Proibido (Capítulos Atualizados)

03. Viagem De Negócios

— Sinceridade definitivamente é um dos seus pontos fortes. — Arthur respondeu, se juntando à mesa. — O que você tanto faz nesse notebook?

— Preparando minha apresentação para a vaga de assistente no escritório de criação da Leona Lobo.

— Leona Lobo?

— Exatamente. A irmã do seu chefinho gostoso. Também conhecida como a Deusa da moda, a Beyoncé da alta costura. A próxima Anna Wintour.

— Parece que nós dois temos uma sina com essa família, Samuca.

— Eu tenho uma sina com a moda, Arthurzito. Leona Lobo é apenas meu passaporte. Quem tem uma sina com a família Lobo é você, que conquistou a atenção de pai e filho. Você é o novo Edu, de Laços de Família, transitando entre pai e filho e gerando discórdia na família. Mas em vez de passear pelas ruas do Leblon ao som de Tom Jobim, você passeia pela Paulista, ao som das buzinas do trânsito. 

— Ainda bem que você vai seguir a carreira na moda, porque se dependesse do seu humor duvidoso, estaríamos ferrados.

— Não dá pra ser perfeito em tudo. — Samuel deu de ombros, fazendo Arthur sorrir.

— Que dia vai ser a apresentação?

— Amanhã. Estou com quase tudo pronto, o que me dá uma certa vantagem para pensar em qual roupa eu vou para impressione minha futura chefe.

— Bom, e eu tenho que ir, esse inferno de trânsito já é horrível em dias normais, quem dirá nessa chuva. Boa sorte no seu projeto. — Disse Arthur, um tanto avoado, pegando uma maçã e se levantando ao perceber que estava quase atrasado.

— Eu não preciso de sorte, eu tenho talento. Mas obrigado mesmo assim, Arthurzito. Você é quem vai precisar de sorte com dois Lobos na sua cola.

Arthur fez uma cara do tipo "vá se foder" para Samuel, que sorriu de volta.

O ar frio fez Arthur estremecer ao sair pela porta do prédio. A chuva de antes havia se transformado em uma garoa quase imperceptível, mas a temperatura havia caído no mínimo uns cinco graus desde que o dia amanheceu. Suas bochechas estavam avermelhadas pelo frio e, conforme se aproximava do ponto de ônibus, precisou abrigar suas mãos dentro dos bolsos para que elas pudessem ficar quentes novamente. Dentro do ônibus, o calor humano ajudou a dissipar a sensação incômoda que a temperatura lá fora causava em seu corpo. No metrô, se encostou na parede do fundo do vagão e decidiu terminar a leitura de um dos inúmeros livros sobre economia que havia pretendido concluir antes de se formar. E mesmo que houvesse falhado no timing, queria estar afiado para qualquer desafio que seu cargo no Grupo Empresarial Lobo pudesse jogar em seu caminho.

Arthur chegou na empresa com alguns minutos de vantagem. Ao passar pela porta giratória, passou a mão nos cabelos molhados por causa da garoa. Cumprimentou as recepcionistas com um aceno de cabeça e um sorriso, mesmo que elas nunca cumprimentassem de volta. Entrou no elevador, que pelo milagre de sua pontualidade britânica, estava vazio. Quando as portas se deslizaram para fechar, no entanto , uma mão interveio, abrindo passagem para se juntar a Arthur. Era Ricardo Lobo, com seus olhos intensos e sorriso de surpresa ao ver Arthur.

— Bom dia, Arthur.

— Bom dia, Sr. Lobo.  — Arthur disse, sem deixar de imaginar o rosto animalesco de um lobo em sua forma literal, toda vez que ele pronunciava o sobrenome. Era uma piada interna que ele levaria a sete chaves para o resto da vida (ou enquanto trabalhasse ali).

— Não há necessidade dessa formalidade toda. Pra você, é Ricardo.

— Tudo bem. Desculpa, Sr. Lob... Ricardo. — Arthur disse, arrancando um sorriso sincero de Ricardo, enquanto tentava segurar o seu de vir à tona.