Capitulo 4 - Aurélio

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Não gosto de números pares, em especial o quatro que é o numero do azar. Não há uma razão para meu desgosto por esse numero, primeiramente por que não sou nem um pouco supersticioso e depois, numerologia não tem nenhum fator muito lógico... Se bem que o amor também não, mas não era bem isso que queria contar.

Falei do numero quatro, por que era quarta feira, dia quatro de abril, era o dobro de azar para um dia. Se as superstições fossem reais, eu deveria tomar cuidado. Também fazia quatro dias que tinha terminado... Retificando, que Manu terminou comigo.

Certo, não acredito em má sorte! Mas naquele dia o numero quatro estava me perseguindo. Acordei quatro minutos atrasado e por incrível que pareça perdi o ônibus para ir trabalhar por conta desses quatro minutos.

Chegando ao trabalho notei uma coisa que nunca fiz tanta questão: trabalhava no quarto andar e na sala quatro! Acho digno um joão-ninguém como eu viver cercado pelo numero do azar! Podia não ser uma explicação lógica, mas era algo bem convincente. O mais formidável era que, pela lei da física ou não, eu trabalhava entre quatro paredes.

De certa forma, sei que lendo isso, muitas pessoas me acharão paranoico. Não tenho nenhuma fobia pelo numero, só que passei a analisar minha vida pelo azar que tive em determinados dias e ainda que a lógica não explique, eu era muito azarado. Não somente pelo numero quatro estar presente em boa parte da minha vida, mas por que às vezes tinha a impressão de estar no lugar e na hora errada quase sempre.

Acordei com dor de cabeça, isso já estava se tornando algo comum, afinal eu não conseguia dormir direito. Alias, passei a não dormir direito! Levar um fora, ou como diz o termo popular "tomar um pé na bunda", com certeza afeta o metabolismo, já que não sentimos vontade de comer, e ao invés dos glúteos, a primeira coisa que começa a doer é a cabeça.

São tantas horas se sentindo o pior inútil e impotente da terra que quando você percebe, passou muito tempo da hora de você dormir. Assim, eu basicamente liguei meu modo zumbi aquela semana inteira.

Meus colegas de trabalho nem notaram meus dias ruins, não que me importasse, mas nessas horas a gente até sente falta de alguém olhando profundamente nos seus olhos e dizendo: "Bom dia... É... Como se chama mesmo?!". Ao menos minha existência pouco notável cuspida na minha cara me ajudaria a se sentir melhor.

Vou ser mais claro, o triste de amar alguém é se sentir tão especiais para quem amamos, mas quando essa pessoa nos manda de volta a realidade achamos que não conseguiremos encontrar uma utilidade em nossas vidas. Isso é que nos resta quando espelhamos nossa felicidade na vida de outra pessoa, e é impossível assumir que se ama alguém quando você não pensa primeiro na felicidade de outrem.

Sempre achei que o amor se localizasse num plano cósmico, ou talvez em outra dimensão, por que é incrível o poder que ele tem de nos tirar da realidade. Parece que todo o período em que o amor está em nossas vidas é uma espécie de transe... Enquanto namorava Manú, pensava no futuro, numa família que teríamos... Enfim, eu conseguia enxergar o progresso de minha vida. De repente, ela termina comigo. Pareceu que acordei de um sonho, que estava em outra dimensão sonhando com algo que nunca foi real. Estava exatamente onde a minha vida parou antes do conhecê-la.

Durante aquela semana, preservei essa concepção e desejei que Manu nem existisse no mundo real.

Infelizmente a realidade quase nunca é aquilo que esperamos.

♥♥♥♥♥

Tentava me concentrar o máximo possível nos caracteres que digitava enquanto programava um banco de dados. Não sei como me explicar, mas nossa vida parece tão mecânica quando não enxergamos sentido nela... Uma verdadeira ressaca de amor, eu diria.

Será que era... Amor?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora