tragédia se anunciasse.

    Ele pegou no meu pescoço me tirando do chão, eu era um moleque franzino, mas tinha coragem. Sua mãe é uma mulher muito bonita ele falou, eu fiquei com nojo e cuspi na sua cara.

Vampiro CEO - O despertar de um coração adormecido (Livro 2) ***Degustação***Onde as histórias ganham vida. Descobre agora