1

9.5K 806 521
                                    

AO LONGE, Selene escutava o som do mar. Era um som pacífico; as ondas batiam em grandes rochas, provocando o tênue chiado de espuma branca.

Embora não estivesse de fato dentro dele, ela sentia-se submersa, afundando cada vez mais.

Às vezes, ela pensava que era o próprio mar: calmo, tranquilo, refletindo a luz prata da lua em águas escuras noturnas. No entanto, desta vez o mar era como ela: revolto, com marés tão altas capazes de afundar um império e o transformando em ruínas.

Algo estava rasgando de seu pescoço até o peito, como uma faca em chamas, a água escura adentrando na garganta e enchendo os pulmões. Selene enxergava pouco abaixo da superfície; apenas um suave filete de luz oscilando acima dela, a visão saindo de foco. A dor era intensa demais e ela sentia sua respiração ir para longe.

Selene abriu os olhos, levantando o tronco do corpo tão abruptamente quanto o som horrível que saiu da garganta, como se colocasse a cabeça para fora das águas após uma luta incansável abaixo delas. A respiração agora se tornara ofegante, Selene em busca de oxigênio o suficiente para encher o peito e recuperar a total consciência.

Com a visão voltando ao seu foco habitual, Selene olhou ao seu redor. Ela estava em um lugar completamente diferente do que se recordava. O ambiente silencioso, o todo era de um tom esverdeado e havia ondulações constantes e tranquilas pontilhadas, como se alguém as tivesse desenhado ponto por ponto. Além disso, havia também auras como uma Aurora Boreal no Polo, o verde esmeralda lembrando Selene os olhos de Ethan.

E não havia mais nada além dela.

Selene olhou para si com a testa franzida, formando uma careta. Suas roupas não eram as que havia usado de Edenyn Erd; trajava um vestido leve branco com um tecido azulado colocado na diagonal. Seus pés estavam descalços e limpos, sentindo o chão como vidro sob si. Não havia nenhum vestígio de sangue nas roupas. Levou a mão para o próprio rosto, sentindo uma linha levemente relevada na pele como uma cicatriz, sendo suficiente para que ela lembrasse de tudo.

Ela e Maze haviam fugido de Edenyn Erd para ir à Terra Negra e voltar para casa, deixando para trás a Terra dos Exilados em meio a uma concentração de batalha contra os capitães dos Governantes. Alya havia morrido e forçado ambos para que fugissem e não tentassem lutar. Selene e Maze não conseguiram chegar até Lwyn; foram separados por sombras nas quais chamas negras consumiram o Exorcista.

Maze e Alya estavam mortos.

O coração de Selene acelerou tanto que ela ofegou novamente, a respiração regular dispersando. O lugar em que se encontrava poderia ter sido levada por aquelas sombras? E se o que viu – as chamas consumindo cada entranha possível de Maze – era verdade? Não poderia ser.

Selene começara a suar frio, pondo-se de joelhos, sentindo a horripilante onda de frio e calor sobre a pele enquanto corria os olhos pelos eixos inexistentes daquele local desconhecido. Não havia nada; apenas os arquejos e o som do sangue latejando nos ouvidos. Ela estava sozinha. Alya e Maze foram tirados diante dela. Por tantas as vezes Selene fora incapaz de salva-los, incapaz de impedir com que os malditos que a faziam sofrer não tivessem a chance de machucar com quem ela se importava.

Seus braços rodearam-na, as unhas fincando a pele, trincando os dentes com tamanha força que fez o maxilar pulsar em dor. Outra vez e mais uma tudo estava indo embora. Aquele sentimento cru, vazio e tão afiado quanto uma lâmina gélida atravessou seu coração bambo à uma corda prestes a romper. Ela não estava tendo mais controle sobre esta corda; já fora forte e firme o suficiente, porém todos que já foram embora enfraqueceram-na e deixaram apenas um fio tênue capaz de deixar seu coração cair em um abismo profundo. A dor da perda.

Elementais das Trevas - Os Lordes Celestiais #3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora