Em boca fechada não entra racismo

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Está comprovado: a linguagem é líquida. Com os avanços nas comunicações e analisando nosso cotidiano, podemos constatar que ela muda incessantemente, apesar de muita gente abominar tal fato. O maior problema é que, nessas variações, alguns termos acabam se consolidando.
São expressões muito simples, aparentemente inofensivas e sem ambiguidade, mas que carregam em si um enorme peso histórico e cultural, envolvendo racismo e preconceito. Há inúmeras formas sutis de demonstrar intolerância, formas estas que talvez passem despercebidas, uma vez que somos educados para neutralizar o racismo que nos é imposto. Pensando nisso, seria interessante mostrar palavras e termos que ainda são aceitos e amplamente utilizados, mas que sustentam  o preconceito étnico.

DENEGRIR
Atualmente é vista como sinônimo de difamação, porém seu real significado é "tornar negro". Se a palavra exprime noção de humilhação, fica evidente o tom de racismo.

'NÃO SOU TUAS NEGA'
Esse termo tem uma grande bagagem histórica e está diretamente ligado à escravidão, quando negras eram propriedade de seus senhores de engenho. Também está subentendido que a mulher negra é apenas um objeto sexual, sendo este seu principal papel na sociedade.

JUDIAR
O significado atribuído à palavra pode ser interpretado como "fazer sofrer", no entanto seu real conteúdo é pejorativo, uma vez que faz referência ao sofrimento dos judeus. Sua interpretação real é sinônimo de "maltratados como os judeus". Portanto, o verbo carrega consigo preconceito e discriminação.

GORDICE
Segundo o dicionário informal: "gordice é o 'ato do gordo', para fazer gordice, não é necessário ser gordo de fato, apenas pensar como um, agir com ansiedade, gula, ser repetitivo... e outras formas de se comportar de forma escrota e incômoda."
Esse termo é normalmente utilizado em relação à comida por pessoas magras, que dizem fazer 'gordices' porque comeram miojo no almoço em vez de hortaliças. Apenas pelo significado atribuído podemos perceber a problemática do termo, que desumaniza e impõe características desagradáveis e constrangedoras a um ser humano comum.

LÁPIS COR DE PELE
Todos nós já nos deparamos com um lápis cor de "pele". Algo entre o rosa, bege e salmão, que é denominado pela Faber-Castell como pele. Pele de quem? Pele branca, logicamente. O problema é que não existe só a pele rosada, há variações de tons de pele. Onde a pele negra se encaixa nisso?

"ELA É UMA NEGRA LINDA", "MESMO SENDO GORDA, É LINDA"
Dizer isso é reforçar que não é normal uma gorda/negra ser bonita. Se uma mulher é negra e gorda, significa que ela é negra e gorda, não feia. A beleza não pode ser limitada simplesmente a magras e brancas com traços europeus.

"MORENA", "MULATA"
Muitas vezes é usado como eufemismo para designar negros. Por conta da miscigenação, essas palavras ganharam espaço em nosso vocabulário cotidiano, e empregamos de forma a embranquecer o negro. Há uma certa dificuldade e incômodo em dizer que alguém é negro, talvez porque essa palavra também é utilizada como ofensa. Da mesma forma, clarear  uma pessoa transformando-a em morena ou mulata configura racismo.

CARA DE FAVELADA/POBRE
O que define uma pessoa com "cara de favelada"? Dizendo isso, você reforça a ideia de que pobres são sujos, obscenos. Mas, pasmem, as camadas mais baixas da sociedade se preocupam com higiene e cuidados básicos tanto quanto a burguesia. O que diferencia os dois é o poder aquisitivo e acesso à renda. Guarda seu elitismo pra você.

CABELO RUIM
A estética negra é totalmente desvalorizada em nossa sociedade com padrões eurocêntricos, sociedade esta que menospreza qualquer manifestação afrodescendente. Não existe nenhum tipo de cabelo ruim, e designar dessa forma cabelos que não são lisos apenas exterioriza o seu racismo.

Precisamos de consciência para que esses termos sejam tidos como ultrapassados e finalmente rejeitados.

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⏰ Last updated: Jan 03, 2017 ⏰

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